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Tiago Mitraud
Um radicalismo que vale a pena: a radical defesa do diálogo
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Minha decisão de ingressar na vida pública, desde o momento em que decidi me candidatar a um cargo eletivo e, principalmente, a partir da minha eleição, me fez conhecer de perto a forma como a sociedade tem se relacionado com a política. Sem dúvida nenhuma, hoje a população está muito mais antenada e participativa, o que pude perceber tanto nas inúmeras agendas que fiz em Minas Gerais e em todo o país para debater política, com a presença de milhares de pessoas ao longo do ano, quanto nas redes sociais, onde assuntos relacionados à política frequentemente dominaram os debates.
Essa mudança é claramente positiva. Afinal, é a vigilância constante da sociedade que impõe limites a quem está no poder. Não queremos mais a inércia que reinou por décadas e permitiu que criminosos se apropriassem da política apenas com o intuito de enriquecimento próprio e perpetuação no poder dos próprios grupos.
Porém, me preocupa a postura adotada por parte da população, que acredito ser apenas uma minoria barulhenta, que extrapola nas reações e leva o debate político para um nível bastante tóxico, que só prejudica esse recente amadurecimento da relação da sociedade com a política.
Não estou falando aqui da simples e tão falada “polarização”. Acredito que a política brasileira de certa forma sempre foi polarizada. Vivemos duas décadas de polarização entre PT e PSDB, mas não víamos o nível de toxicidade atual. E não acredito que polarizar ideias é necessariamente ruim. Muitas vezes só conseguimos ter acesso à amplitude das consequências de determinada decisão se colocarmos na mesa todas as hipóteses possíveis, de um lado a outro.
Portanto, não me preocupa que o debate político atual envolva, talvez como nunca envolveu antes, uma pluralidade de ideias que por muitas vezes são opostas. O que me preocupa é a superficialidade e agressividade que esse debate político muitas vezes tem tomado, o que impede que o confronto de ideias se transforme em algo construtivo e produz justamente o contrário: o afastamento entre quem pensa diferente e um bloqueio a ideias divergentes.
Tiago Mitraud
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