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Pertenço a uma geração que acredita no diálogo, no entendimento, no respeito às opiniões e ao pensamento, às diversidades e aos direitos humanos, num futuro de felicidade individual e coletiva. Sou otimista. O pessimista é um derrotado por antecedência. Tive vitórias e derrotas. Tudo é aprendizado. E quando se aprende, com verdade, resiliência e empatia, deixando de lado as angústias, os medos e as disputas mesquinhas, o coração se torna muito mais do que um órgão que bate para levar sangue ao corpo inteiro, oxigenando a existência. Ele se torna razão e emoção, lados iguais de ângulos diferentes.
Os problemas do nosso país serão resolvidos a partir da alta política e do sentimento de coletividade e brasilidade. Ela não é uma ação de cima para baixo, formada de mentiras, de negligências e de fake news, provida de homens e suas naus salvadoras, muito menos de grupos que só pregam o ódio e a violência. É preciso ir além do horizonte e nos despirmos das máscaras que nos envolvem, tão somente por disputas pelo poder. Observem que isso é a antítese da alta política, é o fracasso da própria classe política, dos seus atores e personagens, dos governos e suas políticas públicas que só beneficiam parte da população.
O Brasil é um imenso caudal de cores e verbos, de luzes e sonoridades das florestas e das cidades. Há homens e mulheres que caminham pelas terras secas do Nordeste; há homens e mulheres que cantam as curvas do Pantanal; há homens e mulheres que pescam a seiva das madrugadas para acordar um novo dia. O povo do litoral abre os braços e joga flores ao mar. Há homens e mulheres que escrevem em suas mãos a geografia laboral; e há homens e mulheres que apostam tudo no abrir caminhos de amor e esperança. É claro que as coisas não são simples e poéticas como essas palavras. A questão é: por que o nosso país não cresce e se desenvolve com dignidade e decência? Por que o nosso país não age com olhos humanos?
Como pode um recém-nascido ou uma criança de poucos anos passar fome? Imagine o desespero de uma mãe e de um pai? Como pode um idoso morrer por falta de atendimento médico? Como é possível existir milhares de pessoas morando nas ruas? Como pode um país não estender a dignidade do trabalho ao seu povo? Presenciamos isso, todos os dias, nas ruas e praças do nosso país, nas favelas e vilas, nos campos desérticos. Pesquisa do IBGE diz que o país possui 13,5 milhões de miseráveis, vivendo com renda mensal inferior a R$ 145,00, segundo critério do Banco Mundial. Temos mais miseráveis do que a soma de todos os habitantes de países como Bolívia, Portugal, Bélgica, Cuba ou Grécia.
Renato Russo chamava a atenção em suas poesias e canções para situações insuportáveis de humilhação a qual o ser humano é levado: “sem trabalho não sou nada, não tenho dignidade, não sinto o meu valor”. Temos hoje 12 milhões de desempregados; 40 milhões na informalidade, sem direitos sociais, previdenciários e trabalhistas. Um a cada quatro brasileiros é pobre: 25% da população ou 52,5 milhões. Em quatro anos, a renda dos 5% mais pobres caiu 39%. Somos um país onde, cada vez mais, poucos têm muito e uma enormidade de gente não tem nada. O Banco Mundial aponta que os 10% mais ricos do Brasil têm quase a metade da renda de todo o país.
Paulo Paim
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