Temas
Compartilhe
Às vésperas de 2024, o mundo é confrontado com um velho fantasma: Donald Trump. Longe de ter se tornado irrelevante após sua derrota eleitoral em 2020, e sua tentativa de subverter o resultado que culminou no infame 6 de janeiro de 2021, ele segue dominando a cena política americana.
Há pouco menos de um ano do pleito, pesquisas eleitorais são pouco preditivas. Dito isso, os mercados de apostas atualmente projetam Trump como grande favorito para ser o candidato republicano (cerca de 75% de probabilidade), e essencialmente empatado com Joe Biden na probabilidade de ser o próximo presidente (ambos com cerca de 40%). (Os democratas seguem ligeiramente favoritos, com cerca de 52% a 48%, indicando que os mercados atribuem uma probabilidade considerável de o partido de Biden acabar tendo outro candidato.)
Os motivos para tal força, a despeito dos múltiplos indiciamentos a que hoje responde, são vários, de fatores estruturais que venho explorando há algum tempo – polarização, o Partido Republicano, o novo ambiente de mídia – ao fato de que Trump precisa se manter em evidência exatamente para adquirir proteção contra seus problemas legais.
Talvez mais importante, contudo, seja considerar quais as possíveis consequências de um eventual segundo governo Trump. Essa pode parecer uma questão relativamente menor; afinal de contas, o mundo já viveu quatro anos disso, o que poderia ser tão diferente? A resposta é: muita coisa.
Comecemos pelo prisma doméstico americano. É importante entender que reeleger Trump não é a mesma coisa que elegê-lo da primeira vez. Primeiro porque, em 2016, sua vitória foi inesperada – inclusive para ele próprio, e certamente para seu partido. Era então possível atribuir o resultado a uma boa dose de acaso, somado à rejeição engendrada pela então rival, Hillary Clinton, em boa parte do eleitorado. Elevá-lo à presidência por uma segunda vez, tendo passado pela experiência, significa um outro patamar de endosso. Seria forçoso reconhecer que Trump não representa uma anomalia, mas sim algo muito mais duradouro.
Filipe Campanteé Bloomberg Distinguished Associate Professor na Johns Hopkins University. Sua pesquisa enfoca temas de economia política, desenvolvimento e questões urbanas e já foi publicada em periódicos acadêmicos como “American Economic Review” e “Quarterly Journal of Economics”. Nascido no Rio, ele é PhD por Harvard, mestre pela PUC-Rio, e bacharel pela UFRJ, todos em economia. Foi professor em Harvard (2007-18) e professor visitante na PUC-Rio (2011-12). Escreve mensalmente às quintas-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
Destaques
Navegue por temas