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Marcelo Coelho

Contra o Coringa, americanos mobilizam o mordomo Alfred

14 de fevereiro de 2024

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Avaliação oficial destampou uma verdade que não é possível mais esconder. Biden está velhíssimo, confuso e lento nas reações

Uma coisa tenho a dizer em favor do presidente Joe Biden. Ele foi acusado de ter problemas de memória porque não se lembrava, por exemplo, em que ano a mãe tinha morrido. Digo que, se me perguntassem, também não saberia responder.

É efeito da velhice, claro, mas não necessariamente de algum comprometimento cerebral. Acontece que, com o passar do tempo, os anos vão ficando parecidos, e para mim não faz muita diferença se algo aconteceu em 2007 ou 2017.

Bom mesmo, nesse aspecto, é quando eu estava na escola. Cada ano correspondia a uma realidade nova, a novos professores, novas matérias e lugares de aprendizado. Era diferente estar na oitava série, com 14 anos, e estar no primeiro ano do ensino médio, com 15. O ano de 1973 foi completamente diverso do de 1974 (o das eleições em que a ditadura perdeu feio, o ano em que de Médici se passou a Geisel).

Claro que não vou sair por aí dizendo que a pandemia foi em 2006, ou que o impeachment de Dilma foi em 2015. Mas, na minha idade, não posso me lembrar se o tetra foi em 2004 ou se o penta foi em 2010. Minha última Copa do Mundo com data certa foi a de 1982, quando a displicência e o cabotinismo de certos craques enterraram uma campanha brilhante e minhas esperanças no talento brasileiro.

Depois, tudo foi ficando meio igual, e datas são o que há de menos importante. A frasezinha de um promotor americano sobre as dificuldades de Biden em responder a esse tipo de pergunta, classificando-o como “um senhor idoso com memória fraca”, que poderia atrair simpatia do júri caso fosse levado a processo, tinha até um tom irônico. Não excluía a possibilidade de que ele tenha agido mal ao lidar com os documentos secretos que tinha em mãos. Dizia simplesmente que o processo não iria ter muito futuro.

Marcelo Coelhoé jornalista, com mestrado em sociologia pela USP (Universidade de São Paulo). Escreveu três livros de ficção (“Noturno”, “Jantando com Melvin” e “Patópolis”), dois de literatura infantil (“A professora de desenho e outras histórias” e “Minhas férias”) e um juvenil (“Cine Bijou”). É também autor de “Crítica cultural: teoria e prática” e “Folha explica Montaigne”, além de três coletâneas com artigos originalmente publicados no jornal Folha de S.Paulo (“Gosto se discute”, “Trivial variado” e “Tempo medido”).

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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