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Militares da 14ª Brigada Blindada das IDFs (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês) mataram a tiros pelo menos 15 trabalhadores humanitários que se deslocavam para atender a uma ocorrência na localidade de Tel Sultan, perto de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. O incidente ocorreu no dia 23 de março, mas os corpos só foram encontrados, dentro de uma vala comum, uma semana depois.
A tragédia voltou a colocar em evidência os ataques contra pessoal e instalações sanitárias (de saúde) em situações de conflito armado não apenas em Gaza, mas em todo o mundo. Em 2022, foram mortos 118 trabalhadores do setor. Em 2024, esse número mais do que triplicou, passando para 382; e só nos primeiros quatro meses de 2025 já há 67 mortos, 37 feridos e 10 sequestrados, de acordo com uma base de dados alimentada por organizações.
Neste incidente em particular, morreram oito membros do Crescente Vermelho Palestino, seis da Defesa Civil e um da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos.
As leis aplicáveis às guerras proíbem expressamente, desde 1864, os ataques contra pessoal, instalação e veículos sanitários identificados com os emblemas da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Esses emblemas podem proteger tanto grupos de socorro voluntário, como o Crescente Vermelho Palestino, quanto organismos internacionais, como o CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha). Além disso, eles garantem proteção aos serviços sanitários das próprias forças envolvidas nos conflitos – ou seja, tanto o Hamas quanto Israel têm o direito de socorrer seus homens feridos e enfermos nos campos de batalha, sem que suas ambulâncias se tornem alvo por isso. Esse direito está claramente expresso nas Quatro Convenções de Genebra de 1949 e em seus três Protocolos Adicionais, dois deles de 1977 e um mais recente, de 2005.
O fato de que uma ambulância esteja indo em socorro ou esteja transportando um combatente ferido – seja ele um membro de grupo armado organizado, como o Hamas, ou de um Exército regular, como o de Israel – não a converte em alvo legítimo. Da mesma maneira, o fato de um hospital ter em seu interior combatentes feridos e enfermos, sejam de que lado for, não converte esse local em alvo.
João Paulo Charleauxé jornalista, escritor e analista político. Foi repórter especial, editor e correspondente do Nexo em Paris. Trabalhou por sete anos no CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) em cinco diferentes países, cobriu a guerra nas fronteiras de Israel com Gaza e o Líbano, a crise política e humanitária no Haiti e o tsunami no Chile. Pela Cia das Letras, publicou o livro “Ser Estrangeiro – Migração, Asilo e Refúgio ao Longo da História” e prepara um novo livro, sobre “As Regras da Guerra”, mesmo tema de uma série publicada na Folha em 2023-2024. Ao longo dos últimos 25 anos, escreveu no Estadão, no Globo, na Piauí, no UOL e na Carta Capital. Participou como comentarista na CNN e na CBN. Trabalha principalmente com temas ligados ao direito internacional aplicável aos conflitos armados.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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