José Eduardo Faria
O jornalista, escritor e professor de direito José Eduardo Faria indica cinco livros essenciais do sociólogo alemão Max Weber
Membro do trio canônico da sociologia, ao lado de Émile Durkheim e Karl Marx, Max Weber foi decisivo para o desenvolvimento da teoria social.
Vasta e de leitura nada fácil, a obra de Weber abarca temas variados. Vão das análises da estrutura agrária do Império Romano ao protestantismo que se irradia sobre a organização social, penetrando em diferentes manifestações culturais. Partindo da premissa de que as ideias também determinam as condições sociais e econômicas, sua contribuição é decisiva para a compreensão de que o capitalismo, mais do que uma estrutura econômica, foi um novo tipo de sociedade. Sociedade essa que se destaca pela administração burocrática, pelo jogo de mercado fundado no cálculo por uma progressiva e potencialmente perversa racionalização de todos os setores da vida.
Destaco aqui cinco leituras de Weber que julgo essenciais. Propus dividir a apreciação de “Economia e sociedade”, obra de mais de 800 páginas, em duas partes.
Max Weber (Trad. Eduardo Brandão, WMF Martins Fontes, 1994)
Ao analisar as relações agrárias no Império Romano, Weber se ocupa de suas implicações jurídicas: formas de assentamento, proteção da propriedade da terra, divisão da posse e contatos firmados entre produtores e proprietários. O livro ajuda a entender as posteriores formas de transição das reformas agrárias europeias.
Max Weber (Trad. José Marcos Mariani de Macedo, Companhia das Letras, 2004)
Weber estuda o impacto do protestantismo e do catolicismo na economia. Para o protestantismo, os homens são predestinados — só alguns vão para o céu. Por isso, cada homem se vê obrigado a encontrar algum alívio psicológico que lhe permita acreditar que é um dos escolhidos. Esse alívio era dado pela glorificação de Deus por meio do esforço produtivo. Ao contrário do catolicismo, que submete o homem à vida monástica, para o protestantismo a salvação depende do trabalho, que legitima a riqueza daí advinda. O espírito do capitalismo é a consequência não intencional do ascetismo protestante.
Max Weber (Trad. Maurício Tragtemberg, Editora UnB, 2003)
É uma conferência de 1919, quando a política nacional socialista já começava a afrontar a liberdade de pensamento. Weber vê o Estado moderno como exercício do monopólio legítimo da violência e mostra como a ação política às vezes se desconecta de seu sentido original. Por maior que enfatizasse a objetividade da ciência, não esconde o temor do que viria — “não a floração do estio, mas uma noite polar, glacial, sombria e rude”. Mais atual, impossível.
Max Weber (Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa, Editora UnB, 2004)
Obra póstuma e densa. Weber analisa a passagem, no Ocidente, de um sistema social em que as normas eram impostas pela Igreja para um tipo de sociedade laica. Duas indagações são centrais nesses capítulos. De onde o direito extrai a sua obrigatoriedade? Quais são os fundamentos de validade da ordem jurídica?
Max Weber (Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa, Editora UnB, 2004)
Um dos destaques da análise é a burocracia, vista como forma de domínio. Ela atingiu seu mais alto grau de racionalidade no Estado moderno, graças à divisão de funções, seleção meritocrática de pessoal e ordem hierárquica. Segundo Weber, a burocracia impessoal permitiu ao capitalismo se desenvolver, mas fugiu ao controle. Surgida num contexto de racionalidade, se tornou irracional.
José Eduardo Faria é professor titular do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e professor da Fundação Getulio Vargas. É autor de “Direito e economia na democratização brasileira”, entre outros.
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