No segundo ano de crise sanitária, com vacinas e máscaras, voltamos os olhares para o que restou do céu em nosso patropi. Como lidar com as questões que antes eram emergentes, e que agora estão com camadas ainda mais profundas de urgência? Marcados pelo que será o ano político mais decisivo de nossa história, indico leituras diversas que entregam o panorama do passado, ainda presente, e sinalizam para um projeto de futuro possível para agora.

Rio de Janeiro: Como chegamos aqui?

Julia Michaels (Raiz, 2020)

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Com o Rio posicionado como a vanguarda do país, o livro narra o relato pessoal de Michaels sobre as dinâmicas políticas e sociais que permearam a nação de 2009 a 2018. Uma colcha de retalhos é feita entre a ascensão, quando a capital fluminense foi escolhida como sede da Olimpíada, até o fatídico ano da eleição de Bolsonaro, indicando o prognóstico de que poderíamos colapsar. Da alegria desconcertante direto para o fundo do poço, numa metástase virulenta caída, inicialmente, sobre a cabeça de cada cidadão, e depois, sentida pelos habitantes das demais metrópoles brasileiras. A autora nos convida a refletir os caminhos que nos levaram para crises em diversos eixos, sob o espectro de uma cidade menos maravilhosa e mais caótica.

Um país chamado favela: A maior pesquisa já feita sobre a favela brasileira

Celso Athayde e Renato Meirelles (Gente, 2014)

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Já que o debate público não pode ser feito sem a presença das periferias, força-motriz do Brasil, intelectuais e acadêmicos se unem para apresentar um panorama real sobre o território criminalizado sob a ótica da segurança. Potencializando questões urgentes que tocam as diversas regiões brasileiras, através do que se vive nos becos e vielas, Renato Meirelles e Celso Athayde tiram personagens e assuntos da invisibilidade. A ideia é empoderar a favela enquanto agente de transformação, indo além do léxico cultural.

Saga brasileira – A longa luta de um povo por sua moeda

Miriam Leitão (Record, 2011)

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Explicando nossa economia de maneira minuciosa , Miriam Leitão traz à tona os meandros que envolveram a criação dos planos econômicos brasileiros. A partir de análises e relatos de pessoas que vivenciaram o percurso da hiperinflação à estabilidade do real, o livro aponta os obstáculos no projeto do país, presentes até hoje. Como uma “máquina do tempo” da história contemporânea do Brasil, a obra destaca dados de maneira acessível e ampla, a ser revisitada a todo instante – sobretudo em mais um ano de efervescência ditado pelos números.

O olho da rua: Uma repórter em busca da literatura da vida real

Eliane Brum (Arquipélago Editorial, 2008)

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Na voz de uma das mais importantes repórteres do jornalismo brasileiro, esta é uma reunião de histórias que pulsam em cada canto do país. O casamento entre o texto e a fotografia criam uma ponte para conhecer e desvendar dilemas, dores e alegrias de grupos majoritários que acabam sendo minorizados pelos locais onde se encontram. Da Amazônia à Brasilândia, na periferia paulistana, narrativas de pessoas que não deixam de insistir no Brasil, apesar dele.

Povo de Deus: Quem são os evangélicos e por que eles importam

Juliano Spyer – (Geração Editorial, 2020)

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Criado a partir dos resultados de uma pesquisa, o livro é o melhor compilado sobre o segmento religioso mais potente da atualidade. Sem amarras ou preconceitos, Spyer tenta explicar, de maneira didática, quem são os evangélicos e como eles chegaram aonde estão, remontando a árvore genealógica das igrejas; a pluralidade de fiéis; costumes, visões políticas, origens geográficas e classes sociais. Para um país em que muitos consideram esse grupo religioso um inimigo , “Povo de Deus” aparece na cena literária como um espelho que reflete nada mais que a sua nação.

Edu Carvalho é jornalista e escritor. Com passagens pela Globo e CNN Brasil, foi colunista na Revista Época e atualmente escreve em UOL Ecoa. Autor de “Na Curva do S – Histórias da Rocinha”, pela Todavia. Recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo em 2019.