Expresso

Os blocos afro de Salvador e o orgulho identitário negro

Camilo Rocha

26 de outubro de 2020(atualizado 28/12/2023 às 23h28)

Documentário ‘Samba de Santo - resistência afro-baiana’ acompanha bastidores e apresentações de Ilê Aiyê, Bankoma e Cortejo Afro

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FOTO: AMANDA OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO

Mulher dança na rua em meio a bloco. Ao lado de outras dançarinas, ela veste roupa de Carnaval de inspiração africana, em tons vermelhos, amarelos e alaranjados

Gessica Neves, integrante do bloco afro Bankoma, de Salvador

Samba de Santo – resistência afro-baiana é um documentário sobre a história e atuação de três blocos afro de Salvador, Bahia. O filme não apenas registra os personagens e bastidores desses grupos, mas sublinha seu papel na construção da orgulho identitário negro.

Dirigido pelo músico e produtor Betão Aguiar, “Samba de Santo” fez sua estreia como parte da programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, de 22 de outubro a 4 de novembro de 2020.

A produção compõe o projeto Mestres Navegantes, que realiza pesquisa e registros de música popular. As seis edições do projeto incluem discos de capoeira, chegança e candomblé e curtas-metragens sobre o repentista Bule-Bule e da ceramista Dona Cadu .

Em “Samba de Santo”, o foco são os blocos afros Bankoma, Cortejo Afro e Ilê Aiyê. Este último se formou em 1974, sendo o pioneiro desse tipo de formação. O Cortejo Afro surgiu em 1998 e o Bankoma, em 2000.

O espectador é levado para dentro de ensaios e apresentações ao longo dos seus dias de Carnaval. Depoimentos e imagens mostram que, por trás do esplendor visual, da musicalidade e da animação há um sólido trabalho social e de mobilização de comunidades periféricas de Salvador.

Ao percorrer alguns dos terreiros tradicionais da capital baiana, o filme destaca as ligações entre a religiosidade afro-brasileira e os blocos. “Bloco afro é o candomblé de rua”, afirma o cantor Aloisio Menezes, do Cortejo Afro, em uma passagem do filme.

James Brown, Martin Luther King e Malcolm X

Fundado na Ladeira do Curuzu, o Ilê Aiyê encontrou hostilidade da imprensa e de parte da sociedade baiana em seus primeiros anos. Ao exaltar a negritude por meio de elementos visuais e cartazes, foi tachado de racista.

O grupo trazia forte inspiração do movimento do orgulho negro americano, que se projetava mundialmente por meio da música de James Brown, do ativismo de Martin Luther King Jr. e Malcolm X e da valorização da ancestralidade africana. Em “Samba de Santo”, o presidente e fundador do Ilê Aiyê, Antonio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô do Ilê, enfatiza essa influência. Segundo ele, o bloco quase se chamou Poder Negro.

Ao longo dos anos, os desfiles do Ilê Aiyê abordaram a memória relacionada à diáspora africana, personalidades afrodescendentes da história do país e representações positivadas da negritude. Desde sua fundação, o bloco mantém a tradição de apenas contar com integrantes negros.

“Poder falar para as nossas crianças e mulheres que elas são deusas, que nosso cabelo é lindo, que ela pode mesmo deixar o seu black todo ouriçado, passar um batom vermelho, uma roupa colorida!”, relata no filme Gleicy Ellen, eleita Deusa do Ébano do Ilê Aiyê 2020.

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