Qual o papel de supertransmissores de desinformação
Cesar Gaglioni
26 de novembro de 2020(atualizado 28/12/2023 às 23h27)Estudo de organizações sem fins lucrativos em parceria com o jornal The New York Times mostra que o principal disseminador de notícias falsas na eleição de 2020 foi o presidente Donald Trump
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O presidente americano, Donald Trump, em evento na Casa Branca
Uma pesquisa realizada pelas organizações sem fins lucrativos Avaaz e Election Integrity Partnership (Parceria da Integridade das Eleições, em livre tradução) em parceria com o jornal The New York Times identificou o papel de “ supertransmissores” de desinformação na eleição presidencial dos EUA de 2020.
Os resultados foram publicados pelo jornal em 23 de novembro, 20 dias depois da realização do pleito que deu a vitória ao democrata Joe Biden. A pesquisa analisou dados no Facebook dos dias posteriores à votação, com foco especial a publicações que alimentam a ideia de que uma fraude teria prejudicado o candidato derrotado, o atual presidente Donald Trump, do Partido Republicano.
Segundo o New York Times, os supertransmissores são figuras influentes na prática e na análise políticas, com forte presença nas redes sociais e que, com poucas publicações, conseguem atingir milhões de pessoas e moldar uma narrativa. Eles costumam marcar presença na mídia e nas redes sociais com comentários feitos para inflamar a opinião de seus seguidores.
De acordo com a pesquisa, o principal supertransmissor de desinformação nas eleições de 2020 é o próprio presidente Trump. Na semana de 15 a 21 de novembro, as 20 publicações sobre as eleições que receberam mais curtidas, comentários e compartilhamentos vieram do republicano – e todas elas continham afirmações falsas, como, por exemplo, um suposto descarte de votos que o ajudariam a se reeleger.
Outro supertransmissor identificado é Eric Trump, terceiro filho do atual presidente americano, que movimentou 6% das publicações que falavam sobre fraude na eleição, em conjunto com as comentaristas políticas Diamond & Silk (integrantes da Fox News, canal que apoiou Trump durante o governo), e Brandon Straka, fundador do movimento Walk Away (Vá embora, em tradução livre), formado por críticos do Partido Democrata.
“O que vemos são pessoas querendo apagar incêndios com combustível, uma tática feita para criar labaredas [na opinião pública]”, afirmou ao New York Times Fadi Quran, um dos diretores do Avaaz. “Essas pessoas adquiriram poder suficiente para garantir que a desinformação atinja milhões de americanos.”
Os supertransmissores não são necessariamente os autores originais da desinformação. O dano que eles causam vem de perpetrar, para um grande número de pessoas, mentiras e notícias falsas, independentemente da autoria delas.
O algoritmo do Facebook aumenta a supertransmissão. A tecnologia faz com que postagens com mais engajamento cheguem a cada vez mais pessoas, que por sua vez continuam interagindo, fazendo com que a publicação se espalhe ainda mais.
Durante a pesquisa, o Avaaz separou as 95.546 publicações mais curtidas, comentadas e compartilhadas que traziam informações falsas sobre uma possível fraude na eleição. Dessas, 33 foram responsáveis por gerar 13 milhões de interações.
O Facebook é frequentemente criticado por permitir que a desinformação corra livremente na plataforma. O argumento da empresa é de que a rede social é como uma praça pública, e que não cabe a eles controlar o que é dito lá, mesmo que haja consenso entre pesquisadores, entidades e instituições do mundo todo que informações parcialmente ou completamente falsas prejudicam a democracia.
Para a eleição americana de 2020, o Facebook agiu de forma ativa . A empresa sinalizou 180 milhões de publicações que continham algum tipo de desinformação, incluindo alguns publicados por Trump e pessoas próximas a ele. Além disso, cerca de 265 mil posts foram removidos da plataforma por tentarem interferir nos rumos do pleito ativa e abertamente.
Ainda assim, há dúvidas dentro da própria empresa sofre a efetividade de tais ações. Uma reportagem do BuzzFeed News publicada em 16 de novembro revelou mensagens publicadas por funcionários dentro do sistema de comunicação interna do Facebook questionando se a decisão teve algum efeito prático ou se foi apenas um movimento para blindar a rede social de críticas.
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