3 momentos do Butantan para além da Coronavac
Amanda Pinheiro
23 de fevereiro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 22h58)Instituto completa 120 anos nesta terça-feira (23). Ligado ao governo paulista, órgão desenvolve soros e vacinas e é referência em pesquisas de saúde pública
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Instituto Butantan, é o responsável pela produção da Coronavac, vacina contra a covid-19
Em meio a pandemia da covid-19, que no fim de fevereiro de 2021 já deixou quase 250 mil mortos no Brasil , um órgão vem se destacando no combate à doença: o Instituto Butantan, que completa 120 anos nesta terça-feira (23).
Responsável por grande parte da produção de vacinas no PNI (Programa Nacional de Imunizações), do Ministério da Saúde , o Butantan é considerado um dos principais centros científicos do mundo, devido ao trabalho significativo no campo da saúde pública.
Apesar de ter sido reconhecido apenas em 1901, o órgão foi fundado em 1899, após um surto de peste bubônica que se espalhou no porto de Santos, no litoral paulista. Com isso, o governo estadual decidiu criar um centro de produção de substâncias ligado ao Instituto Bacteriológico, atual Instituto Adolpho Lutz, que pudessem combater a peste.
Localizado na Fazenda Butantan, na zona oeste paulistana, o centro científico foi chamado inicialmente de Instituto Serumtherápico, dirigido pelo médico Vital Brazil, um imunologista e pesquisador de saúde pública.
Desde então, o instituto vem crescendo e, hoje, é responsável por mais de 13 tipos de soros que combatem o efeito do veneno de animais e de vacinas, que previnem uma série de doenças, entre elas meningite, influenza (gripe), BCG, varíola, febre amarela e poliomielite.
Nesse período, o instituto passou por momentos marcantes. Theodore Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos, em 1913, e o herdeiro do trono inglês, príncipe Charles, em 1978, foram algumas das figuras que fizeram visitas especiais ao local. Em 2010, um incêndio atingiu o Prédio das Coleções, construído em 1970, o que causou um grande prejuízo, sobretudo pela perda de 85 mil peças e animais.
Foi em 2020 e em 2021, em meio à mais grave crise de saúde pública do século, que o Instituto Butantan foi alçado ao centro do debate da saúde pública brasileira, ao fechar uma parceria com o laboratório chinês Sinovac para a produção de uma vacina contra a covid-19, a Coronavac.
O instituto participou de etapas dos testes clínicos da vacina, importou doses e passou também a fabricá-las.
Inicialmente rejeitada pelo presidente Jair Bolsonaro – que chamava o imunizante de “vacina do Doria”, em referência ao governador paulista e desafeto João Doria (PSDB), e também de “vacina chinesa”, tentando explorar o anticomunismo de seus apoiadores mais fiéis –, a Coronavac foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 17 de janeiro de 2021, sendo comprada pelo Ministério da Saúde.
Após a aprovação da Anvisa para o uso emergencial da Coronavac, 4,8 milhões de doses produzidas pelo Butantan foram distribuídas. Na manhã desta terça-feira (23), Dimas Covas, diretor do instituto, anunciou a entrega de mais 1,2 milhão de doses do imunizante ao Ministério da Saúde , para o PNI, totalizando 3,9 milhões até domingo (28). A informação foi confirmada por João Doria durante um evento.
Segundo Covas, serão disponibilizadas 3,9 milhões da Coronavac até o fim deste mês e, até o dia 5 de março, será entregue mais uma remessa com 5,6 mil doses. Ainda de acordo com Covas, em entrevista à TV Globo, o objetivo é aumentar a produção das vacinas para 1 milhão por dia e, a partir de abril, a meta será de 2 milhões diárias – atualmente são produzidas 600 mil doses por dia.
Além da Coronavac, a outra aposta do Ministério da Saúde para combater a covid-19 é a vacina de Oxford/AstraZeneca , produzida pelo Instituto Serum, na Índia. Inicialmente, o governo comprou 42 milhões de doses, o que imuniza 10% da população, ou seja, 21 milhões de pessoas. Também nesta terça-feira, mais 2 milhões de doses do imunizante chegaram ao Brasil.
Abaixo, o Nexo relembra outros três momentos do Instituto Butantan, para além do combate à pandemia do novo coronavírus.
Em 1945, o Butantan fundou o Hospital Vital Brazil, uma unidade pública de referência em envenenamento por animais peçonhentos. A unidade funciona 24 horas por dia e possui especialidade em atender gratuitamente pacientes picados por esses animais. Além da assistência médica, o hospital, localizado no Butantan, estuda os efeitos desses venenos e as formas de tratamento, evitando a morte de muitas pessoas.
O hospital se tornou referência neste tipo de atendimento e assiste pacientes de todo o Brasil por meio de telefone, sobretudo pelo aumento de 80% do índice de picadas de escorpião , que atingem principalmente a população em estado de vulnerabilidade social, localizada em regiões rurais, periferias ou próximas à mata.
Com quase 80 anos em atividade, o Hospital Vital Brazil produz soros antipeçonhentos e desenvolve normas e treinamentos a diversos médicos do país, além de oferecer auxílio e orientação técnica ao Ministério da Saúde.
Em 2019, após a circulação de mensagens que informavam a transferência e um possível fechamento, médicos do hospital escreveram uma carta aberta pedindo para que a decisão da diretoria fosse repensada, já que a mudança do local iria interferir na qualidade do atendimento e na relação direta com pesquisadores do Butantan. Após a comoção do corpo médico e de internautas, a direção do hospital negou que a unidade seria fechada e manteve o HVB dentro do instituto. Segundo Dimas Covas, a mudança previa aumentar a qualidade do atendimento do HBV com a implementação da telemedicina e ampliação de atividades.
Devido ao sucesso da erradicação da varíola no Brasil, em 1971, o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Imunização em 1973, com o intuito de controlar ou eliminar diversas doenças que atingiam e ainda atingem a população brasileira.
Sucesso na área da saúde, o PNI é um dos maiores programas de imunização do mundo e conta diretamente com a participação do Instituto Butantan para a produção e fornecimento de 80% das vacinas para serem distribuídas gratuitamente para a população brasileira.
Entre tantos momentos, um dos mais importantes na trajetória do Butantan foi a produção da vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano). O vírus, que tem como principal forma de transmissão a relação sexual desprotegida, pode causar alguns tipos de câncer e, segundo pesquisas, cerca de 70% a 80% da população pode contrair a doença. Em mulheres, ele é responsável por 99% dos casos de câncer do colo do útero, sendo o terceiro tipo mais comum e o quarto mais letal, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Em 2014, o Ministério da Saúde incluiu a vacina contra o HPV desenvolvida pelo Butantan no PNI. Assim, o imunizante passou a ser distribuído gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e aplicada inicialmente em meninas de 9 a 14 anos. Em 2017, a campanha de vacinação foi ampliada também para meninos entre 11 e 14 anos de idade.
Além da dengue, em 2015, foi descoberto que o mosquito Aedes aegypti transmite a zika, que tem relação com a microcefalia em bebês. No mesmo ano, o Butantan fechou uma parceria com o governo dos Estados Unidos e com a OMS (Organização Mundial da Saúde) para o desenvolvimento da vacina contra a doença e também uma parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o Centro de Pesquisas René Rachou, unidade de Belo Horizonte da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), e a Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto) para a produção do imunizante.
Desde o começo dos estudos da zika no Brasil, alguns resultados foram cruciais para a urgência de uma vacina, entre eles os danos em crianças. Segundo uma pesquisa da Universidade de Medicina de Washington divulgada em 2020, entre os casos de microcefalia, 83% foram no Nordeste do Brasil.
Segundo a Fiocruz, desde 2015, quando houve a epidemia de zika no país, foram registrados 3.534 nascimentos de bebês com a Síndrome Congênita da Zika, que pode causar microcefalia. Apesar de estar controlada temporariamente, em 2019, a Fiocruz divulgou o surgimento de uma linhagem africana do vírus já em circulação no Brasil. Como parte da população não possui anticorpos contra a doença, há um risco de uma nova epidemia. Diante disso, o desenvolvimento dessa vacina que, de acordo com o Butantan, pode demorar até cinco anos desde o início dos estudos, seria essencial para o controle e eliminação da doença.
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