Expresso

O tamanho e o potencial do arsenal nuclear da Rússia

Marcelo Montanini

21 de setembro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h48)

Putin mobiliza 300 mil reservistas e ameaça usar armas nucleares contra adversários na guerra na Ucrânia. O ‘Nexo’ mostra como o poderio russo se compara ao de outros países

O Nexo depende de você para financiar seu trabalho e seguir produzindo um jornalismo de qualidade, no qual se pode confiar.Conheça nossos planos de assinatura.Junte-se ao Nexo! Seu apoio é fundamental.

Temas

Compartilhe

FOTO: SERGEY BOBYLEV/REUTERS 16/09/2022

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante uma coletiva de imprensa após a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, no Uzbequistão

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante uma coletiva de imprensa após a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, no Uzbequistão

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, decretou nesta quarta-feira (21) mobilização militar de 300 mil reservistas para entrar na guerra da Ucrânia, e ameaçou utilizar armas nucleares para defender a integridade do seu país. No discurso, o líder russo alertou a Ucrânia e os países ocidentais que poderá usar o arsenal nuclear.

A declaração, transmitida em rede nacional pela TV russa, acontece no momento mais delicado para Moscou desde o início da guerra em fevereiro de 2022. Os ucranianos fazem uma contraofensiva , reconquistando territórios que estavam sendo ocupados pela Rússia.

“Nosso país também possui vários meios de destruição, alguns deles mais modernos que os dos países da Otan. Se a integridade territorial de nosso país for ameaçada, utilizaremos todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e nosso povo. Isto não é um blefe”

Vladimir Putin

presidente da Rússia, durante declaração de mobilização de reservistas para a guerra da Ucrânia

A declaração de Putin de “mobilização parcial” não alterou o status interno da chamada “operação militar especial”, eufemismo de Putin para se referir à guerra da Ucrânia, que contradiz o discurso interno de que o Kremlin estaria levando vantagem na missão. O líder russo não declarou guerra, mas mobilizou um esforço da população para ajudar o país.

A mobilização ocorre também em meio à realização por parte do Kremlin de referendos entre 23 e 27 de setembro para oficializar a anexação dos territórios ucranianos de Luhansk e Donetsk, controlados por forças separatistas, e Kherson e Zaporizhzhia, ocupadas na invasão. O conflito vai completar sete meses no sábado (24) ainda sem perspectiva de encerramento, e suscitando temor em todo o mundo de uma nova escalada, com risco maior de uso de armas nucleares .

Neste texto, o Nexo mostra o poder nuclear russo e compara com outras potências que possuem armas atômicas. Para isso, conversa com um especialista em defesa e segurança internacional.

Armas nucleares da Rússia

Os números de armas nucleares de cada Estado são estimativas, visto que muitos países tratam a informação como segredo nacional.

Atualmente, a Rússia tem o maior arsenal nuclear do mundo e mantém infraestrutura de produção de armas nucleares e capacidade de projetar e construir novas ogivas e mísseis. Em 2021, a Rússia gastou cerca de US$ 8,6 bilhões para construir e manter suas forças nucleares, segundo o ICAM (Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares).

Segundo a FAS (Federação de Cientistas Americanos), a Rússia tem 5.977 ogivas – armas nucleares encapsuladas que desencadeiam explosões –, mas cerca de 1.500 delas estão aposentadas. Das 4.477 restantes, cerca de 2.800 são ogivas nucleares estratégicas, que possuem um alto poder destrutivo, como mísseis balísticos ou foguetes de longas distâncias. E cerca de 1.600 são armas nucleares táticas, que têm um poder destrutivo menor do que as estratégicas.

Isso não significa que Moscou tenha todo o arsenal nuclear de longo alcance pronto para ser usado. O SIPRI (Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo) estima que cerca de 2.000 ogivas da Rússia e dos EUA estão atualmente em alerta máximo – ou seja, prontas para uso em curto prazo.

FOTO: GLEB GARANICH/REUTERS 26/08/2022

Bandeira da Ucrânia entre edifícios destruídos pelo ataque militar russo próximo a Kiev, em meio à invasão da Ucrânia

Bandeira da Ucrânia entre edifícios destruídos pelo ataque militar russo próximo a Kiev, em meio à invasão da Ucrânia

A arma nuclear estratégica tem um alto poder destrutivo, com alta carga de explosão e radiação. Já as armas nucleares táticas têm um poder destrutivo menor do que a estratégica e, normalmente, contribuem para o cumprimento de uma missão militar de alcance limitado.

“Dado o valor limitado das armas nucleares táticas e o desastre potencial das armas nucleares estratégicas, as ameaças nucleares russas são uma excelente guerra psicológica, a menos que um inimigo russo leve a ameaça a sério”, afirmou ao Nexo Bernardo Wahl, professor de relações internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e da FMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas).

Wahl acrescenta que o poder das armas nucleares táticas – dependendo do tipo – é inferior a 1% da explosão da bomba de Hiroshima e, tão importante quanto, elas produzem pouca radiação residual nuclear após a explosão. “Armas nucleares táticas podem determinar o resultado de uma batalha, mas não de uma guerra, e não tornariam a terra inabitável”, disse.

Hiroshima foi a única vez que armas nucleares foram empregadas militarmente na história da humanidade. Os EUA lançaram uma primeira bomba sobre a cidade de Hiroshima, no dia 6 de agosto, e uma segunda, três dias depois, sobre Nagasaki, ambas no Japão, no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Não há um número preciso de mortos e feridos, considerando que os efeitos da radiação perduram muito tempo depois da explosão. Mas o Projeto Avalon, da Escola de Direito da Universidade de Yale, estima em 199 mil o número de vítimas nos dois ataques.

‘Novo ponto crítico’

Por enquanto, a questão nuclear na guerra na Ucrânia está no campo das narrativas, como uma ameaça buscando o efeito de dissuasão. Para Wahl, Putin pretende neste momento desencorajar a Ucrânia e países do Ocidente, em especial os Estados Unidos, a seguirem enfrentando Moscou.

O professor ponderou ainda que, dependendo dos rumos que a guerra tomar, existe a possibilidade, mas “há um longo caminho até o uso de uma arma nuclear tática pela Rússia”.

Contudo, analistas avaliam que os referendos para anexação de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia são mais uma jogada de Putin para legitimar estes territórios como sendo russos e, portanto, uma contraofensiva ucraniana contra eles, representaria um ataque direto à Rússia.

Segundo Wahl, com a economia prejudicada por investimentos na guerra e sanções ocidentais, a Rússia espera que a dissuasão impeça a necessidade de expandir medidas impopulares de mobilização, como a necessidade de convocar mais pessoas para a guerra.

“O uso de armas nucleares táticas está previsto na doutrina de deterrência (dissuasão) nuclear russa, como último recurso absoluto para Moscou se defender contra um ataque convencional que venha a ameaçar a existência da Rússia como um Estado soberano. Assim, a ameaça de Putin deve ser levada a sério e, sim, a guerra está em um novo ponto crítico”, afirmou Wahl ao Nexo .

O poder nuclear de outras potências

De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo, os Estados Unidos possuem 5.428 armas nucleares. Junto com as 5.997 da Rússia, o número corresponde a cerca de 90% de todas as armas nucleares do mundo. No total, nove países possuem cerca de 12.700 armas: China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte, além de Rússia e EUA.

Comparação de arsenal nuclear entre potências

R ússia, EUA, China, França e Reino Unido estão entre os 191 estados que assinaram o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, cujo objetivo é conter a ampliação dos arsenais nucleares no mundo. O tratado foi criado em 1968 e entrou em vigor dois anos depois. Em 1995, foi prorrogado indefinidamente. Sob o acordo, os países têm que reduzir seus estoques de armas nucleares.

Índia, Israel e Paquistão nunca aderiram ao tratado. A Coreia do Norte se retirou do tratado em 2003 – o único país a fazer isso até hoje. Já Israel não reconhece formalmente seu programa nuclear, embora seja apontado como detentor de tecnologia e de armas.

A Ucrânia não tem armas nucleares. Em 1994, três anos após a independência do país, a Rússia, os EUA e o Reino Unido assinaram o Acordo de Budapeste, no qual Moscou se comprometeu a respeitar as fronteiras ucranianas e, em troca, Kiev transferiu para Moscou o armamento da era Soviética. Putin não cumpriu o acordo.

NEWSLETTER GRATUITA

Nexo | Hoje

Enviada à noite de segunda a sexta-feira com os fatos mais importantes do dia

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Gráficos

nos eixos

O melhor em dados e gráficos selecionados por nosso time de infografia para você

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Navegue por temas