Como ensinar crianças a usar a internet com segurança
Beatriz Gatti
28 de outubro de 2022(atualizado 06/02/2024 às 10h59)Mais novos podem ter facilidade com o mundo digital, mas estão sujeitos a riscos que pais e responsáveis precisam compreender e explicar. Especialistas elencam recomendações de como fazer isso
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Menina usando smartphone
Ser criança em um mundo hiperconectado significa interagir com a tecnologia e a internet desde cedo, para fins que variam da educação ao entretenimento. Uma pesquisa realizada em 2021 pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) indica que mais da metade das crianças e adolescentes brasileiros tiveram seu primeiro acesso à internet antes dos 10 anos de idade .
O contato quase instantâneo com o mundo online proporciona habilidades comunicativas e tecnológicas aos chamados nativos digitais, mas também vem acompanhado de riscos pela exposição na rede. Cabe aos adultos supervisionar e ensinar os caminhos do uso adequado de dispositivos como smartphones e tablets.
Neste texto, o Nexo mostra a importância da segurança digital para as crianças e reúne recomendações de três especialistas sobre como adultos, em especial pais e responsáveis, podem ensinar os mais novos a ter cuidado ao usar a internet. São eles:
As crianças aprendem muito por meio da observação, inclusive em relação à internet. Se uma pessoa que elas admiram e respeitam fica o tempo todo no celular ou envia mensagens com palavrões, isso pode servir de exemplo para que elas queiram reproduzir o mesmo comportamento. Por isso, o primeiro passo é perceber as referências que são passadas a elas.
Para saber o que ensinar sobre a internet, é preciso antes conhecê-la. E não apenas o mundo online de maneira ampla, mas os conteúdos que mais chamam a atenção das crianças. Estimular meninas e meninos a falar sobre os jogos, vídeos ou filmes que mais os interessam é uma forma de incluí-los numa discussão que posteriormente pode se tornar um combinado entre as partes e ajudar na criação de senso crítico.
“Se você vai ver com ela, questiona e pergunta, ela vai aprendendo a fazer essas perguntas também. ‘Será que esse conteúdo é legal para mim? Será que isso está me ensinando alguma coisa?’”, disse Januária Alves ao Nexo .
Assim como a hora de almoçar, dormir, tomar banho e estudar, a internet deve ser encaixada nos momentos mais adequados da rotina e ter limites de tempo de seu uso. Os limites ideais variam de acordo com a idade – neste texto você pode conferir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Estabelecer combinados sobre quando e quanto usar os dispositivos eletrônicos já no início da inserção das crianças no mundo digital é uma maneira de reforçar a importância da presença de um adulto durante o uso.
Não falar com estranhos e respeitar as outras pessoas são ensinamentos comuns nas relações pessoais a serem estendidos para o mundo online. A possibilidade do anonimato não deve dar às crianças a falsa sensação de que estão protegidas tanto para falar com desconhecidos quanto para ofender ou agredir alguém.
Os limites de idade definidos por cada plataforma são uma instrução geral, mas há um alerta unânime entre os especialistas ouvidos pelo Nexo : mais do que se orientar pela idade, é importante atentar-se à maturidade que cada criança demonstra.
“Ainda que se vá permitindo um acesso maior às telas conforme a idade passa, isso sempre tem que ser moderado e acompanhado gradativamente”, afirmou Rodrigo Nejm, da Safernet Brasil. Segundo ele, um aliado importante nesse processo é o controle parental, presente em diversas plataformas de jogos, vídeos e streaming, por meio do qual é possível configurar o conteúdo antes que do acesso das crianças.
Mesmo com as regras, o controle parental e supervisão, as crianças podem se deparar com conteúdos ofensivos, agressivos ou impróprios a elas. Seja porque houve um descuido, seja porque algum combinado foi descumprido, é preciso dar espaço para acolher e ouvir eventuais incômodos.
“Cabe a cada família definir os limites, mas é importante estar ciente de que proibições geralmente geram conflitos e atrapalham o diálogo. Por isso, a importância dos pais estarem presentes no dia a dia de seus filhos, conversarem sobre as diversas possibilidades que a internet oferece e deixarem que as crianças falem sobre as experiências que tiverem”, disse Miriam von Zuben.
De acordo com a analista de segurança do CERT.br, comportamentos como fechar ou minimizar páginas, bloquear dispositivos e demonstrar nervosismo diante dos pais são sinais de alerta de que algo está pode estar sendo escondido e indicam que uma conversa é necessária para compreender o que eles de fato significam.
As crianças precisam saber que o alcance na internet é instantâneo e massivo e que, uma vez que um conteúdo se espalha, é difícil voltar atrás no que foi publicado. Por isso é importante manter os perfis restritos preferencialmente a amigos próximos e não compartilhar dados pessoais em geral.
“É importante também orientá-las sobre a necessidade de proteger a privacidade de outras pessoas, não passando informações, como onde trabalham ou coisas que compraram, nem postando sem autorização fotos e vídeos em que outras pessoas aparecem”, complementou Miriam von Zuben.
Perfis fake, algoritmos e vírus são alguns dos muitos termos que traduzem o funcionamento e riscos da internet. É difícil saber todos, mas guias como o da Internet Segura podem ajudar na busca por esse conhecimento, assim como professores. “É muito importante que a escola fortaleça esse papel da pesquisa e da curiosidade”, afirmou Januária Alves.
As próprias crianças, inclusive, são uma importante fonte de informação para os pais. Ao estabelecer essa troca com os filhos, os pais ficam mais munidos para garantir um entorno com menos riscos.
Ações mais técnicas como fazer backup de dados, manter os dispositivos atualizados, fazer download apenas em sites confiáveis e proteger computadores e celulares com antivírus são formas de se prevenir de ataques diretos aos dispositivos.
Mas diante de ameaças direcionadas às pessoas, como clonagem de perfis, cyberbullying e compartilhamento indevido de fotos, os pais devem estar informados para ajudar os filhos em caso de necessidade. Algumas opções são fazer denúncias na própria plataforma em que o problema ocorreu, registrar boletim de ocorrência em delegacias especializadas em crimes cibernéticos e reportar o caso para organizações como a Safernet .
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