A coleção de arte digital assinada por indígenas Yawanawá
Valentina Candido
03 de agosto de 2023(atualizado 28/12/2023 às 22h04)Obras feitas em parceria com artista turco-americano unem elementos de povo originário com dados meteorológicos da Amazônia. Produções são comercializadas como NFTs
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Imagens de obras de arte vendidas digitalmente
O artista turco-americano Refik Anadol e as irmãs Yawanawá Nawashahu e Mukashahu produziram uma coleção de arte digital que une elementos da identidade cultural do povo indígena com informações meteorológicas da floresta amazônica.
A coleção “Winds of Yawanawá” consiste em 1.000 vídeos produzidos por meio da pinturas de dados. Através dessa técnica, Anadol usou as informações do clima da floresta para animar pinturas feitas por Nawashahu e Mukashahu.
A coleção foi apresentada durante o evento de design In Resonance, que ocorreu em 13 de julho na ilha grega de Mykonos. Desde então, os vídeos são comercializados como NFTs pelo valor mínimo de 3.25 Ethereum (o equivalente a cerca de R$ 28 mil em 1º de agosto). O valor arrecadado será investido no Instituto Nixiwaka, uma organização voltada para os direitos indígenas.
Refik Anadol ficou famoso ao usar dados digitais para produzir obras abstratas. Ele está na vanguarda da produção artística feita com softwares digitais. Uma de suas obras mais famosas, a Machine Hallucination , teve sua propriedade intelectual comercializada em forma de NFT por US$ 8 milhões em 2022.
Para a realização do Winds of Yawanawá, Anadol recorreu à técnica que ele chama de pinturas de dados: por um mês, um sensor coletou informações sobre ventos, velocidade de rajadas, temperatura, precipitação e pressão do ar da Aldeia Sagrada, lugar no oeste do Acre onde os Yawanawá se concentram . Esses dados foram processados por um software que os transformou em pigmentos e movimentos posteriormente usados para animar e modificar desenhos pintados por Nawashahu e Mukashahu.
Por fim, as pinturas e os dados processados foram recombinados diversas vezes por uma inteligência artificial generativa. O resultado das combinações é a coleção de 1.000 vídeos. Anadol afirma que cada uma dessas produções representa a relação simbiótica entre a comunidade indígena Yawanawá e a floresta amazônica.
A projeção internacional dos Yawanawá não começa na experiência com Refik Anadol. Nas últimas décadas, comunidades dessa etnia têm feito parcerias criativas com empresas, sobretudo as ligadas à moda, como estratégia para garantir sua autonomia econômica.
Habitantes das margens do rio Gregório , os Yawanawás foram o primeiro povo indígena a ter suas terras demarcadas no estado do Acre, o que aconteceu em 1984.
Esse processo ocorreu após anos de disputa entre os povos indígenas da região contra seringueiros e missionários, que submetiam os Yawanawás a condições degradantes de trabalho e de violência. Já nesse contexto, os Yawanawás recorreram às parcerias com organizações e empresas internacionais para assegurar a perpetuação de sua cultura e a sua presença na região.
Com uma população que estava em risco de desaparecer antes da demarcação, os Yawanawá têm hoje cerca de 1.000 integrantes , distribuídos entre Brasil (onde vivem 581 Yawanawá, segundo dados de 2023 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Bolívia e Peru. Além das parcerias, desde o início dos anos 2000 os Yawanawá ganharam notoriedade por seus festivais de cultura, pelo incentivo ao turismo e pelo desenvolvimento de estratégias para a perpetuação do seu idioma.
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