Cade abre investigação contra institutos de pesquisa
Da Redação
13 de outubro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h45)Presidente de autarquia federal de defesa da concorrência fala em possível formação de cartel. Alexandre Cordeiro é ligado a ministro Ciro Nogueira, que encampa investidas bolsonaristas contra levantamentos
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Alexandre Cordeiro, presidente do Cade, em entrevista ao portal Poder 360
O presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Alexandre Cordeiro, determinou nesta quinta-feira (13) a abertura de um inquérito administrativo para apurar uma possível formação de cartel entre os institutos de pesquisa Datafolha, Ipespe e Ipec para “manipular o mercado e os consumidores”. Cordeiro foi indicado ao comando do órgão pelo presidente Jair Bolsonaro e é ligadoao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
Cordeiro enviou documento ao superintendente-geral do Cade, Alexandre Barreto e Souza, solicitando a abertura de uma investigação com base na diferença entre os resultados das pesquisas e a apuração das urnas. Segundo ele, a distância “é tão grande que verificam-se indícios de que os erros não sejam casuísticos e sim intencionais”. Ele também fala em uma ação orquestrada, na forma de cartel, “para manipular em conjunto o mercado e, em última instância, as eleições”. O texto diz que os institutos Datafolha, Ipespe e Ipec “apresentaram resultados idênticos quanto a diferença entre os candidatos”.
Cordeiro, que atuava como superintendente-geral do Cade desde 2017, foi indicado por Bolsonaro à presidência do órgão em junho de 2021. A indicação contou com apoio de Nogueira, que é presidente do PP. Uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo publicada em abril mostrou a gravação de uma conversa na qual Nogueira chama Cordeiro de “meu menino” e diz: “eu botei ele lá”. O ministro foi um dos primeiros integrantes do governo a atacar os institutos nas redes sociais após o término do primeiro turno, realizado em 2 de outubro.
O Cade é um órgão técnico, ligado ao Poder Executivo. Sua função é garantir a livre concorrência no mercado brasileiro, combatendo cartéis, autorizando ou não transações de fusão, incorporação e aquisição entre empresas de grande porte e promovendo iniciativas para instruir o público em geral sobre esses temas.
Bolsonaro tenta a reeleição pelo PL e chegou em segundo lugar no primeiro turno, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. A votação do presidente nas urnas foi maior do que indicavam as pesquisas de intenção de voto, embora o quadro geral, com Lula à frente e Bolsonaro em segundo, tenha se confirmado. Os próprios institutos afirmam que não se propõem a acertar resultados, mas a fazer um retrato de determinado momento da campanha eleitoral. Desde o primeiro turno, aliados do presidente fazem uma ofensiva contra os institutos , que já vinham sendo hostilizados por bolsonaristas durante a campanha .
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), defendeu multas pesadas e até banimentos dos institutos e acelerou a tramitação de projetos como o apresentado por Ricardo Barros (PP-PR), que quer tornar crime pesquisas feitas a 15 dias ou menos antes das eleições cujos resultados não se confirmem no dia da votação. No Senado, Marcos do Val (Podemos-ES), outro aliado de Bolsonaro, apresentou um pedido para a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) a fim de investigar o trabalho dos institutos. Cientistas políticos admitem que os levantamentos devem aperfeiçoar metodologias para medir a temperatura eleitoral com mais precisão, mas veem oportunismo no cerco atual aos institutos e consideram que ele pode minar a democracia.
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