Liderança quilombola, Mãe Bernadete é assassinada na Bahia
Da Redação
18 de agosto de 2023(atualizado 28/12/2023 às 22h05)Ialorixá foi morta a tiros por dois homens ainda não identificados dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares, na região metropolitana de Salvador. Em 2017, seu filho também foi executado no mesmo local. Ela tinha 72 anos
Ialorixá Mãe Bernadete
A liderança quilombola Bernadete Pacífico, de 72 anos, foi assassinada a tiros na noite da quinta-feira (17). O crime aconteceudentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.
Segundo a polícia, dois homens usando capacetesainda não identificados entraram no local e efetuaram os disparos. Mãe Bernadete, como era conhecida, havia denunciado em julho ameaças que vinha recebendo. Em 2017, seu filho Flávio Gabriel dos Santos também foi assassinado.
“Minha família está sendo perseguida, meu irmão foi morto da mesma forma. Não vamos parar, quilombo sempre será resistência ”
Wellington dos Santos declarou que a mãe foi morta com disparos no rosto e que netos seus estavam presentes no momento do assassinato. Segundo o site G1, ela estava sob proteção da Polícia Militar, por meio da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH) há pelo menos dois anos. O advogado da família, David Mendez, disse que a PM fazia apenas uma “ronda simbólica” no local onde ela morava.
Mãe Bernadete era líder da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e ialorixá (líder religiosa) do Quilombo Pitanga dos Palmares. Também atuou como secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da cidade de Simões Filho entre 2009 e 2016, como contou o site G1.
Em julho, Mãe Bernadete participou de um encontro com outras lideranças quilombolas da Bahia e a presidente do Supremo Rosa Weber. Na data, conforme registrou o jornal O Estado de S. Paulo, ela denunciou as ameaças e violências que o quilombo vinha sofrendo.
“Para a senhora [Rosa Weber] ter uma ideia, até hoje não sei o resultado do assassinato de meu filho. Abalou todo mundo. Foi no mesmo período em que aconteceu a morte de Marielle [Franco]. Inclusive, eu fui em diversos encontros com a mãe de Marielle. É injusto. Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em um quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região”
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia disse que as polícias Militar, Civil e Técnica estão investigando o crime, como registrou o jornal Folha de S.Paulo.
Membros do governo se manifestaram. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, em nota, afirmou que o ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz africana não é pontual. “O racismo religioso é mais uma faceta da conformação racista que estrutura o país e precisa ser combatido por meio de políticas públicas”. O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) afirmou ter determinado que “Polícias Militar e Civil desloquem-se de imediato ao local e que sejam firmes na investigação”, como mostrou o site Metrópoles
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte da liderança quilombola. “O governo federal, por meio dos ministérios da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e Cidadania, mandou representantes e aguardamos a investigação rigorosa do caso”, declarou em publicação no Twitter, reproduzida pelo portal UOL.
NEWSLETTER GRATUITA
Enviada à noite de segunda a sexta-feira com os fatos mais importantes do dia
Gráficos
O melhor em dados e gráficos selecionados por nosso time de infografia para você
Destaques
Navegue por temas