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Flanando pela internet numa manhã chuvosa de segunda-feira, só pra me desenfadar um pouco desses tempos chatonildos de crise, topei com um curioso artigo de autoria de uma tal de Linda Rodriguez, no site Atlas Obscura, sobre uma antiga linhagem de performers que usavam o flato intestinal controlado como meio de expressão artística diante de platéias, muitas delas aristocráticas, que se escangalhavam de rir. Conhecidos como “flatulistas,” eles tinham o “dom” de puxar o ar para o reto e liberá-lo usando os esfíncteres a seu bel prazer.
O primeiro flatulista mencionado é um tal de Rolando, o Peidorreiro, famoso bufão que divertia a corte do rei Henrique II da Inglaterra, no século 12, com seus traques emitidos com preciso timing de comédia. O rei se desopilava tanto com a arte anal de Rolando que lhe concedeu um pequeno palácio e 100 acres de terras. Temos aí o exemplo perfeito de ascenção social propulsionada por flatos intestinais “artísticos”.
Em seu artigo, Linda Rodrigues menciona outros famosos peidorreiros performáticos de toda parte do mundo, até da requintada França, país onde, em fins do século 19, o célebre Monsieur Pujol, autointitulado “O Peidômano” (Le Pétomane), se exibia no Moulin Rouge com um show de flatos de 90 minutos de duração, no qual apagava velas, “assobiava” trechos de músicas famosas e até tocava uma cornetinha.
Segundo me contou há tempos um amigo parisiense, M. Pujol encerrava seus números sugando água de uma bacia pelo ânus, com auxílio da corneta, para, em seguida, aspergi-la sobre o público das mesas próximas do palco. E era sempre ovacionado por isso, uma vez que a água vinha perfumada com o extrato de rosas com o qual Pujol se aplicava um clister antes da sua estrepitosa performance. Os talentos do célebre flatulista francês chegaram a ser estudados por médicos e cientistas da época, sendo que um deles publicou, em 1904, numa revista especializada, um estudo intitulado “Um extraordinário caso de respiração retal e musicalidade anal.”
Monsieur Pujol, lógico, já morreu, em 1945, aos 88 anos de idade (peidar profissionalmente talvez seja uma das chaves da longevidade), mas se você for ao Moulin Rouge, ainda a pleno vapor em Paris, no tradicional bairro de Pigalle, para apreciar as dançarinas de cancan, as strippers e os shows de música e variedades, convém, por via das dúvidas, escolher uma mesa distante do palco. Vai saber se não há um M. Pujol II em atividade por lá.
Reinaldo Moraesestreou na literatura em 1981 com o romance Tanto Faz (ed. Brasiliense) Em 1985 publicou o romance Abacaxi (ed. L&PM). Depois de 17 anos sem publicar nada, voltou em 2003 com o romance de aventuras Órbita dos caracóis (Companhia das Letras). Seguiram-se: Estrangeiros em casa (narrativa de viagem pela cidade de São Paulo, National Geographic Abril, 2004, com fotos de Roberto Linsker); Umidade (contos , Companhia das Letras, 2005), Barata! (novela infantil , Companhia das Letras, 2007) , Pornopopéia (romance , Objetiva, 2009) e O Cheirinho do amor (crônicas, Alfaguara, 2014). É também tradutor e roteirista de cinema e TV.
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