Coluna

Denis R. Burgierman

Os presentes do Estado ao Crime

12 de janeiro de 2017

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O crime organizado tem tanto poder no Brasil porque ganha de bandeja do Estado o monopólio sem fiscalização de um mercado lucrativo e um sistema grátis de recrutamento e formação de soldados, as prisões

O roteiro é tão manjado que dá para prever o que vai acontecer em seguida.

Acontece o horror, as cenas tétricas, a descida ao inferno. Um monte de mortos. A maioria de nós, ocupados com a tarefa suficientemente dura de tocar nossas próprias vidas nesses tempos difíceis, prefere nem ficar sabendo dos detalhes.

Logo aparecem os políticos, responsáveis pelo Estado que permitiu tal horror. Falarão com firmeza, olhando a câmera nos olhos, garantindo que têm pleno controle da situação, que não nos preocupemos  com nada. Talvez algum deles, mais bonachão, dê uma piscadinha, e solte uma piadinha, “tinha que fazer uma chacina por semana”, ou algo assim. Desinformados, rimos amarelo.

O plano dos políticos em resposta ao horror será abrir mais presídios, para poder prender mais gente.

E aí mais e mais brasileiros cairão nos pegajosos tentáculos do sistema prisional do país, o inferno na terra, completamente abandonado pelo Estado. Lá chegando, esses presos, geralmente pequenos ladrões e, principalmente, funcionários subalternos do tráfico, serão recrutados para servir às fileiras do crime organizado no Brasil. Violentados pelo Estado e acolhidos pela máfia, terão uma escolha fácil. Quanto mais gente é presa, mais poder o PCC e o CV têm.

Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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