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Vozes da Amazônia

Os jovens na proteção das comunidades tradicionais da Amazônia

18 de outubro de 2022

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Sendo grande parte da região Norte, juventude precisa assumir seu papel na garantia da justiça social e climática na Amazônia

Não é de hoje que a juventude vem lutando por mais voz e participação nas tomadas de decisões dos seus próprios territórios. O jovem mais engajado e mobilizado cumpre seu papel nas transformações sociais, sobretudo na redução da pobreza, na garantia da qualidade de vida e na conservação ambiental. Se olharmos para o Norte do Brasil, onde há a maior concentração da população com idade entre 15 e 29 anos, percebemos que a pluralidade cultural e de gênero dos jovens ribeirinhos, indígenas ou quilombolas sequer são discutidas nos planos e políticas públicas de estado. Erguer esforços em ações afirmativas para as e os jovens em áreas descentralizadas é a direção correta que precisamos seguir. Potencializando, especialmente, a juventude no fortalecimento comunitário e no desenvolvimento econômico local.

Em comparação com outros estados brasileiros, o Amapá carrega o maior percentual de jovens em sua população, cerca de 29,1%, segundo o Atlas das Juventudes de 2021. Muitos desses adolescentes estão inseridos em grupos historicamente marginalizados, vivendo hoje sem oportunidade de trabalho, sem acesso à educação, saúde, condições essenciais para o desenvolvimento humano. Como revela um dos recortes do estudo “Quilombos Urbanos: Fortalecimento Comunitário e Cadeias Socioprodutivas”, desenvolvido pelo Instituto Mapinguari.

Realizado na Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Curiaú, o estudo aponta características, levanta dados e demandas das comunidades que fazem parte dessa região, duas delas reconhecidas como quilombos. Os resultados mostram a presença numerosa de jovens nas comunidades. Em média, 54% da população quilombola da APA do Curiaú possuem menos de 29 anos, enquanto que adultos e idosos se distribuem entre 36% e 9%, respectivamente.

Erguer esforços em ações afirmativas para as e os jovens em áreas descentralizadas é a direção correta que precisamos seguir

Nessa formação social com predominância da juventude, constata-se um baixo nível de escolaridade, com mais de 30% da população atrasada ou que abandonou os estudos. Essa alta taxa de evasão escolar pode estar atrelada com a necessidade de abandonar os estudos para ajudar na geração da renda familiar. O próprio quilombo do Curralinho que possui uma alta taxa de evasão, é uma forte produtora de hortaliças que abastecem feiras, mercados e supermercados de Macapá.

Superar essas disparidades é conhecer o contexto local e construir estratégias e ações afirmativas de mobilização e empoderamento da juventude quilombola. Atuação que o Instituto Mapinguari propõe para o fortalecimento comunitário da APA do Curiaú. Atualmente, levando o debate para o contexto internacional, apresentando durante a COP 27, em Sharm El Sheikh, no Egito, subsídios que confirmam a necessidade de incentivar jovens quilombolas na organização do seu território e nas decisões de suas comunidades. Ressaltando o lugar das comunidades tradicionais na linha de frente do combate às mudanças climáticas e como primeiros afetados pelas alterações bruscas no clima.

Apostando na educação como o agente fundamental para o desenvolvimento social. Pensar em políticas públicas que transformem e incentivem o ensino e aprendizagem de crianças, jovens e adultos nos quilombos é fundamental na garantia da justiça social.

Thales Lima é jornalista, repórter e fotojornalista. Atua como mídia ativista no Amapá e desenvolve ações direcionadas ao direito à cidade, ativismos urbanos, movimentos socioambientais e juventudes na Amazônia. É assessor de comunicação no Instituto Mapinguari.

Vozes da Amazôniaé uma coalizão formada por organizações, movimentos e coletivos socioambientais e culturais de dentro e fora da Amazônia brasileira. Surgida em julho de 2021, reúne visões, narrativas e territorialidades diversas, mas unidas com um único propósito: mobilizar e engajar toda a sociedade pela proteção da floresta, de seus povos e do equilíbrio climático do planeta.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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