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ESPECIAL

A rua brasileira do futuro, segundo 7 especialistas

Por Alberi Neto e Ana de Melo
em 19 de Jan de 2020

Áreas de convívio unindo prédios e calçadas, iluminação pública de led, mais espaço para transportes coletivos e o pedestre como prioridade: este é um cenário possível para a mobilidade urbana no Brasil em 2050

Carros que deixavam o chão e, como os aviões, ganhavam o céu. Edifícios empilhando dezenas de andares e muitos letreiros em néon. Esse mundo de 2019 imaginado por “Blade Runner” (1982) parece hoje longe da realidade. Mas como serão as cidades daqui para frente?

A projeção do futuro interessa não só à ficção científica, mas também a urbanistas, arquitetos e especialistas preocupados em como organizar a vida nos centros urbanos. Imaginar o futuro ajuda a refletir sobre o presente. E alguns dados ilustram o que esperar das cidades brasileiras.

Nas últimas décadas, houve aumento significativo na frota de veículos no país, que ultrapassou os 100 milhões em 2018, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os automóveis representam mais da metade desse número, registrando um aumento de 70,7% desde 2008.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, o número de veículos teve um aumento de 400% entre os anos 1970 até meados dos anos 2000. No mesmo período, porém, a infraestrutura viária – incluindo ruas, avenidas, viadutos e pontes – aumentou apenas 21%

O transporte coletivo vem perdendo espaço para outros modos, sobretudo o motorizado individual (moto e automóvel). De acordo com a NTU (Associação Nacional de Transportes Urbanos), o número de passageiros transportados diariamente por ônibus no país caiu 44,2% entre 1995 e 2018, com base no mês de abril de cada ano. Ainda segundo a pesquisa, essa redução acentuada foi retomada desde 2013, após um período de estagnação entre 2002 e 2012.

Na contramão desse aumento de frota, uma mudança chama atenção. O transporte ativo, aquele feito a pé ou bicicleta, cresceu. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, esse tipo de locomoção representava 28,4% das viagens diárias em 1977, enquanto, em 2017, passou a somar 32,7%. A grande maioria das viagens segue sendo feita a pé, apesar de a bicicleta ter ganho maior representatividade, passando de 1,2% das viagens não motorizadas, em 1977, para 2,7%, em 2017. 

Diante dessas constantes transformações, resta saber como uma cidade brasileira deve se moldar para o futuro. Por isso, o Nexo propôs um exercício para sete especialistas, projetando os próximos 30 anos: como é para você a rua ideal do Brasil de 2050?


“Que seja uma rua prazerosa para aqueles que desejam caminhar ou pedalar por ela, com sombra adequada e espaço para descanso”

Ana Nassar

Diretora de Programas no ITDP Brasil e mestre em ciência política pela UnB


“A rua brasileira do futuro deveria significar fundamentalmente a rua para o pedestre.”

Antônio Tarcísio da Luz Reis

Professor titular da UFRGS e pós-doutor na área de arquitetura e urbanismo pela Universidade de Sydney


“Nessa rua, as pessoas passam se deslocando de um ponto a outro, mas elas também se sentem à vontade para permanecer.”

Isadora Freire

Analista de Inovação no Núcleo de Gestão do Porto Digital e graduada em arquitetura e urbanismo pela UFPE


“A mobilidade urbana inteligente irá mudar a nossa forma de viver nas cidades”

Susanna Marchionni

Cofundadora e CEO da Planet Smart City no Brasil e graduada em economia pela Faculdade de Turim, na Itália


“Eu imagino que, nessa rua, haverá o mínimo de utilização de automóveis no espaço urbano”

André Dantas

Diretor técnico da NTU, graduado em engenharia pela UFMG e mestre em transporte urbano pela UnB


“O que teremos nas cidades do futuro do Brasil serão veículos autônomos para transporte coletivo e transporte individual, e esses veículos serão públicos e privados”

Augusto Cesar Barreto Rocha

Professor associado na UFAM, doutor em engenharia de transportes pela UFRJ


“Ah, mas não vai ter mais carro particular’. Claro que vai. Só que não pode ter esse protagonismo que tem hoje, vai ter que ser mais uma peça nessa engrenagem.”

Júlio Celso Borello Vargas

Professor adjunto do Departamento de Urbanismo da UFRGS. Doutor com estágio na Universidade de Washington, nos EUA. Pesquisador visitante na Oxford Brookes University

Produzido por Alberi Neto
e Ana de Melo

Desenvolvimento por Thiago Quadros

Arte por Guilherme Falcão

Edição por José Orenstein

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