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Leonardo Sakamoto


17 de fevereiro de 2018

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Foto: Divulgação

O jornalista Leonardo Sakamoto indica cinco obras que ajudam a refletir sobre os discursos de ódio hoje em dia

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A saída para contrapor uma voz não é forçar o silêncio, mas, sim, a entrada de outra voz. O silêncio dói, machuca. O diálogo é música. Sinto um amargo na boca quando vejo pessoas que, sob o risco de verem seus argumentos naufragarem em sua própria arrogância, tentam calar o outro. Ganhar no grito é prova de fraqueza intelectual, e não de força.

Ao mesmo tempo, muita gente simplesmente repete mantras que lê na internet, ouve em bares ou vê na igreja e não para pra pensar se concorda ou não realmente com aquilo. Ou se aquilo é baseado em fatos reais ou apenas uma construção falsa para manipular e desinformar. Vivemos um “nós contra eles” cego, que utiliza técnicas de desumanização, tornando o outro uma coisa sem sentimentos. Isso é muito útil durante momentos polarizados como este, mas péssimo para erguer um futuro viável ao país.

Os cinco livros abaixo são recomendados por mim na disciplina de Jornalismo, Ódio e Intolerância, que ministro na PUC-SP. Espero que possa ser útil para ampliar e qualificar o debate público.

Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal

Hannah Arendt

Hannah Arendt conta a história da captura do carrasco nazista Adolf Eichmann, na Argentina, por agentes israelenses, e seu consequente julgamento. Ao contrário da descrição de um demônio que todos esperavam, o que ela viu foi um funcionário público medíocre e carreirista, que não refletia sobre suas ações e atividades e que repetia clichês burocráticos. Ele não possuía história de preconceito aos judeus e não apresentava distúrbios mentais ou caráter doentio. Agia acreditando que, se cumprisse as ordens que lhe fossem dadas, ascenderia na carreira e seria reconhecido entre seus pares por isso. Cumpria ordens com eficiência, sendo um bom burocrata, sem refletir sobre o mal que elas causavam.

Para educar crianças feministas: um manifesto

Chimamanda Ngozi Adichie

No livro, a escritora nigeriana propõe formas de romper o machismo e o preconceito na sociedade por meio da educação das novas gerações. Ao contrário do que pode parecer pelo título, a publicação não é voltada apenas a pais e mães, mas a todos que ainda têm dúvidas sobre o poder transformador do feminismo. E por mais que o livro possa servir de manual por conta das sugestões de reflexão que ela dá à vida cotidiana, Chimamanda escreve de forma acessível e longe do tom professoral.

Linchamentos – A Justiça Popular no Brasil

José de Souza Martins

Mais de um milhão de pessoas participaram de ações de justiçamento de rua no país nos últimos 60 anos, o que faz do Brasil um dos locais com maior incidência de linchamentos do mundo. Não foram apenas atos motivados por morte e estupro de crianças e roubos, mas também por medos arcaicos, temores sem fundamentos e descrença nas instituições responsáveis por cumprir a lei. Para o autor, o linchamento evidencia uma crise da ordem social. Contudo, não é coisa nova por aqui. O primeiro de que se tem notícia data de 1585 na Bahia.

UnSpun: Finding Facts in a World of Disinformation

Jamieson Brooks e Kathleen Hall

Apesar de ser de 2007, este livrinho – que não foi publicado no Brasil, mas pode ser adquirido em formado e-book – segue sendo um bom curso intensivo de alfabetização midiática. Os autores trazem sinais que devemos aprender a detectar de que determinado conteúdo não é confiável e mostram os truques usados para fazer com que as pessoas aceitem um fato falso como verdadeiro. É especialmente interessante para entender que o processo de produção de conteúdo com o objetivo de manipular ou desinformar é mais sutil do que se imagina.

O que aprendi sendo xingado na internet

Leonardo Sakamoto

Peço perdão por recomendar um livro de minha própria autoria. Mas ele é um dos primeiros que se debruça sobre o ódio e a intolerância nas redes sociais brasileiras e debate o fenômeno da desinformação em grande escala pela internet. Não tem o objetivo de apontar quem está certo ou errado no debate público, mas chama à reflexão sobre o nosso papel em toda essa situação. Oferece formas e instrumentos para combater o ódio e a intolerância e – sobretudo – para que os leitores não caiam nas armadilhas de gente irresponsável, incompetente ou de má-fé e acabem se tornando massa de manobra na rede.

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo. Professor de Jornalismo na PUC-SP, foi pesquisador visitante do Departamento de Política da New School, em Nova York. É diretor da ONG Repórter Brasil, conselheiro do Fundo das Nações Unidas para Formas Contemporâneas de Escravidão e escreve diariamente no portal UOL sobre política e direitos humanos.

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