Expresso

O sumiço de um presidente que rejeita vacinas na Tanzânia

Camilo Rocha

11 de março de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h01)

John Magufuli fica semanas sem aparecer em país que, sob sua gestão, não divulga dados sobre a pandemia

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FOTO: SADI SAID/REUTERS

Homem de terno escuro e gravata vermelha sorri e faz saudação com a mão direita. Atrás dele, estão uma mulher e outro homem

O presidente da Tanzânia, John Magufuli

Conhecido por seu negacionismo extremado diante da covid-19, o presidente da Tanzânia John Magufuli pode ter sido internado pela doença . Com 61 anos, o político teria sofrido um ataque cardíaco.

Quem afirma isso é o líder da oposição Tundu Lissu, mas as informações ainda não foram checadas por uma fonte independente. De acordo com Lissu, falando à BBC , seu adversário político está hospitalizado em estado grave no vizinho Quênia. Na quarta-feira (10), Magufuli, conhecido por fazer frequentes discursos públicos e aparições na televisão, não era visto há quase duas semanas.

Outro político do país, que permaneceu anônimo por medo de retaliação, declarou à Associated Press que ouviu de pessoas próximas do presidente que ele estava internado em estado grave.

A Tanzânia se tornou um caso radical de rejeição de medidas de combate à covid-19. Católico devoto, Magufuli declarou em maio de 2020 que o país estava livre da covid-19 depois de três dias de orações nacionais contra o vírus “satânico” convocadas pelo presidente. Templos cristãos e mesquitas em todo o país lotaram com os fiéis. “O coronavírus não pode sobreviver no corpo de Jesus Cristo, ele queimará”, disse o líder na época.

Desde então, o presidente tanzaniano se recusou a decretar lockdown, manteve escolas abertas, permitiu reuniões em templos religiosos e autorizou a realização de grandes eventos esportivos. As campanhas de conscientização foram canceladas.

Em fevereiro de 2021 , sua ministra da Saúde, a médica Dorothy Gwajima, afirmou que o país não tinha nenhuma intenção de comprar vacinas, citando dúvidas quanto à segurança dos imunizantes. Na ocasião, Gwajima declarou que praticar higienização constante, exercitar, comer bem e usar “remédios naturais” deveriam ser as estratégias dos tanzanianos na prevenção do novo coronavírus.

A Tanzânia é considerado um país de baixo desenvolvimento humano (163ª posição no ranking global de IDH). Cerca de metade da população sobrevive com aproximadamente R$ 10 por dia ou menos, de acordo com dados do Banco Mundial. Por outro lado, segundo a mesma entidade, o país foi um dos que mais cresceu economicamente no continente africano em anos recentes (o PIB aumentou 5,5% em 2018 e 5,7% em 2019).

Desde maio, o país não publica informações oficiais sobre número de infectados ou mortos no país porque o governo não divulga dados desde maio de 2020. Nesta data, o país registrava 21 mortes e 509 casos de covid-19. A OMS (Organização Mundial da Saúde) repetidamente cobra o governo tanzaniano por dados, sem sucesso.

Segundo especialistas no país, o negacionismo governamental tem como resultado uma população desprotegida e um vírus que se espalha sem controle. “De uma hora para outra, pessoas estão morrendo do que é classificado de ‘pneumonia’ e ‘dificuldades respiratórias’”, escreveu Catherine Kyobutungi, diretora-executiva do Centro de Pesquisa de Saúde da População Africana, no site The Conversation . Kyobutungi também alertou para o desenvolvimento de novas variantes nesse contexto.

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