A busca por um remédio eficaz contra a covid-19
Cesar Gaglioni
17 de junho de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h11)Há 76 medicamentos em desenvolvimento no mundo para dar soluções específicas para tratar a doença. Os mais promissores são de empresa americana e universidade canadense
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Comprimidos de molnupiravir, da Merck/MSD
Pelo menos dois medicamentos contra a covid-19 estão em estágios avançados de desenvolvimento e apresentaram dados preliminares promissores. Um deles terá estudos clínicos no Brasil .
As drogas estão sendo desenvolvidas pelas farmacêuticas americanas Merck (conhecida no Brasil como MSD) e pela Universidade Health Network, no Canadá.
São substâncias antivirais desenvolvidas especificamente para a covid-19, e não medicamentos já existentes, com outras finalidades, usados para tratar o vírus, como a hidroxicloroquina – que surgiu como promessa em 2020, mas, com o tempo, mostrou-se comprovadamente ineficaz .
Neste texto, o Nexo explica em que pé estão os estudos de novos medicamentos e o que uma droga comprovadamente eficaz poderia significar para a pandemia.
Estudado desde outubro de 2020, um medicamento da Merck/MSD é o que está em estágio mais avançado de desenvolvimento.
O comprido molnupiravir tem como objetivo impedir a reprodução do vírus no organismo ainda nos primeiros dias de infecção. O tratamento é feito com pílulas de 800mg do composto, administrada duas vezes ao dia, por cinco dias – um regime similar ao de diversos antibióticos.
Em 11 de junho, a empresa anunciou que fará estudos com o molnupiravir no Brasil, em sete centros de pesquisa :
Os sete centros de pesquisa estão recrutando voluntários por meio de seus respectivos telefones. Os voluntários precisam ter mais de 18 anos, apresentar diagnóstico da covid-19 e no máximo quatro dias de sintoma e ter alguma comorbidade que pode agravar a doença, como doenças pulmonares ou diabetes. Os voluntários não podem ter recebido doses de nenhuma das vacinas contra o coronavírus.
A expectativa da Merck/MSD é concluir os estudos com o molnupiravir até setembro de 2021 e, caso os resultados sejam positivos, iniciar a produção. Um possível preço para o remédio não foi divulgado.
O molnupiravir é usado para pacientes que descobriram a infecção rapidamente. Uma droga para pacientes graves e hospitalizados foi ensaiada pela MSD, mas descartada após entraves na condução dos testes.
A Universidade Health Network, em Toronto, no Canadá, estuda desde novembro de 2020 o medicamento peginterferon-lambda.
O comprimido atua impedindo que o organismo produza uma reação imunológica exagerada contra o vírus – uma das principais causas de mortes por covid-19. A ideia é que o medicamento seja administrado de forma preventiva, para pacientes com quadro leve.
Nos casos mais graves, o coronavírus chega aos alvéolos pulmonares, pequenos sacos de ar presentes no pulmão, responsáveis pela troca gasosa que oxigena o sangue.
Lutando contra o coronavírus, o corpo desencadeia um processo inflamatório. Porém, se a inflamação for muito intensa, o indivíduo pode ter seus alvéolos preenchidos com líquidos, cenário que caracteriza a pneumonia. Com os alvéolos obstruídos, a oxigenação do sangue pode diminuir, causando o quadro de insuficiência respiratória.
Se a insuficiência respiratória for mais grave, o paciente pode precisar ser encaminhado para uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) a fim de respirar com o auxílio de equipamentos.
Nos casos gravíssimos, a inflamação se espalha para além dos pulmões, causando ainda mais danos, como insuficiência renal e danos intestinais, que podem levar à morte.
O objetivo do remédio peginterferon-lambda é impedir essa reação. Em fevereiro de 2021, um artigo com dados preliminares foi publicado na revista britânica The Lancet.
A droga, administrada em doses de 180 microgramas (milionésimo de grama) foi eficaz em 80% dos 30 pacientes analisados para essa fase do estudo.
A universidade não estabeleceu um prazo para a conclusão dos estudos com a peginterferon-lambda.
Ao todo, 76 remédios contra a covid-19 estão em desenvolvimento globalmente.As substâncias estão em diferentes fases de pesquisa. As iniciativas da Merck e da universidade canadense são aquelas que mais avançaram e que podem ser promissoras.
Apenas um remédio tem recomendação de uso oficial contra a covid-19. Trata-se do remdesivir, droga desenvolvida para o tratamento do ebola e que apresentou bons resultados.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o uso da substância em pacientes gravíssimos, mas, dado o preço elevado ( R$ 17 mil pelos cinco dias de tratamento) e as dificuldades de importação, ela não está sendo administrada no Brasil. Ainda sim, o uso do remdesivir não tem consenso dentro da comunidade científica.
Entender as dinâmicas estruturais do vírus foi o principal fator para a demora no desenvolvimento de remédios contra a covid-19. A maior parte dos medicamentos pesquisados começou a ser desenvolvido “do zero” (ou algo muito próximo disso).
As vacinas, por outro lado, se aproveitaram de anos de pesquisa com outros tipos de coronavírus e tecnologias que já estavam em estágios avançados de desenvolvimento.
Um remédio eficaz e seguro contra a covid-19 – em complemento com as vacinas – poderia mudar os rumos da pandemia, segundo infectologistas.
“Esse seria o verdadeiro tratamento precoce , caso seja confirmada sua eficácia”, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo o infectologista Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP.
Se uma substância tivesse sua eficácia e segurança comprovadas, sendo capaz de impedir a replicação do vírus e barrar a transmissão, os índices de internação e morte despencariam e algum senso de normalidade poderia voltar à vida cotidiana.
“Se aparecer um comprimido que seja capaz de combater o vírus de forma a afetar a progressão da doença e a abortar a transmissão, isso teria um impacto enorme ”, disse ao jornal O Globo Mauro Schechter, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“Uma droga oral que impede o vírus de se replicar seria uma ferramenta muito importante para reduzir a gravidade da pandemia”, afirmou ao canal americano NBC a infectologista Diana Bianchi, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA.
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