Expresso

Qual o estágio das pesquisas de novas vacinas contra a covid

Estêvão Bertoni

13 de agosto de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h17)

Ao menos 32 imunizantes estão na fase 3 de testes em humanos pelo mundo. No Brasil, voluntários participam dos ensaios de 5 substâncias em desenvolvimento

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FOTO: AMMAR AWAD/REUTERS – 13.AGO.2021

Imagem mostra mulher com luvas azuis e máscara preta segurando com as duas mãos uma seringa espetada de baixo para cima num frasco de vacinas. Ela parece sorrir

Profissional de saúde prepara vacina contra a covid-19 em clínica de Jerusalém



Desde que as primeiras vacinas contra a covid-19 foram liberadas para uso, no final de 2020, até meados de agosto de 2021, apenas 16% da população mundial conseguiu se imunizar totalmente contra a doença. Nesse período, oito vacinas criadas em tempo recorde conseguiram aprovação de agências reguladoras.

Por serem um produto extremamente escasso, tornaram-se alvo de disputa entre os países. Por isso, os laboratórios continuam trabalhando em novos imunizantes, num contexto em que o aparecimento de novas variantes dificulta o combate à pandemia e aumenta as chances de a covid se tornar uma doença persistente, que exige vacinação periódica.

Um levantamento do jornal The New York Times mostra que, até agosto de 2021, 32 vacinas experimentais estavam na fase 3 de testes em humanos, a última etapa antes da aprovação — ao menos 5 desses estudos clínicos estavam sendo realizados com voluntários brasileiros.

Neste texto, o Nexo mostra qual o estágio atual de desenvolvimento das vacinas no Brasil e no mundo, quais são consideradas mais promissoras e quais imunizantes ainda podem chegar ao país.

Brasil: as vacinas usadas e testadas

A vacinação contra a covid-19 teve início no país em janeiro, com a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. Desde o começo de 2021, a Anvisa já aprovou quatro vacinas:

  • Pfizer
  • Coronavac
  • AstraZeneca
  • Janssen

O governo federal diz ter garantido, para 2021, mais de 600 milhões de doses dessas quatro vacinas, o suficiente para imunizar toda a população que pode ser vacinada. Duas outras receberam autorização excepcional para importação, mas têm enfrentado dificuldades tanto em se adequar às exigências sanitárias quanto nas negociações, que viraram alvo de investigação:

  • Covaxin
  • Sputnik V

O contrato do Ministério da Saúde, no valor de R$ 1,6 bilhão, para a compra de 20 milhões de doses da indiana Covaxin, foi cancelado depois de suspeitas de irregularidades. A vacina do laboratório Bharat Biotech foi negociada com o governo pela representante Precisa Medicamentos, que passou a ser investigada pela CPI da Covid.

Já a Sputnik, negociada com o consórcio Nordeste, enfrenta barreiras na Anvisa por não se adequar aos critérios exigidos pela agência. Sua chegada havia sido anunciada para julho, mas os governadores decidiram suspender a compra em agosto. Eram esperadas 37 milhões de doses.

Além das vacinas já em uso e liberadas para importação, outros cinco novos imunizantes estão sendo testados em voluntários brasileiros.

Diferentemente dos ensaios clínicos realizados com as primeiras vacinas, os testes na atual fase da pandemia não usam mais um grupo que recebe um placebo (substância sem efeito), com o objetivo de comparar os resultados, pois não seria ético privar um voluntário de tomar um imunizante que está disponível e que vai protegê-lo. No lugar do placebo, é usado uma vacina de outro fabricante, e os estudos vão comparar, portanto, qual delas têm maior eficácia.

Vacinas em estudo no Brasil

Butanvac

Em junho de 2021, a Anvisa autorizou estudos de fase 1 e 2 da vacina do Butantan, em 6.496 voluntários. Baseada numa tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos, ela é feita a partir de um vírus que causa a doença de Newcastle , uma gripe aviária, mas que é inofensivo em humanos. Cultivado em ovos embrionados de galinhas, esse vírus é modificado para carregar uma proteína do novo coronavírus. Uma vez no organismo humano, ele estimula o sistema imune a produzir anticorpos e células de defesa. Segundo o Butantan, a proteína a ser usada na vacina será a da variante gama, surgida em Manaus.

Clover

A vacina da farmacêutica Clover, sediada na China, está sendo testada nas fases 2 e 3 no Brasil desde abril de 2021, quando conseguiu autorização da Anvisa . São 12.100 voluntários de um total de 22 mil participantes em todo o mundo. Com duas doses aplicadas num intervalo de 22 dias entre elas, a vacina utiliza pedaços da proteína S, que reveste o coronavírus, combinados com adjuvantes, substâncias que potencializam a resposta imune.

Medicago

A farmacêutica canadense Medicago, em parceria com a britânica GSK, obteve em abril autorização da Anvisa para testes da fase 3, em 3.500 voluntários brasileiros (de um total de 30.918 em todo o mundo). Sua vacina usa plantas vivas para produzir uma partícula infecciosa que imita um vírus — sua estrutura é baseada no novo coronavírus.

Sanofi Pasteur

Os estudos da empresa francesa Sanofi Pasteur aprovados no Brasil são das fases 1 e 2, com 150 voluntários (de um total de 333 em todo o mundo). A vacina, a exemplo da Pfizer e da Moderna, usa uma tecnologia de RNA mensageiro. São duas doses, com 21 dias de intervalo entre elas.

Academia Chinesa de Ciências Médicas

Em julho, a Anvisa autorizou o Instituto de Biologia Médica da Academia Chinesa de Ciências Médicas a realizar seus estudos de fase 3 com 7.992 voluntários brasileiros, de um total de 34.020 em todo o mundo. A vacina, que exige duas doses, com intervalo de 14 dias entre elas, usa a tecnologia de vírus inativado, mesma da Coronavac.

As vacinas que podem chegar ao Brasil

Duas vacinas chinesas usadas por vários países têm chances de serem futuramente adotadas no Brasil. A Convidecia, criada pela CanSino, é baseada num adenovírus (vírus comum de resfriado) modificado com o material genético do coronavírus. Ela usa apenas uma dose, a exemplo da vacina da Janssen. Sua eficácia é de 65,28%. Países como Chile, México e Paquistão, além da própria China, adotaram a vacina em suas campanhas de imunização.

No Brasil, ela chegou a ser negociada com o Ministério da Saúde, mas os acordos entraram na mira da CPI da Covid. Depois disso, o laboratório chinês decidiu descredenciar a empresa paranaense que atuava como sua representante no país. Na quinta-feira (12), a CanSino afirmou que ainda tem interesse em vender o produto para o país.

Outro imunizante chinês que vem sendo usado por vários países, principalmente da África e da Ásia, é a vacina da estatal Sinopharm, baseada no vírus inativado. Primeira a ser usada na China, ela apresentou uma taxa de eficácia de 78%.

No Brasil, um pedido de uso emergencial da Sinopharm foi feito em julho à Anvisa, pela representante Blau Farmacêutica, mas ainda está em análise.

A vacina da Moderna, usada nos Estados Unidos e em países da Europa, e que apresenta alta taxa de eficácia, inclusive contra a variante delta, que tem preocupado as autoridades sanitárias devido ao seu alto poder de contágio, não está em negociação no Brasil. Até meados de agosto, também não havia pedidos de registro na Anvisa.

Pelo mundo: preliminares, mas em uso

Há vacinas que, embora não tenham obtido registro definitivo em seus países, foram liberadas para uso emergencial com base em resultados preliminares das pesquisas. É o caso da QazVac, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa para Problemas de Segurança Biológica do Cazaquistão, país da Ásia central com cerca de 18,7 milhões de habitantes.

Baseada em vírus inativado, ela começou a ser usada localmente em abril, mesmo sem a publicação dos resultados da fase 3 dos ensaios clínicos. Até meados de agosto, o Cazaquistão tinha conseguido vacinar 32% da população com ao menos uma dose — e 24% com as duas.

A Rússia, que autorizou ainda em agosto de 2020 o uso da Sputnik mesmo sem os resultados da fase 3, também conta com outra vacina de forma emergencial. É a EpiVacCorona, desenvolvida pelo Instituto Vector, um centro de pesquisa biológica do país. Em janeiro de 2021, o órgão russo de vigilância em saúde anunciou que o imunizante tinha eficácia de 100% , taxa que os pesquisadores dizem ser impossível de ser atingida por qualquer vacina. No mesmo mês, ela passou a ser usada na campanha de imunização russa.

Assim como no caso da Sputnik, seus dados são contestados por cientistas. Os resultados das fases 1 e 2, por exemplo, foram publicados em março numa revista científica russa que não tem reconhecimento.

Outras promessas em desenvolvimento

Uma das apostas do governo dos Estados Unidos foi feita na empresa Novavax, que recebeu US$ 1,75 bilhão para desenvolver um imunizante que carrega partículas da proteína do novo coronavírus. O laboratório já trabalhava anteriormente em vacinas contra a gripe.

Em junho, a empresa anunciou que, em testes realizados com quase 30 mil voluntários, ela apresentou uma eficácia de 90,4%, taxa comparável às vacinas da Pfizer e da Moderna, que usam RNA mensageiro.

O problema é que a farmacêutica vem enfrentando dificuldades para produzir em massa os imunizantes (o que atrasou, inclusive, os estudos) e em se adequar aos padrões de qualidade exigidos pelo FDA (Food and Drug Administration, agência do departamento de Saúde americano), o que coloca em risco o financiamento do projeto.

No Brasil, além da Butanvac, há outras iniciativas nacionais que também tentam avançar para a fase de testes em humanos. A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), por exemplo, trabalha no desenvolvimento da vacina Spintec, que usa em sua composição pedaços das proteínas que revestem o coronavírus.

No final de julho, a universidade pediu à Anvisa autorização para iniciar os estudos de fase 1 e 2. Ela será testada em voluntários que já receberam duas doses da Coronavac. O objetivo é avaliar se ela poderia ser usada como uma terceira dose de reforço.

Em março de 2021, outro pedido de autorização para o início dos ensaios clínicos com a Versamune, desenvolvida pela Farmacore, uma startup de biotecnologia, em parceria com a USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, foi feito à Anvisa. Ela também é baseada em proteínas do coronavírus. A análise também está pendente .

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