Expresso

10 perguntas e respostas sobre vacinar crianças contra covid

Mariana Vick

22 de dezembro de 2021(atualizado 28/12/2023 às 23h35)

Com o início da imunização da faixa etária, o ‘Nexo’ tira dúvidas sobre a segurança e a eficácia do imunizante da Pfizer aprovado pela Anvisa e aplicado em pessoas de 5 a 11 anos no Brasil

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FOTO: HANNAH BEIER/REUTERS – 05.DEZ.2021

Menina de cabelo e olhos castanhos está de cabelo preso e usa máscara rosa com desenhos de princesas da Disney. Ela está sentada e olha séria para a câmera. Uma pessoa aplica a vacina em seu braço direito.

Menina se vacina contra a covid-19 com imunizante da Pfizer nos EUA

Após a inclusão de crianças de 5 a 11 anos na campanha nacional de imunização contra a covid-19 pelo Ministério da Saúde e a chegada das doses pediátricas da Pfizer, a maioria dos estados brasileiro começou a vacinar a faixa etária entre sexta (14) e esta segunda-feira (17).

A imunização teve início após entraves que atrasaram a aplicação das doses. O governo federal criticou a vacinação infantil após a aprovação daAnvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), em dezembro de 2021, e demorou a comprar as vacinas infantis. As primeiras doses da Pfizer chegaram ao país na quinta-feira (13).

O Nexo responde a 10 perguntas sobre a vacinação em crianças, incluindo o que dizem os estudos da Pfizer, qual a eficácia do imunizante e por que os benefícios da vacina superam eventuais riscos. Mostra também as regras adotadas no Brasil para a vacinação do grupo de 5 a 11 anos.

A vacina contra a covid-19 é segura para crianças?

Sim. Segundo a Anvisa, a vacina da Pfizer contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos, quando administrada no esquema de duas doses, é segura e eficaz na prevenção da covid-19 sintomática, de formas graves da doença e mortes.

A Anvisa chegou a essa conclusão depois de analisar os dados de estudos de fase 1, 2 e 3 feitos pela Pfizer nos últimos meses e enviados à agência. Essas etapas são necessárias para a aprovação de qualquer vacina e asseguram a segurança e a eficácia das doses.

Os estudos contaram com quase 4.000 voluntários, que foram divididos em dois grupos que receberam a vacina e um terceiro que recebeu um placebo (substância sem eficácia). Nos testes, o imunizante apresentou 90% de eficácia, valor semelhante ao obtido em ensaios clínicos com adultos.

FOTO: AMANDA PEROBELLI/REUTERS – 14.JAN.2022

Enfermeira aplica vacina no braço de menino indígena

Menino indígena Xavante, em tratamento para comorbidade motora rara, é a primeira criança de 5 a 11 anos vacinada em São Paulo

Também houve proteção contra a variante delta do coronavírus — ainda não há dados sobre a ômicron (cepa descoberta no fim de novembro na África do Sul), embora, com adultos, a proteção tenha sido considerada insuficiente e só garantida com uma terceira dose de reforço, segundo a Pfizer.

A vacina para as crianças é a mesma que para adultos?

Não. Apesar de ser também da Pfizer, a vacina aprovada para crianças de 5 a 11 anos tem dosagem, composição e concentração de RNA mensageiro — principal componente do imunizante — diferente da usada em adultos. A dose equivale a cerca de um terço da que é administrada em pessoas com 12 anos ou mais.

O frasco da vacina infantil também tem cor diferente — o que deve ajudar os profissionais da saúde na hora da aplicação. Entre as vantagens da dose pediátrica, está a de que pode ser mantida em geladeiras comuns, diferentemente da que é aplicada em adultos.

O RNA mensageiro da vacina da Pfizer traz algum risco maior?

Não. Apesar de estarem sendo usadas em larga escala pela primeira vez na pandemia de covid-19, as vacinas que usam a tecnologia de RNA mensageiro vêm sendo estudadas há décadas, e seu uso é seguro, como mostraram os testes clínicos da vacina da Pfizer.

Imunizantes feitos de mRNA garantem imunidade contra doenças como qualquer outro. A diferença está em como eles fazem isso: enquanto vacinas convencionais usam vírus atenuados ou inativados para despertar a resposta imune do organismo, essas utilizam o mRNA sintético desenvolvido em laboratório.

FOTO: RICARDO MORAES/REUTERS – 04.MAI.2021

Imagem põe foco sobre mão de pessoa que segura um pequeno frasco da Pfizer. Atrás do frasco, vê-se, desfocado, o rosto da pessoa.

Profissional de saúde segura frasco da Pfizer

Para entender como elas funcionam, é preciso lembrar que o mRNA serve para fornecer informações ao organismo para criar proteínas. No caso da vacina contra a covid-19, o mRNA produzido em laboratório ensina o corpo humano a fabricar a proteína S do Sars-CoV-2, responsável pela ligação do vírus com as células humanas.

Assim que a vacina é injetada e o organismo passa a fabricar essas proteínas, os processos de defesa começam a se desencadear. Essas vacinas passaram a ser desenvolvidas por conta de vantagens como a segurança (elas não carregam agentes infecciosos), a eficácia e a facilidade de produção em larga escala.

Parte das pessoas imagina que, por serem feitas de material genético, as vacinas de mRNA podem alterar o DNA de quem as recebe. Essa ideia é falsa. Os elementos presentes nas vacinas não foram feitos para integrar o código genético humano. Além disso, o DNA humano tem um sistema de proteção que destrói códigos genéticos estranhos que alcancem o núcleo das células.

A vacina contra a covid-19 é experimental?

Não. Assim como outras vacinas aprovadas no Brasil contra a covid-19, a vacina da Pfizer para crianças passou por pesquisas clínicas que atestaram sua segurança e eficácia, e seus dados foram aprovados pela Anvisa — o que encerrou a fase de investigação do imunizante.

Dúvidas como essa também surgiram com o início da aplicação de vacinas contra a covid-19 em adultos, nos primeiros meses de 2021. Com o tempo, o sucesso da vacinação mostrou na prática que os resultados atingidos nos estudos clínicos se replicaram na realidade.

Apesar de as pesquisas clínicas estarem finalizadas, a vacina não deixará de ser monitorada quando começar a ser aplicada — o que deve conferir ainda mais segurança para o processo de imunização. Na etapa da chamada farmacovigilância, as autoridades sanitárias monitoram possíveis reações às doses, por mais raras que sejam.

O fato de a vacina ter sido desenvolvida rapidamente traz risco?

Não. Apesar de ter sido desenvolvida menos de dois anos desde o início da pandemia, a vacina da Pfizer para crianças passou por todas as etapas de estudos clínicos necessários até a aprovação, e em todas essas etapas as farmacêuticas garantiram ter cumprido os critérios de segurança.

FOTO: THILO SCHMUELGEN/REUTERS – 18.DEZ.2021

Imagem mostra menina sentada, com camisa de clube de futebol, segurando um bichinho de pelúcia, enquanto recebe vacina no braço esquerdo. Rosto dela foi cortado na foto para não identificá-la

Menina de 11 anos recebe vacina contra a covid-19 na cidade de Colônia, na Alemanha

Segundo cientistas, o avanço rápido dos estudos sobre as vacinas contra a covid-19 se deve a fatores como o grande financiamento para pesquisa durante a pandemia e a priorização das análises sobre essas vacinas dentro das agências de regulação, dada a urgência e a gravidade do momento.

Fatores como a alta circulação do coronavírus no mundo também contribuíram para que os estudos clínicos tenham ocorrido rapidamente, já que nesse contexto é mais fácil que os voluntários dos testes fiquem expostos ao vírus e a eficácia da vacina seja testada.

Além disso, desde anos atrás cientistas estudam os coronavírus por causa das epidemias de Sars em 2002 (também causada por um vírus da família do Sars-CoV-2) e de Mers em 2012. Parte do conhecimento necessário para criar as vacinas atuais, portanto, já existia.

A vacina pode ter efeitos colaterais nas crianças?

Segundo os dados clínicos enviados pela Pfizer à Anvisa, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose do imunizante apresentaram algum evento adverso (ou seja, alguma reação), mas em apenas 3,5% delas esses eventos tinham relação com a vacina. Nenhum deles foi grave.

Grande parte dos problemas vistos nas crianças era evitável — estavam ligados a erros na aplicação da vacina, por exemplo. Entre os sintomas reportados, os mais comuns foram dor no local da aplicação, vermelhidão, inchaço, cansaço e dor de cabeça.

Parte das pessoas se preocupa com a ocorrência de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) após a vacinação. Os estudos enviados à Anvisa não registraram esse problema entre crianças de 5 a 11 anos. Em idades maiores (16 e 17 anos), o risco foi de 0,007%, um valor muito baixo.

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é quanto aumentam as chances de uma pessoa com covid-19 desenvolver miocardite, em comparação com uma pessoa vacinada, segundo estudo da revista Nature

Segundo as pesquisas, as reações adversas apareceram dentro de poucas semanas após a aplicação da vacina. Cientistas afirmam que não é preciso se preocupar com efeitos colaterais de longo prazo, pois os componentes das vacinas se degradam após algumas semanas no organismo.

A covid-19 traz menos riscos para crianças?

Embora crianças tenham menos risco de desenvolver a forma grave da covid-19 em comparação com adultos, os efeitos da doença sobre a esse grupo são relevantes, segundo cientistas. Mesmo em quantidade menor, há casos graves, internações e mortes de crianças pela doença.

Segundo dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19, o país registrou 6.324 casos de síndrome respiratória aguda grave por covid-19 em crianças de 5 a 11 anos entre março de 2020, início da pandemia, e 5 de janeiro de 2022. Nesse período, houve 311 mortes.

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criança brasileira nessa faixa etária morreu de covid-19 a cada dois dias desde o início da pandemia, em média

Crianças infectadas com o novo coronavírus também correm o risco de desenvolver síndrome inflamatória multissistêmica, doença rara que envolve a inflamação de diversas partes do corpo. Outra consequência para crianças vista em estudos é a chamada covid-19 longa, com sequelas no longo prazo.

Com a vacinação, as crianças podem se proteger contra o risco de covid-19 e de suas formas mais graves e reduzir os efeitos da covid-19 longa. Imunizar esse grupo também é importante para diminuir sua contribuição na transmissão do novo coronavírus.

É verdade que a OMS é contra vacinar crianças?

A OMS (Organização Mundial da Saúde) não é contra a vacinação de crianças. Em novembro, a agência da ONU afirmou que os imunizantes contra a covid-19 que receberam autorização de entidades regulatórias (como a Anvisa no Brasil) para serem aplicados em crianças e adolescentes são seguros e eficazes para reduzir os impactos da doença nesses grupos.

A OMS considera, de fato, que não é prioritário vacinar crianças contra a covid-19, porque elas costumam ter sintomas menos severos em comparação com adultos e ainda há países com baixíssima cobertura vacinal, como alguns da África, em que mesmo profissionais de saúde não estão totalmente imunizados.

É importante notar, porém, que dizer isso é diferente de afirmar que as crianças não devem ser vacinadas. A OMS não considera urgente imunizar o grupo porque defende que é preciso primeiro haver doses disponíveis para todos os adultos.

Que outros países estão vacinando crianças?

Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Canadá, Israel, China, Cuba, Argentina e Colômbia estão entre os locais que autorizaram a vacinação contra a covid-19 em crianças. Os países têm utilizado diferentes imunizantes e os aplicado em diferentes faixas etárias.

O primeiro país a anunciar a vacinação infantil foi Cuba, que começou a aplicar seu imunizante, a Soberana 2, em crianças de 2 a 11 anos no início de setembro. O Chile anunciou a imunização a partir de 6 anos com a Coronavac pouco depois. Em outubro, os EUA autorizaram a aplicação da Pfizer em crianças a partir de 5 anos.

Cerca de 7,7 milhões de crianças de 5 a 11 anos foram vacinadas com ao menos a primeira dose nos EUA desde a aprovação da FDA (Food and Drug Administration, agência americana equivalente à Anvisa). Dados de farmacovigilância (nome dado ao monitoramento contínuo das vacinas) mostram que não houve eventos adversos de preocupação no país até agora.

Como será a vacinação de crianças no Brasil?

Segundo o Ministério da Saúde, a vacinação infantil deve priorizar crianças com comorbidade ou deficiência permanente, indígenas e quilombolas. Em seguida, a recomendação é que a campanha siga a ordem decrescente de idade (das crianças mais velhas, com 11 anos, para as mais novas).

É possível encontrar informações sobre o calendário nos canais oficiais dos municípios. De acordo com o governo federal, a maioria das cidades tem seguido a recomendação de iniciar a campanha pelos grupos prioritários. As regras, porém, podem variar em cada lugar.

FOTO: TOM BRENNER/REUTERS – 3.NOV.2021

Criança recebe imunização da Pfizer; imagem mostra injeção sendo aplicada no braço de criança

Criança é imunizada em Washington, Estados Unidos

Na cidade de São Paulo, por exemplo, todas as crianças com comorbidades, indígenas e quilombolas — não importa a idade — receberão a vacina primeiro. No Rio, a prefeitura optou por priorizar o critério de idade — de 11 anos para os mais novos —, embora respeitando, dentro de cada faixa etária, as prioridades definidas pelo ministério.

O intervalo entre as duas doses da vacina pediátrica será de oito semanas — na bula da vacina da Pfizer, a diferença prevista é de 21 dias, mas o Ministério da Saúde afirma que a resposta imunológica é maior com intervalo mais longo.

O governo não exigirá prescrição médica para a vacinação, como o Ministério da Saúde chegou a cogitar em dezembro de 2021. Caso o pai, a mãe ou o responsável pela criança a acompanhe na vacinação, também não há necessidade de autorização por escrito. Na sua ausência, será exigido o documento.

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