Expresso

O quadro da eleição a pouco mais de 6 meses da votação

Isabela Cruz

24 de março de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h26)

Cientistas políticos analisam a situação de Lula, líder nas pesquisas, Bolsonaro, que vai tentar reeleição, e nomes da ‘terceira via’, que ainda não chegaram a dois dígitos de intenção de voto

O Nexo depende de você para financiar seu trabalho e seguir produzindo um jornalismo de qualidade, no qual se pode confiar.Conheça nossos planos de assinatura.Junte-se ao Nexo! Seu apoio é fundamental.

FOTO: UESLEI MARCELINO/REUTERS – 22.FEV.2022

Close de Bolsonaro. Ao fundo, bandeira do Brasil

O presidente Jair Bolsonaro

Pesquisa do Datafolha publicada na quinta-feira (24) revela uma melhora de cenário para Jair Bolsonaro (PL) na corrida pelo Palácio do Planalto, a pouco mais de seis meses da votação do primeiro turno, marcada para 2 de outubro.

26%

é o percentual de brasileiros que pretendem votar em Bolsonaro no primeiro turno, quando a pesquisa é feita de forma estimulada. Esse percentual variava entre 21% e 22% em dezembro

O presidente melhorou seu desempenho nas simulações estimuladas, quando são apresentados nomes aos entrevistados, nas respostas espontâneas, quando o entrevistado cita um nome de preferência sem qualquer estímulo, e também teve queda de rejeição, apesar de ela continuar alta: 55% dizem não votar nele de jeito nenhum.

Luiz Inácio Lula da Silva permanece com uma ampla margem de vantagem tanto na pesquisa estimulada quanto na espontânea, apesar de a diferença para Bolsonaro ter sido reduzida. O ex-presidente tem rejeição menor do que a do atual titular do Palácio do Planalto: 37% dizem não votar no petista de jeito nenhum.

43%

é o percentual de brasileiros que pretendem votar em Lula no primeiro turno, quando a pesquisa é feita de forma estimulada. Esse percentual variava entre 47% e 48% em dezembro

O Datafolha ressalta que a comparação direta da pesquisa de março de 2022 com as anteriores pode gerar algumas distorções. Isso porque nomes desistiram de suas pré-candidaturas, como os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Alessandro Vieira (PSDB-SE).

Apesar da observação do instituto, é possível aferir uma redução na diferença entre Lula e Bolsonaro, devido ao fato de os nomes que desistiram terem um baixo percentual de intenção de votos. Essa tendência de redução entre o primeiro e o segundo colocados na corrida presidencial já havia sido detectada por outras pesquisas.

A chamada “terceira via” continua sem marcar dois dígitos nas pesquisas. No Datafolha, Sergio Moro (Podemos) tem 8% na estimulada, e Ciro Gomes (PDT) tem 6%. João Doria (PSDB) fica com só 2%.

PRIMEIRO TURNO

Intenção de voto para presidente em 2022 - Datafolha 24 de março

A simulação de segundo turno entre Lula e Bolsonaro confirma a queda da diferença entre os dois. Em dezembro de 2021, a diferença entre o petista e o presidente filiado ao PL era de 29 pontos percentuais (59% a 30%). Em março de 2022, a diferença caiu para 21 pontos (55% a 34%).

Segundo turno

No eixo vertical, percentuais. No eixo horizontal, datas da pesquisa. Linhas indicam trajetórias de Lula, Bolsonaro, Branco/Nulo/Nenhum, Não Sabe.

Caso a eleição presidencial não termine no primeiro turno, em 2 de outubro (algo que ocorre apenas se um dos candidatos obtiver mais de 50% dos votos válidos), o segundo turno será realizado em 30 de outubro.

A pesquisa do Datafolha, registrada no Tribunal Superior Eleitoral pelo código BR-08967/2022, foi realizada na terça (22) e quarta (23) com 2.556 eleitores, em 181 cidades de todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

O que mudou na virada para 2022

Cientistas políticos ouvidos pelo Nexo caracterizam o cenário polarizado como de “conforto com preocupações” para Lula e de “recuperação de parte de seus eleitores” para Bolsonaro, com destaque para os evangélicos e para a classe média.

Enquanto em dezembro Lula tinha seis pontos de vantagem sobre Bolsonaro entre evangélicos (39% a 33%), agora é o atual presidente que está na frente numericamente: 37% a 34%.

Entre os brasileiros com renda de dois a cinco salários mínimos, Bolsonaro reverteu a vantagem de 17 pontos percentuais que Lula tinha nessa faixa, e agora tem o apoio de 45%, contra 43% do petista.

Os novos números saem num contexto em que se cristaliza a possibilidade de Lula ter como vice o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que deixou o PSDB e, na quarta (23), se filiou ao PSB.

Outras mudanças em relação a dezembro foram a organização da distribuição do Auxílio Brasil, a disparada do preço da gasolina como consequência da guerra na Ucrânia e as revelações recentes sobre a atuação paralela de pastores evangélicos dentro do Ministério da Educação , acusado de corrupção na liberação de verbas da pasta.

Os resultados de março sob análise

O Nexo conversou com dois cientistas políticos especialistas em comportamento eleitoral sobre a situação dos pré-candidatos a pouco mais de seis meses do primeiro turno:

  • Carolina de Paula é diretora executiva do DataIesp, agência de pesquisa aplicada vinculada à Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
  • Hilton Cesario Fernandes é professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo)

Como avalia a situação de Lula?

Carolina de Paula Já foi mais confortável, mas ainda é uma situação bastante estável, com um número de pessoas decididas a votar em Lula muito alto. Quando desconsideramos a margem de erro e usamos agregadores de pesquisas, fica impossível dizer que há um movimento acontecendo.

Ainda assim, para a eleição do Executivo federal, os palanques estaduais são muito importantes, e Lula vem trabalhando nesse aspecto. É uma situação confortável, especialmente porque ele vem tendo uma rejeição bem menor do que a de Bolsonaro, mas com preocupações, como a recuperação de parte do eleitorado evangélico por Bolsonaro.

Hilton Fernandes Apesar de ser uma situação confortável, Lula precisa mostrar fôlego. A diminuição da sua intenção de voto tem que ser vista com cuidado, pois no voto espontâneo [a mudança] está dentro da margem de erro e no voto estimulado os cenários são diferentes dos de dezembro.

Ainda assim, essa redução pode representar um sinal de alerta na campanha petista se indicar um teto [de intenções de voto]. Ter o Alckmin como vice, embora não acrescente votos diretamente para Lula, é estratégico para diminuir sua rejeição, em especial no mercado financeiro.

Agora Lula terá que se esforçar para não perder votos, em especial entre a população evangélica. Este grupo utiliza fortemente as redes sociais para se comunicar, arena muito bem ocupada pela campanha bolsonarista.

E a situação de Bolsonaro?

Carolina de Paula O crescimento ainda é tímido, pouco fora da margem de erro, mas já é um crescimento. As pesquisas como a do Datafolha ainda não capturaram, mas as pesquisas qualitativas, que tenho feito muito em todos os estados, mostram que a liberação das máscaras [contra a covid-19] gera uma sensação de que o Brasil está melhorando, o que beneficia quem está no poder, Bolsonaro. O Auxílio Brasil também já mostra seu impacto [em benefício do atual presidente]. Ainda vamos ver os impactos de ações recentes, como liberação do FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço] e a antecipação do décimo terceiro, que são medidas bastante populares.

O problema é que a rejeição de Bolsonaro, apesar da queda, ainda é muito alta. Daí a importância para ele de moderar o discurso, ao contrário do que ele vinha fazendo contra as vacinas, as urnas eletrônicas e as instituições. A entrada dele ao PL, que é um partido mais tradicional, deve colaborar para isso e já reverberou nesse sentido, com o aumento do apoio a Bolsonaro entre o eleitorado de classe média.

Hilton Fernandes É uma situação mais positiva [em relação a dezembro], em que sua candidatura se recupera. Os resultados do Datafolha confirmam o que os demais institutos estavam mostrando desde fevereiro: uma melhora no desempenho de Bolsonaro e a concentração dos votos nos dois primeiros colocados, consolidando a polarização. Fatores como o Auxílio Brasil, o arrefecimento das mortes pela pandemia de covid-19 e a diminuição das declarações polêmicas de Bolsonaro ajudam a explicar essa recuperação, como mostra também a melhora na avaliação do governo .

Considerando outras pesquisas que divulgaram cruzamentos dos perfis dos eleitores, aparentemente Bolsonaro está recuperando parte do eleitorado que o apoiou em 2018, diminuindo o espaço de crescimento para candidatos à direita, notadamente Sergio Moro. Trata-se da base que o elegeu: eleitores mais conservadores, evangélicos, com maior renda. Muitos se afastaram do presidente ao avaliar mal sua administração, mas, ao não verem uma alternativa para disputar contra Lula, retomaram o apoio a Bolsonaro.

A queda da rejeição a Bolsonaro também é importante. A rejeição estabelece os limites do voto. Quem diz que não votaria de jeito nenhum em um candidato raramente indicaria o voto nele em outra pergunta da mesma pesquisa. Bolsonaro estava com 60% de rejeição em dezembro de 2021, o que limitava sua intenção de voto. Com a diminuição da rejeição, há mais eleitores em potencial. Isso também deve se refletir na avaliação de governo, que ainda será divulgada.

E a situação da terceira via?

Carolina de Paula A terceira via se mostra cada vez mais longe da situação de disputa real. Moro chegou a dar indícios de que poderia avançar, mas não vem crescendo conforme o esperado. A repercussão negativa [de falar de parlamentares] do MBL, principal grupo de apoio a sua candidatura, também prejudica Moro, que já tem uma bandeira muito descolada do momento. Temos visto que a agenda anticorrupção não é a agenda do eleitor de 2022. As pesquisas qualitativas pelo Brasil inteiro mostram que serão temas da campanha a agenda da saúde, apesar de a pandemia estar arrefecendo, e a agenda da economia, junto com causas sociais.

Ciro também tem dificuldade de encontrar seu eleitor. Ele perdeu muito com a entrada do Moro, pois não sabe se fala para a direita ou para a esquerda. A eleição se desenha entre Bolsonaro e Lula.

Tebet e Doria estão numa situação muito complicada, junto com [André] Janones [Avante-MG], por exemplo, que é um nome bem menor se comparado ao do governador do maior estado do Brasil [Doria], que já toma atitudes de campanha há bastante tempo. Tebet está sendo testada e deve se lançar para outro cargo, já que ela não quer sair de vice. A situação de Doria é a mais difícil de todas, considerando que ele tinha o ativo [de ter promovido a distribuição e fabricação no Brasil] da Coronavac [vacina contra covid-19] e não conseguiu emplacar mesmo assim. O PSDB, que já perdeu muitas cadeiras no Congresso e teve suas brigas nas prévias [para a escolha do candidato da legenda à Presidência], caminha para ser um partido pequeno.

Hilton Fernandes A situação é preocupante, porque os números já mostram uma antecipação de segundo turno [dada a polarização já para o primeiro turno]. A esperança dos candidatos da chamada terceira via é que aconteça algum fato novo capaz de mudar o quadro eleitoral. Para Ciro Gomes essa é uma situação mais difícil, pois depende de uma queda de Lula, que tem uma grande vantagem de votos e uma base fiel.

Apesar de também ser improvável, Sergio Moro e João Doria poderiam ser beneficiados por algum fato que prejudique Bolsonaro, uma vez que o eleitor bolsonarista pode optar por um voto útil contra Lula.

NEWSLETTER GRATUITA

Nexo | Hoje

Enviada à noite de segunda a sexta-feira com os fatos mais importantes do dia

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Gráficos

nos eixos

O melhor em dados e gráficos selecionados por nosso time de infografia para você

Este site é protegido por reCAPTCHA e a Política de Privacidade e os Termos de Serviço Google se aplicam.

Navegue por temas