Expresso

10 pontos da trajetória de Pelé como 1ª celebridade do esporte

Marcelo Montanini

29 de dezembro de 2022(atualizado 28/12/2023 às 22h52)

Rei do Futebol morre aos 82 anos. O ‘Nexo’ reúne passagens da carreira do maior jogador de futebol de todos os tempos

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FOTO: DIVULGAÇÃO

Homem negro de camisa amarela número 10 da seleção brasileira comemora em estádio

Pelé em imagem de arquivo que compõe novo documentário

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, morreu nesta quinta-feira (23), aos 82 anos. O Rei do Futebol, como ficou conhecido, lutava contra um câncer de cólon.

Pelé foi diagnosticado com o tumor em setembro de 2021. Em fevereiro de 2022, ele foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para dar continuidade ao tratamento com quimioterapia. Em dezembro do mesmo ano, ele voltou a ser internado, após ter covid-19.

Pelé é considerado o melhor jogador de futebol de todos os tempos. Ele marcou mais de 1.281 gols , conquistando o posto de maior artilheiro da história do Santos e da seleção brasileira. Também foi o primeiro brasileiro a atuar no futebol dos Estados Unidos e a assinar contratos milionários.

Pelé teve uma vida movimentada fora dos gramados como ministro, cantor, ator e garoto-propaganda. Neste texto, o Nexo relembra 10 momentos da carreira do maior jogador de todos os tempos.

O começo em Bauru

Nascido em 23 de outubro de 1940 na cidade mineira Três Corações, Pelé era o mais velho dos dois filhos do jogador de futebol João Ramos do Nascimento, conhecido como Dondinho, e da dona de casa Celeste Arantes. Dondinho atuou por Yuracan-MG, Atlético-MG e Bauru, entre outros.

Ainda criança, ele deu os primeiros passos no futebol em Bauru, em São Paulo, jogando por times amadores, como Sete de Setembro e Ameriquinha, primeira equipe em que ele calçou chuteiras.

Em 1953, aos 13 anos, ele começou a jogar pelo nas categorias de base do Bauru Atlético Clube, onde foi bicampeão da liga local e chamou a atenção de outros clubes.

A ida para o Santos

O ex-jogador da seleção Waldemar de Brito, ex-técnico de Pelé no Bauru, levou o jogador para o Santos Futebol Clube em 1956. Aos 15 anos, Pelé fez sua estreia como profissional em um partida amistosa que o Santos venceu o Corinthians de Santo André por 7 a 1. Ele entrou no segundo tempo, marcou o sexto gol da partida e o primeiro gol da carreira como profissional.

Em 1957, aos 16 anos, Pelé participou de um torneio amistoso com quatro equipes europeias e quatro brasileiras. O Santos e o Clube de Regatas Vasco da Gama se uniram para formar um time . Na partida de estreia contra o Belenenses, de Portugal, disputada no Maracanã, o combinado jogou com a camisa do Vasco da Gama e Pelé marcou três gols na vitória por 6 a 1. Ele marcou cinco gols em três partidas e passou a chamar a atenção do Brasil.

Neste ano, dez meses depois da estreia, ele foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira para a Copa Roca — partidas não oficiais disputadas entre Brasil e Argentina, também conhecidas como Superclássico das Américas — e fez o gol de honra na derrota por 2 a 1 para a Argentina.

A primeira Copa

Em 1958, Pelé participou da primeira Copa do Mundo na Suécia e nela alcançou o feito de ser o jogador mais jovem a ser campeão de uma edição do torneio, com 17 anos e 249 dias.

Lesionado nos jogos preparatórios para a competição, o atacante só entrou na terceira partida contra a União Soviética em que a seleção brasileira venceu por 2 a 0 e não saiu mais do time titular. Pelé foi essencial para que o Brasil conquistasse o primeiro título em uma Copa e marcou um dos gols da vitória por 5 a 2 na final contra a Suécia. Ele terminou o torneio com seis gols em quatro jogos.

A seleção vinha de duas frustrações – a derrota noúltimo jogo da Copa do Mundo do Brasil em 1950 para o Uruguai, por 2 a 1, em pleno estádio do Maracanã, em um episódio que ficou conhecido como Maracanazo , e a eliminação para a Hungria por 4 a 2, nas quartas-de-final na Copa do Mundo da Suíça em 1954. A vitória na Copa representou o fim do “complexo de vira-lata”, expressão cunhada pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues meses antes da competição de 1958.

Pelé foi ainda bicampeão com a seleção quatro anos depois — na Copa do Mundo do Chile em 1962 —, porém só disputou uma partida e alguns minutos da segunda, quando se lesionou e não jogou mais. Ele marcou um gol.

As excursões

Em 1969, o Santos realizou excursões por países da África e da Europa em um esquema de mundialização do clube e de Pelé, que à época já havia ganho duas Copas do Mundo e havia sido bicampeão mundial com o Peixe, como é conhecido o Santos.

A princípio, o clube passaria por cinco países – República Democrática do Congo, Congo, Moçambique, Gana e Argélia. Em fevereiro de 1969, durante a jornada pelo continente africano, a convite do governo da Nigéria, o Santos jogou um amistoso na Cidade de Benin, contra a seleção do Meio Oeste. O time brasileiro venceu por 2 a 1, sem gols de Pelé. Esse episódio gerou uma lenda de que o Santos e Pelé haviam parado a guerra. A versão, apesar de contestada por estudiosos do conflito, ajudou a alimentar o imaginário sobre o Rei do Futebol. O país africano vivia em meio a uma guerra civil, que havia começado em 1967 quando a região de Biafra, no sudeste, decidiu se separar do país. O conflito se estendeu até 1970 e deixou mais de 2 milhões de mortos.

O milésimo gol

Em 19 de novembro de 1969, aos 29 anos, Pelé alcançou a marca histórica de 1.000 gols – em um pênalti contra o Vasco da Gama, no estádio do Maracanã. O feito interrompeu a partida por 20 minutos, com direito à volta olímpica e discurso.

Pelo amor de Deus, olha o Natal das crianças, olha o Natal das pessoas pobres, dos velhinhos cegos. Tem tantas instituições de caridade por aí. Pelo amor de Deus, vamos pensar nessas pessoas. Não vamos pensar só em festa. Ouça o que eu estou falando. É um apelo, pelo amor de Deus

Pelé

discurso após o milésimo gol em 19 de novembro de 1969

O Rei do Futebol colecionou muitas outras marcas, como o jogador mais jovem a marcar um gol em Copa do Mundo (17 anos e 239 dias), jogador mais jovem a ganhar e a marcar gol numa final de Copa de Mundo (17 anos e 249 dias) e único a ser tricampeão.

Pelé foi campeão por todos os clubes que jogou. Ele marcou 95 gols pela seleção brasileira e 643 pelo Santos. Ele marcou em 92 hat-tricks, que é quando um jogador marca três gols no mesmo jogo.

Em 2015, a revista France Football, criadora do Prêmio Bola de Ouro, entregue ao melhor jogador do mundo, fez uma revisão e Pelé foi eleito o melhor do mundo em 1958, 1959, 1960, 1961, 1963, 1964 e 1970 – atualmente, igualado em quantidade ao argentino Lionel Messi .

A consagração com o Tri

Na Copa do Mundo do México em 1970, Pelé fez história novamente ao conquistar o tricampeonato com a seleção brasileira. Ele foi o único atleta a ganhar três vezes a Copa do Mundo como jogador.

FOTO: SERGIO MORAES/REUTERS 06/02/2010

Pelé segurando a taça da Copa do Mundo

Pelé segurando a taça da Copa do Mundo

Nessa Copa, ele jogou seis partidas, marcou quatro gols e deu seis assistências para gols brasileiros. Pelé marcou um dos gols da vitória contra a Itália por 4 a 1 na final do torneio e deu passes para os gols de Jairzinho e Carlos Alberto Torres. Ele foi eleito o melhor jogador da Copa e reforçou a imagem de Rei do Futebol.

O desbravamento nos EUA

Em outubro de 1974, Pelé se despediu do Santos na vitória contra a Ponte Preta por 2 a 0. Oito meses depois, em de junho de 1975, transferiu-se para o New York Cosmos, dos Estados Unidos, time fundado apenas cinco anos antes e que pertencia à Warner Communications, gigante do entretenimento americano, e pelo qual atuou até 1977.

Os americanos usaram a contratação para tentar popularizar o esporte no país. A chegada do Rei do Futebol aos Estados Unidos foi pensada como um espetáculo. Ele se tornou o atleta de esporte coletivo mais bem pago do mundo.

Pelé se aposentou dos gramados, aos 36 anos, em uma partida amistosa entre Santos e Cosmos, na qual ele jogou um tempo em cada equipe e marcou um gol pelos Cosmos, que venceu por 2 a 1.

Estou muito feliz de estar aqui com vocês em um grande momento da minha vida. Agradeço a todos pelo que fazem por mim e quero aproveitar esta oportunidade, em que todos no mundo olham para mim, para pedir atenção e cuidados aos jovens e para as crianças ao redor do mundo. Creio e acredito que o amor é o mais importante que podemos oferecer. Tudo passa. Por isso peço que digam comigo três vezes: amor, amor e amor

Pelé

discurso de despedida dos gramados em 1 de outubro de 1977

A vida como celebridade

Além dos gramados, Pelé também atuou na música e no cinema, foi garoto-propaganda e teve duas filhas fora do casamento, cujos processos de paternidade tiveram postura controversa do ex-jogador. Entre 1981 e 1986, ele namorou com a apresentadora Maria da Graça Xuxa Meneghel, a Xuxa, na época com 18 anos.

Em 1969, um ano antes de conquistar o tricampeonato mundial com a seleção, Pelé gravou um compacto , intitulado Tabelinha, com a cantora Elis Regina, no qual há duas composições de autoria dele: “Vexamão” e “Perdão não tem”. Em 1978, ele lançou em parceria com o pianista Sérgio Mendes, no qual emplacou seis canções em um LP.

FOTO: MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL

Pelé sorri em frente a parede como logotipo de sua fundação

Ex-jogador de futebol Pelé, considerado o melhor de todos os tempos

Pelé também atuou em 18 filmes . O primeiro foi “O Barão Otelo no Barato dos Bilhões”, de 1971, no qual fez uma participação especial como um banqueiro rico e generoso. Ele também fez filmes em Hollywood, como “Fuga para a Vitória”, de 1982, dirigido por John Huston, com a participação de Sylvester Stallone. Nele, Pelé e Stallone são prisioneiros numa prisão nazista, planejando sua fuga durante uma partida de futebol contra os oficiais alemães. O ex-jogador também contracenou com Os Trapalhões, no filme “Os Trapalhões e o Rei do Futebol”, de 1986.

Ademais, o Rei do Futebol foi garoto-propaganda. Em 1991, Pelé emprestou a voz, junto a cantores como Roberto Carlos, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, João Bosco, Renato Russo, Lulu Santos e Arnaldo Antunes, ao projeto A Luz do Mundo, de Herbert de Souza, o Betinho. Em 1998, Pelé foi garoto-propaganda de uma campanha do Ministério da Educação “ABC com Pelé”.

O Rei do Futebol foi casado entre 1966 e 1978 com Rosemeri Cholbi, com quem teve três filhos – Edinho, Jennifer e Kelly. O segundo matrimônio foi entre 1994 e 2008 com a cantora gospel Assíria Nascimento, com quem teve Joshua e Celeste. Em 2016, ele se casou com a empresária Marcia Cibele Aoki. Ele teve duas filhas fora do casamento – Sandra Regina Machado, em 1964, e Flávia Kurtz, em 1970. Flávia foi reconhecida em 2002, mas Sandra só conseguiu o reconhecimento da paternidade nos tribunais. Ela morreu de câncer em 2006, sem qualquer contato ou apoio do ex-jogador.

A vida na política

Pelé também teve sua versão político. Em 1992, ele foi nomeado embaixador da Organização das Nações Unidas de ecologia e meio ambiente e, dois anos depois, foi nomeado embaixador da Boa Vontade da Unesco, órgão da ONU para a educação, ciência e cultura.

Entre 1995 e 1998, Pelé foi ministro dos Esportes, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e idealizou a Lei 9.615/98, também conhecida como Lei Pelé , que estabeleceu normas de contratação de jogadores brasileiros, criou verbas para o esporte olímpico e paraolímpico e determinou a independência dos Tribunais de Justiça Desportiva. Em 2011, ele foi nomeado embaixador honorário da Copa do Mundo do Brasil em 2014.

A marca Pelé

Pelé protagonizou assinaturas de supercontratos e se tornou uma marca. Os números exatos dos contratos do jogador com o Cosmo e com a marca alemã de produtos esportivos Puma, um dos primeiros grandes contratos de patrocínio esportivo do futebol ainda durante os anos 1970, são incertos e divergem de acordo com a fonte. Mas as cifras giram entre US$ 1,5 milhão e US$ 2,5 milhões por ano naquela época.

Em listas divulgadas em 2015 e 2016, a revista Forbes colocou Pelé entre os atletas aposentados mais bem remunerados do mundo. As estimativas eram de que Pelé ganhava em torno de US$ 15 milhões por ano com contratos de patrocínio e aparições públicas.

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