7 canais de jornalismo produzido diretamente da Amazônia
Lucas Zacari
24 de fevereiro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 17h18)Iniciativas retratam e reconhecem as demandas das comunidades ao redor, o que permite a transmissão e o conhecimentos das narrativas locais
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As jornalistas Elaíze Farias e Kátia Brasil, fundadoras do portal Amazônia Real, recebendo premiação da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo)
A edição de 2022 do “Atlas da Notícia”, mapeamento dos veículos de jornalismo local atuantes no Brasil, mostra que o Norte do Brasil é líder no ranking de desertos de notícias , com 63,1% do seu território — ou 284 de 450 municípios — sem cobertura jornalística.
De acordo com o censo da imprensa brasileira, 1.106 veículos de comunicação estavam funcionando nos sete estados da região, de um total de mais de 13,7 mil em todo o país.
O trabalho da imprensa local é fundamental para a denúncia de problemas e para a escuta de uma população normalmente desprovida de canais pelos quais pode expressar suas demandas.
Neste texto, o Nexo elenca sete iniciativas de jornalismo independente que ajudam a entender a Amazônia pelo relato de quem vive na região.
Criada em outubro de 2013, em Manaus, pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, a Amazônia Real é a principal agência de jornalismo investigativo da região amazônica.
Após as fundadoras experienciarem desinteresse das redações tradicionais nas demandas das populações da região, a missão da organização é dar visibilidade às questões amazônicas.
Os mais de 40 correspondentes pelos territórios da Amazônia Legal se dividem nas editorias de Meio Ambiente, Povos Indígenas, Questão Agrária, Política, Economia e Negócios e Cultura, além de especiais envolvendo a Amazônia.
Dentre os prêmios recebidos pela sua atuação, vale destacar o segundo lugar no 10º Prêmio Amaerj Patrícia Acioli de Direitos Humanos, em 2021, pela série especial “ Ouro do Sangue Yanomami ”.
Em parceria com a agência Repórter Brasil, a única produção independente entre as finalistas revelou o caminho do garimpo ilegal de ouro nos territórios indígenas de Roraima e Amazonas.
No mesmo ano, as fundadoras do portal foram premiadas pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) pela “determinação na defesa da Amazônia e de seus povos, e pela coragem com a qual encaram o jornalismo no Norte”.
Desde 2022, o Nexo republica os conteúdos do Amazônia Real, num esforço de ampliar o acesso e distribuição de reportagens sobre a região amazônica.
Sediada em Altamira, no Pará, com a promessa de fazer “jornalismo no centro do mundo”, a plataforma Sumaúma foi criada em setembro de 2022 com o objetivo de contar as histórias de quem mora na Amazônia, pela perspectiva dos vários povos da região, para que os relatos sejam conhecidos ao redor do mundo.
Cofundada pelos jornalistas Eliane Brum, Jonathan Watts, Verônica Goyzueta e Talita Bedinelli, a ideia do portal é unificar a experiência dos jornalistas formados com a capacidade de transmissão de relatos e experiências das comunidades tradicionais.
O manifesto de criação da Sumaúma tem como um dos principais pilares tornar a redação “progressivamente composta por jornalistas da floresta”.
Junto dos materiais jornalísticos tradicionais, Sumaúma busca ampliar o alcance das histórias contadas. A plataforma tem uma newsletter com os principais temas tratados quinzenalmente e é disponibilizada em português, inglês e espanhol.
Para manter a transmissão oral dos conhecimentos, o podcast Rádio Sumaúma , apresentado por Elizangela Baré, uma mulher indígena de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, traz detalhes e bastidores das reportagens do site. A produção é realizada em conjunto com a Rede Wayuri.
O portal TdF ( Tapajós de Fato ) se define, em suas redes sociais, como “veículo de Comunicação Popular, Alternativo e Independente com atuação na região Oeste do Estado do Pará”.
Com base no município de Santarém, os jornalistas Marcos Wesley e Isabelle Maciel criaram o site em 2020 na busca de representatividade e visibilidade para a denúncia de violações de direitos das comunidades tradicionais.
Em entrevista ao Rede Cidadã InfoAmazonia, os fundadores apontam que a cobertura tradicional da região é superficial , sem aprofundamento em como os povos originários têm recebido e enfrentado as mudanças socioambientais na região.
Segundo eles, a missão do TdF é dar voz às comunidades locais sobre temas como o avanço da monocultura e o garimpo ilegal.
O podcast Afluente é um projeto de reportagens em áudio sobre a Amazônia ou a partir dela. Sob o comando do jornalista amazonense Bruno Tadeu Moraes e parte da produtora de podcasts Rádio Guarda-Chuva, os episódios trazem investigações, análises, contextualizações e histórias da região, a partir do cenário político, econômico e social local.
Com início em maio de 2021, o podcast está em sua terceira temporada e, ao todo, conta com 25 episódios. Dentre as temáticas, já foram abordadas questões indígenas, climáticas, ambientais, políticas, mas também sobre esportes e cultura da região.
O episódio de 13 de fevereiro, “ A bioeconomia está aqui. Parte 1 – Comércio ribeirinho ”, por exemplo,, retrata o modelo econômico próprio de ex-seringueiros de uma isolada zona rural de Caruari, no Amazonas.
Integrada ao curso de jornalismo da Universidade Federal do Amapá, a Agcom (Agência Experimental em Comunicação) atua, desde 2019, como um projeto de extensão à faculdade, voltado principalmente para a educação socioambiental. Os repórteres são alunos do curso, que podem experimentar na prática a rotina do mercado de trabalho.
A Agcom trabalha em duas vertentes: as matérias jornalísticas em texto e o canal no YouTube, em que se destaca a websérie Fala Preta , com entrevistas enaltecendo e contando experiências de personalidades negras.
Criada em 2017 com o nome de Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, a Rede Wayuri é composta por 55 comunicadores de 16 etnias do Rio Negro, no Amazonas. Localizada em São Gabriel da Cachoeira, — considerado o município mais indígena do país —, a rede tem a proposta de combater a desinformação e dar acesso à informação aos povos indígenas.
Sua principal atuação acontece por meio do podcast Wayuri, boletins informativos mensais com as principais notícias de cultura, economia, meio ambiente, política, mulheres, juventude e esporte para os 23 povos do Rio Negro.
Além de estar presente nas principais plataformas de áudio, a iniciativa também é popularizada pelo WhatsApp e por radiofonia, o que facilita a disseminação do conteúdo.
Em 2022, a Rede Wayuri recebeu o Prêmio Estado de Direito , do World Justice Project, na cidade de Haia, na Holanda, em reconhecimento à inovação e ao combate à desinformação na Amazônia.
Única localizada fora da região Norte, a TV Quilombo foi criada em 2017, no Quilombo Rampa, a 27 km de Vargem Grande, no Maranhão, estado nordestino que compreende a Amazônia Legal.
Com a falta de representatividade dos quilombolas nas grandes mídias e dos instrumentos de documentação, o surgimento da TV Quilombo se deu pela vontade de apresentar e visualizar a cultura local por meio do audiovisual.
Por meio de aparelhos celulares, Raimundo e Willian, fundadores do portal, começaram a fotografar e filmar as atividades e as demandas locais. No entanto, materiais ancestrais e improvisados são utilizados para sustentação dos materiais de gravação, como câmeras de papelão para acoplar os celulares, tripés e drones de bambu.
Atualmente, por meio do canal no YouTube e da Rádio Quilombo , o Quilombo Rampa tem condições de integrar, transmitir e documentar a cultura quilombola.
No ano seguinte a sua estreia, a TV Quilombo conquistou o prêmio de melhor reportagem na categoria “Mídia Alternativa” do Festival de Cinema Móvel de Brasília de 2018 .
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