
Crianças em uma sala de aula
Crianças e jovens têm o direito de estudar em instituições que respeitam suas origens. Mas às vezes os professores possuem dificuldade em lidar com a diversidade em sala de aula.
Os resultados das nossas pesquisas conduzidas na Irlanda mostraram que professores não recebem um treinamento adequado para educar de maneira intercultural.
A pesquisa investigou como pais e responsáveis que pertencem a minorias étnicas (não brancos) que migraram para a Irlanda se sentem sobre a educação que seus filhos recebem na escola.
Em 2020, conduzi cinco grupos de discussão com 20 responsáveis não brancos. Eu queria entender quais eram as experiências deles com as escolas irlandesas e de outros países. Quais eram as opiniões deles sobre o aprendizado nas escolas irlandesas. Como é a relação com os professores. E que conselhos eles tinham para dar para uma educação inclusiva.
Incertezas
Descobri que muitos desses responsáveis se sentem inseguros quando suas crianças frequentam a escola, uma vez que têm pouca familiaridade com os costumes e hábitos do sistema educacional do país para o qual se mudaram. Eles se preocupam com a forma que a etnia de suas crianças pode impactar o modo como são tratadas na escola. Um dos pais disse que os professores tratam seus filhos de forma injusta no ambiente escolar.
Os responsáveis também se preocupam com o conhecimento multicultural que a equipe escolar possui, e como isso pode afetar o processo de ensino. Um deles disse: “professores […] precisam aprender a lidar com crianças com origens diferentes. […] Eles precisam aprender mais sobre diversas culturas”.
Os pais sugeriram que as escolas elaborem ações específicas para aprender sobre as origens das crianças que lá estudam: “qualquer escola com crianças de origens diferentes deveria tentar organizar encontros com os pais, especialmente aqueles que são imigrantes, para discutir as dificuldades que eles, enquanto educadores, estão tendo”.
Pesquisas já comprovaram que o engajamento dos pais na educação formal dos seus filhos melhora o comportamento da criança no ambiente escolar. Mas o modo como pais estrangeiros interagem com as escolas pode ser afetado por fatores como barreiras linguísticas e falta de familiaridade com o sistema educacional.
Ensinando sobre culturas
Os pais também enfatizaram a importância da escola e dos professores para transmitir aos alunos a compreensão e o respeito.
“Minha filha estava brincando no jardim com outras crianças, mas por não entenderam que a textura do cabelo dela era diferente, eles disseram que ela precisava ir ao cabeleireiro. Eles acham que há algo de errado com o cabelo dela. Você não pode culpar as crianças porque na escola é isso que eles aprendem. Acho que a compreensão de que existem diferenças deveria ser incorporada ao currículo. Nosso cabelo é diferente. Os professores devem entender isso.”
Os pais falaram sobre os benefícios de aumentar a diversidade entre os professores e o restante da equipe escolar. Isso pode criar um ambiente mais inclusivo para estudantes não brancos, uma vez que eles podem se inspirar em alguém com quem se identifiquem e que compreenda suas origens.
“As pessoas que lecionam para eles são brancas, as pessoas que falam com eles nos intervalos também são brancas, as pessoas que entregam a merenda escolar para eles são brancas… Precisamos reforçar para esses jovenzinhos (de origens étnicas distintas) que estão na universidade que escolher profissões relacionadas à educação é uma prioridade. […] Para mim, a solução é diversificar o quadro de professores para que haja profissionais de diferentes contextos.”
Uma educação inclusiva, que coloca a diversidade das crianças, que encara as necessidades das crianças como prioridade no currículo e não como uma questão particular, em aulas ou programas separados, nem sempre é implementada. Os professores e os administradores das escolas nem sempre possuem a competência necessária para estabelecer práticas educacionais inclusivas.
É essencial que as escolas adotem uma abordagem que considere como a cultura de um aluno afeta seu aprendizado. Isso é conhecido como pedagogia culturalmente responsiva. É uma abordagem de ensino que visa criar salas de aula onde todos os alunos se sintam incluídos e valorizados por professores que incorporam suas origens e experiências culturais.
Seun Bunmi Adebayo é professor associado e supervisor de pesquisa da Universidade de Galway (Irlanda)