Cid fala que Bolsonaro consultou militares sobre golpe
Da Redação
21 de setembro de 2023(atualizado 28/12/2023 às 22h08)Colunista do UOL revela parte de delação de ajudante de ordens do político de extrema direita nos anos de Planalto. Ex-presidente levou a líderes das Forças Armadas uma minuta de decreto para convocar novas eleições
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O ex-presidente Jair Bolsonaro deixa a sua casa em Brasília após busca da Polícia Federal
Jair Bolsonaro consultou líderes das Forças Armadas a respeito de uma possibilidade de golpe de Estado após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022. É o que revelou nesta quinta-feira (21) a coluna de Aguirre Talento, do UOL, que relata parte da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. A informação foi confirmada por outros veículos de imprensa.
De acordo com o jornalista, o ex-ajudante de ordens do político de extrema direita disse à Polícia Federal que o então presidente recebeu uma minuta de decreto para convocar novas eleições das mãos de seu assessor especial Filipe Martins e a mostrou para oficiais de alta patente. O comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, concordou com a possibilidade. No entanto, o plano não teve adesão da cúpula militar.
“Eu posso discutir qualquer coisa, posso pensar qualquer coisa, mas se não botar em prática não tem problema”
Filipe Martins é um dos ex-alunos do escritor radical Olavo de Carvalho, morto em 2022, que integraram o governo de Bolsonaro. Ele tinha uma atuação relevante na política externa durante a gestão do ex-chanceler Ernesto Araújo e é próximo dos filhos do ex-presidente. Também foi alvo de uma censura por parte do Comitê de Ética da Presidência por ter feito um gesto interpretado como apologia ao supremacismo branco, como registrou o jornal O Estado de S. Paulo. Ele foi absolvido por esse ato na Justiça, e não respondeu o UOL quando foi procurado para comentar a delação de Mauro Cid.
Almir Garnier foi o almirante escolhido por Bolsonaro para comandar a Marinha em 2021, depois de uma crise que levou à renúncia do então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e de todos os comandantes das Forças Armadas. Ele se negou a participar da cerimônia de sucessão do cargo para Marcos Olsen, escolhido por Lula para comandar a Arma, como noticiou na época o site da CNN Brasil. Ele também não respondeu aos contatos do UOL para comentar as revelações feitas por Cid.
Antes da delação, os investigadores já tinham tido acesso a uma série de mensagens no celular de Cid colocando-o no centro de articulações para que o ex-presidente desse um golpe de Estado no país. Além de ter conversado sobre o assunto com outros militares, o tenente-coronel tinha em seu celular um documento com o passo a passo de uma tomada ilegal do poder, como o Nexo informou em um Expresso .A Polícia Federal também investiga se o decreto apresentado por Filipe Martins é a mesma minuta de golpe encontrada em janeiro na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
As tentativas de golpe não são a única frente de investigação que pode ser elucidada a partir da delação. O tenente-coronel é peça-chave em uma série de outras apurações, como a de um esquema de desvio de joias do patrimônio público. De acordo com a revista Veja, Cid revelou à Polícia Federal que entregou R$ 68 mil em espécie nas mãos de Bolsonaro, decorrentes da venda de dois relógios de luxo.
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