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ESPECIAL

O centenário de Isaac Asimov. E a influência do autor

Por Cesar Gaglioni e Thiago Quadros
em 28 de Mar de 2020

Considerado um dos maiores nomes da ficção científica, Isaac Asimov completaria 100 anos em 2020. Elementos de sua obra inspiram o debate público sobre tecnologia até hoje

Nascido em 1920, o escritor russo-americano Isaac Asimov é aplaudido por sua criatividade ao navegar por subgêneros dentro da ficção especulativa. Suas histórias vão de ficções policiais envolvendo autômatos a cenários apocalípticos sobre a queda de uma grande civilização, passando pela luta de um robô para ser reconhecido como um ser humano.

Fora dos livros, Asimov tem presença marcada no debate público sobre a tecnologia. Para alguns, suas Três Leis da Robótica são um norte a ser seguido na hora de pensar os limites da inteligência artificial na medida em que ela se torna mais presente na nossa vida cotidiana.

O Nexo conversou com escritores e especialistas em literatura de ficção científica para mostrar a história do autor, a importância de sua obra e como ela influencia nossa realidade hoje.


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Quem foi Isaac Asimov

Isaac Asimov nasceu em Petrovichi, na Rússia, mas se naturalizou americano. Ele chegou aos EUA em 1923, aos três anos de idade, filho de moleiros nascidos e criados no campo. Asimov construiu sua carreira criando mundos onde a vida era diametralmente oposta a de seus pais – imaginando grandes centros urbanos, munidos de tecnologias com o pé na realidade, mas que são avançadas até para os padrões de hoje.

Ainda criança, Asimov se apaixonou pela leitura, e passava horas lendo jornais nas diversas lojas de doces que foram administradas por seus pais. Lá, ele tinha acesso a revistas pulp, que traziam histórias de terror, fantasia e ficção científica.

Na década de 1940, se formou em química na Universidade de Columbia, em Nova York. Em 1948, ganhou o título de doutor na área.

Como hobby, desde 1939 Asimov escrevia histórias curtas de ficção científica e as vendia para revistas como a Astonishing Stories e a Future Fiction. No ano de 1952, percebeu que ganhava mais dinheiro escrevendo do que como químico, e decidiu abandonar a carreira científica de uma vez por todas.

Entre 1939 e sua morte em 1992, Asimov escreveu 383 contos, 40 romances e 280 textos de não-ficção, sendo considerado um dos autores mais prolíficos da ficção científica.


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O lugar de Asimov na ficção científica

Dentro da ficção especulativa, Asimov transitava por outros gêneros. Em “As cavernas de aço” (1954), por exemplo, o autor apresenta uma história policial dentro de um mundo futurista no qual os robôs se tornaram parte da vida; na série de livros “Fundação”, Asimov se inspirou na história da ascensão e queda do Império Romano para contar a trajetória de um império espacial.

Adriano Fromer, diretor da Aleph, editora brasileira que publica os livros de Asimov desde o começo dos anos 2000, vê a criatividade como a principal qualidade do autor.

“Ele tinha uma gigante capacidade criativa para contar uma história. Isso, pra mim, é o mais incrível. Quando eu li ‘Fundação’ (1951), fiquei sem saber o que falar. Ele mistura mistério, política, suspense em uma coisa só”, disse ao Nexo.

Para Fromer, Asimov pode ser considerado um dos grandes autores de ficção científica de todos os tempos.

Fábio M. Barreto, escritor de fantasia e ficção científica, autor de “Snowglobe” (2019), também enxerga Asimov como um dos maiores do gênero.

“Asimov faz parte do ‘Panteão Supremo’ da ficção anglófona. Em outras palavras, ele é um dos nomes fundamentais do gênero como conhecemos hoje, especialmente pelo aspecto mais próximo ao leitor. Sem ele, a ficção científica continuaria sendo algo muito mais nichado e distante”, afirmou ao Nexo.

Segundo Barreto, Asimov também tem um papel nos dias de hoje de formação de novos autores de ficção científica – algo que ele não enxerga com bons olhos.

“Ele tinha uma gigante capacidade criativa para se contar uma história. Isso, pra mim, é o mais incrível”

“Asimov continua sendo necessário para formar novos leitores e escritores. É uma pena, pois os ‘velhinhos da ficção científica’ já estão distantes demais do mundo atual, não por falha deles, mas pelos rumos malucos que estamos tomando”, disse.

A escritora de ficção científica Lady Sybylla, autora de “Deixe as estrelas falarem” (2017), vê influências de Asimov no gênero até os dias de hoje, e também acha que o nome do autor ficou conhecido para além dos leitores de sci-fi.

“Muitas inquietações trabalhadas em séries como ‘Humans’, ‘Westworld’ e em filmes como ‘Ex Machina’ já foram debatidas em obras de Asimov. Mesmo quem não é um ávido leitor de ficção científica sabe o nome dele ou do nome de algum livro”, afirmou ao Nexo.


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Na página e em eventos: a relação com as mulheres

Há também críticas a Asimov, especialmente em relação a condutas e visões de mundo do autor que acabaram se refletindo em sua obra.

Dentro da comunidade de ficção científica, Asimov ficou conhecido por, em diversas ocasiões, assediar sexualmente autoras e leitoras do gênero durante eventos. O próprio autor não tentava esconder seu comportamento.

“A questão não é se uma garota deve ser tocada”, escreveu Asimov no livro de não-ficção “The sensuous dirty old man” (“O velho sujo sensual”, em tradução livre), de 1971. “A questão é meramente sobre onde, quando e como uma garota deve ser tocada”, afirmou.

Uma foto de 1967, tirada pelo fotógrafo Jay Klein numa convenção de leitores de ficção científica, mostra Asimov tentando dar um beijo em uma visitante, que tenta afastá-lo.

Foto em preto e branco mostra Isaac Asimov abraçado a uma garota, tentando beijá-la, enquanto a moça desvia o rosto e olha para a câmera

O historiador Alec Nevala-Lee, da Universidade de Harvard, especializado na história da ficção científica, publicou um texto em janeiro de 2020, no qual afirma que Asimov se aproveitou de sua posição dentro da cena do gênero para perpetuar os assédios.

“Asimov tomou vantagem do que ele chamava de uma porcentagem crescente de ‘garotinhas estridentes’ nas convenções da década de 60”, afirmou Nevala-Lee. “E a posição única dele em tais eventos, nos quais era o centro das atenções, deixa tudo mais claro. Seus admiradores olhavam para ele como um exemplo, e os fãs foram complacentes em anos de comportamentos errados, de maneiras que nunca foram completamente compreendidas”, disse.

Para Lady Sybylla, a visão que Asimov tinha das mulheres se reflete em como ele criava suas personagens femininas.

“Esse desprezo pelas mulheres se refletia nas suas obras com uma ausência de personagens femininas ou com personagens estereotipadas, rasas, fúteis. É bastante frustrante ler sobre a humanidade no futuro distante e não ver mulheres ou vê-las relegadas a papéis tradicionais”, disse.

Para a autora, por mais importante que a obra de Asimov seja, ela deve ser absorvida dentro desse contexto. “Quando se levanta esse assunto, alguns entendem que está proibido ler e estudar Asimov. Não. Apenas tenha consciência dos problemas do autor e de suas obras. Sua obra tem relevância, mas também problemas. E ele não é o único”, disse.


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As previsões de Asimov para o futuro

Em diversas ocasiões, Asimov foi convidado para tecer previsões tecnológicas que imaginava para o futuro – que agora representa os nossos dias atuais.

Numa entrevista de 1988 ao jornalista americano Bill Moyers, Asimov falou de sua visão de um mundo futurista no qual computadores seriam comuns em todas as casas e no qual existiria uma tecnologia que conseguiria conectar diretamente as fontes aos consumidores de informação.

À época da entrevista, a internet ainda era uma conexão de rede rudimentar entre computadores, sem ser usada em larga escala.

Cinco anos antes, Asimov escreveu um texto para o jornal The Toronto Star com suas previsões para o ano de 2019.

Uma das previsões dizia que o ensino a distância seria possível com o uso de computadores – o que se concretizou. Asimov foi além e apostou que inteligências artificiais seriam parte integral do processo de aprendizado – uma possibilidade que ainda engatinha.

“Muitas inquietações trabalhadas em séries e filmes hoje já foram debatidas em obras de Asimov. Mesmo quem não é um ávido leitor de ficção científica sabe o nome dele”

“Daqui a 30 anos, máquinas vão saber o que os estudantes sabem e o que ainda precisam aprender. De nenhuma forma seres humanos podem atingir esse nível de poder educacional”, escreveu.

No mesmo texto, Asimov dizia que os robôs já teriam tomado conta dos postos de trabalho, fazendo com que as pessoas repensassem o conceito de carreira ou até mesmo vivessem uma vida “rica em lazer”.

A automação massiva ainda não é uma realidade, mas é algo presente no horizonte do mundo do trabalho. Um estudo publicado em junho de 2019 pela consultoria Oxford Economics aponta que cerca de 20 milhões de trabalhadores da indústria poderão ter o emprego substituído por robôs globalmente até 2030.

Para Asimov, em 2019, os seres humanos já estariam colonizando o espaço, com uma usina de energia solar estabelecida na Lua – algo que também não se concretizou.


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As Três Leis da Robótica: na ficção e na tecnologia

O termo “robô” deriva da palavra checa “robota”, que significa “trabalho forçado”. O verbete surgiu em 1921 na peça de teatro “R.U.R.”, do dramaturgo checo Karel Capek. A trama conta a história de robôs indistinguíveis de um ser humano que passam a se rebelar contra a humanidade.

Porém, a ideia de uma máquina autômata com aparência humana é ainda anterior a isso e data de 1495. Naquele ano, Leonardo da Vinci, tomando como base seus estudos de anatomia, desenvolveu o projeto de um cavaleiro mecânico que poderia mexer os braços e a cabeça usando polias e engrenagens.

Imagem dividida em duas partes. No lado esquerdo uma fotografia que mostra uma armadura e ao lado a estrutura interna robótica que estaria dentro dela. No lado direito, facsímile dos esboços do projeto do robô

Robô e esboços de Leonardo da Vinci

O robô de Leonardo da Vinci não tinha muito uso prático, mas se tornou o registro mais antigo que se tem de um autômato com aparência humana.

De um lado, o artista italiano criou o projeto de um robô relativamente inútil. De outro, Karel Capek imaginava um futuro apocalíptico com robôs – que então seria explorado repetidas vezes na ficção científica.

Asimov foi um dos responsáveis por popularizar o conceito do robô como parte da vida cotidiana. O autor tinha um olhar otimista – em seus livros, os robôs não apenas fazem trabalhos repetitivos, mas também são parte da vida cotidiana. Uma ferramenta comum tal qual os automóveis.

E também uma ferramenta que, em alguns casos, poderia ser mais humana do que os próprios humanos, como é mostrado no livro “O homem bicentenário”, de 1992.

Como forma de evitar cenários apocalípticos em que os autômatos tomariam o lugar da humanidade, Asimov criou em seu universo as chamadas Três Leis da Robótica, um conjunto de regras que todo robô deve seguir.

  1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal;

  2. Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei;

  3. Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

Com as Três Leis da Robótica, Asimov garantiria uma convivência pacífica entre robôs e seres humanos nas suas obras.

Apesar de funcionarem bem na ficção, especialistas da área da robótica dizem que as Três Leis não têm muita aplicação prática no mundo real, e que outras diretrizes devem ser propostas para a criação de uma ética dos robôs – algo que se mostra cada vez mais premente com o avanço da inteligência artificial.

Inspirados no conceito do autor de que as regras do tipo são necessárias, muitos profissionais da área buscam o que seria essas leis na nossa realidade atual.

No ano de 2009, Robin Murphy, professor de ciência da computação na Universidade A&M do Texas, e David Woods, professor de sistemas cognitivos da Universidade de Ohio, propuseram uma alternativa às Três Leis da Robótica que poderia ser usada na vida real.

  1. Um humano não poderá implementar um robô sem que o sistema de trabalho humano-robô siga os requisitos legais e profissionais de segurança e ética;

  2. Um robô deve acatar um humano de maneira apropriada de acordo com suas funções;

  3. Um robô precisa ter autonomia o suficiente para proteger a própria existência desde que essa proteção ofereça uma transferência de controle que não entre em conflito com as duas primeiras Leis.

“Nossas regras são mais realistas e, portanto, mais entediantes”, afirmaram em entrevista ao site Research News, brincando com o fato de que as propostas não são tão impactantes quanto as do autor.

Em 2013, Alan Winfield, professor de sistemas cognitivos na Universidade do Oeste da Inglaterra, sugeriu um conjunto de cinco regras para os robôs.

  1. Robôs são ferramentas multi-uso. Robôs não devem ser desenvolvidos apenas para matar ou machucar humanos, exceto em casos de segurança nacional;

  2. Os humanos, não os robôs, são agentes de responsabilidades. Robôs devem ser desenvolvidos e operados de acordo com as leis existentes, direitos fundamentais e liberdades, incluindo a privacidade;

  3. Robôs são produtos. Devem ser desenvolvidos usando procedimentos que garantem a própria segurança;

  4. Robôs são artefatos fabricados. Eles não podem ser desenvolvidos de um jeito que possa explorar usuários vulneráveis. A natureza artificial deles deve ser transparente;

  5. Uma pessoa com responsabilidade legal pelo robô deve ser designada.

As diretrizes de Winfield giram muito mais em torno de criar mecanismos de responsabilização para seres humanos do que de pressupostos filosóficos sobre o poder de decisão de robôs.

Não há consenso em quais e quantas deveriam ser as leis fundamentais para robôs cada vez mais inteligentes. O único consenso é de que elas precisam existir.

Alguns debates começaram a surgir nesse sentido. Ainda em 2020, a União Europeia deve redigir um texto de regulamentação para inteligências artificiais. Nos EUA, o debate ainda está engatinhando. Em janeiro de 2020, o governo do país publicou uma série de sugestões para uma futura regulamentação das inteligências artificiais. No Brasil, o Senado aprovou, em fevereiro, o início de um debate sobre o tema, ainda sem data para acontecer.

“A ficção de Asimov é rebelde, imaginativa e muito bem informada”

Segundo Cláudia Fusco, mestre em literatura inglesa com ênfase em fantasia e ficção científica pela Universidade de Liverpool, no Reino Unido, a obra de Asimov traz ensinamentos e reflexões tecnológicas que podem ser usadas no debate de questões do mundo real.

“Sem dúvida Asimov e suas histórias ainda têm muito o que nos ensinar. Sua infinita curiosidade científica e os desdobramentos dela em ficção e especulação, seus experimentos sociais a partir de novas tecnologias, seu legado para a imaginação robótica, as dinâmicas políticas e sociais complexas de ‘Fundação’. A ficção de Asimov é rebelde, imaginativa e muito bem informada”, disse ao Nexo.


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Como começar a ler Asimov

Asimov produziu centenas de contos e livros ao longo de sua carreira. O Nexo pediu sugestões de obras para Adriano Fromer, Fábio M. Barreto, Lady Sybylla e Cláudia Fusco, como dicas para quem quer começar a ler a obra do autor.

Capa do livro Fundação, de Isaac Asimov

“Fundação”

Romances (1951-1953)

Na trilogia de livros “Fundação”, Asimov conta a história do Império Galáctico, uma civilização espacial com grande poder político, tecnológico e bélico.

O primeiro livro gira em torno de Hari Seldon, o criador de uma ciência chamada psico-história. A psico-história é uma mistura da sociologia, da história e da matemática, e usa modelos estatísticos para prever o comportamento de grandes grupos de indivíduos.

Seldon prevê a queda do Império Galáctico, com um período de trevas e crises que durará 30 mil anos. Ele então cria a “Fundação”, um grupo de cientistas e engenheiros que vão preservar o espírito da civilização e reduzir esse período para alguns poucos milhares de anos.

A Apple anunciou, em 2019, que está trabalhando em uma série de TV que adapta os livros da “Fundação”.

Capa do livro As cavernas de aço, de Isaac Asimov

“As cavernas de aço”

Romance (1954)

Em “As cavernas de aço”, Asimov mostra um futuro no qual a colonização espacial é uma realidade em que as cidades, superpopulosas, são cobertas por redomas de metal.

Nesse cenário, ele conta a história do detetive Elijah Baley, e de seu assistente, o robô R. Daneel Olivaw. Na trama, eles precisam investigar a morte de Roj Nemmenuh Sarton, embaixador dos Mundos Espaciais.

“As cavernas de aço” se passa no mesmo universo de “Fundação”, e teve duas continuações, “O sol desvelado”, de 1957; e “Os robôs da alvorada”, de 1983.

Capa do livro O fim da Eternidade, de Isaac Asimov

“O fim da Eternidade”

Romance (1955)

Em “O fim da Eternidade”, Asimov apresenta a “Eternidade”, uma organização global que realiza viagens no tempo, fazendo alterações mínimas na história humana, a fim de mudar a realidade e minimizar o sofrimento dos povos ao longo do séculos.

É considerado um dos melhores livros do autor, e um dos melhores exemplos do subgênero de viagens no tempo.

Capa do livro Nove amanhãs, de Isaac Asimov. que contém o conto A última pergunta

“A última pergunta”

Conto (1956)

No conto “A última pergunta”, Asimov traz a história de um supercomputador chamado Multivac, que consegue calcular bilhões de probabilidades para se chegar à resposta de qualquer pergunta.

A trama mostra diversos momentos da humanidade – a partir de 2061 – sempre com alguém perguntando ao computador como a entropia do Universo pode ser revertida. Em todas as interações, Multivac diz que não tem dados suficientes para achar a resposta.

Isso muda quando o computador finalmente consegue realizar todos os cálculos necessários.

Capa do livro O homem bicentenário, de Isaac Asimov

“O homem bicentenário”

Conto (1992)

Um dos últimos contos de Asimov, “O homem bicentenário” conta a história de Andrew, um robô doméstico que, ao desenvolver sentimentos e personalidade humana, luta para ser reconhecido como tal.

O conto, que se passa no mesmo universo de “Fundação” e “As cavernas de aço”, inspirou o filme de mesmo nome, lançado em 1999 e estrelado pelo ator Robin Williams.

Produzido por Cesar Gaglioni

Desenvolvimento e Arte
por Thiago Quadros

Edição por Letícia Arcoverde

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