Junho de 2013: o passo a passo dos protestos que mudaram o Brasil
O ‘Nexo’ recupera o que aconteceu no mês dos atos que puseram políticos contra a parede. Relembre os eventos em São Paulo e outras cidades a partir de declarações, notícias da época, fotos e vídeos
Por Mariana Vick, Mariana Simonetti e Mariana Froner
13 de junho de 2023
GIANLUCA RAMALHO MISTI / WIKIMEDIA COMMONS
Junho de 2013 foi um mês marcado por uma onda de protestos que envolveu milhares de pessoas por todo o Brasil. Após terem início com foco no aumento de passagens do transporte público, os atos cresceram e foram tomados por pautas difusas, permeadas pelo sentimento antiestablishment.
As manifestações superaram em tamanho
os “caras pintadas”, que em 1992 ajudaram
a impulsionar o impeachment de Fernando Collor. Sua importância, porém, foi muito além do volume de jovens nas ruas: elas colocaram os políticos contra a parede.
Junho de 2013 começou pela esquerda, puxado pelo MPL (Movimento Passe Livre), movimento de caráter horizontal — sem lideranças claras — e descolado de sindicatos e partidos tradicionais. Aos poucos, as ruas foram ocupadas também pela direita, com amplo uso das redes sociais. Abaixo, o Nexo recupera essa história a partir de 12 datas-chave.
GIANLUCA RAMALHO MISTI / WIKIMEDIA COMMONS
Junho de 2013 foi um mês marcado por uma onda de protestos que envolveu milhares de pessoas por todo o Brasil. Após terem início com foco no aumento
de passagens do transporte público, os atos cresceram e foram tomados por pautas difusas, permeadas pelo sentimento antiestablishment.
As manifestações superaram em tamanho os “caras pintadas”, que em 1992 ajudaram a impulsionar o impeachment de Fernando Collor. Sua importância, porém, foi muito além do volume de jovens nas ruas: elas colocaram os políticos contra a parede.
Junho de 2013 começou pela esquerda, puxado pelo MPL (Movimento Passe Livre), movimento de caráter horizontal — sem lideranças claras — e descolado de sindicatos e partidos tradicionais. Aos poucos, as ruas foram ocupadas também pela direita, com amplo uso das redes sociais. Abaixo, o Nexo recupera essa história.
THOMAS TEBET
_06_jun_2013
A insatisfação nas ruas
Depois de atos em cidades como Goiânia, Porto Alegre e Natal, São Paulo, maior capital do país, registrou o primeiro protesto do Movimento Passe Livre no dia 6 de junho.
O grupo pedia a redução do valor da passagem, que poucos dias antes havia passado de R$ 3 para R$ 3,20.
3.000
pessoas participaram do protesto em
São Paulo, segundo informações do MPL ao jornal O Globo
O preço do bilhete aumentava num momento em que a inflação no Brasil começava a crescer. Essa era a justificativa de boa parte das autoridades para a elevação das tarifas na metade do ano. Não era a primeira vez que o MPL, que fazia protestos recorrentes pela gratuidade no transporte, iria pressionar os governantes a revogar a medida.
JORNAL NACIONAL 3:13 ao 4:23 /YOUTUBE
O protesto teve conflito. Os manifestantes interditaram avenidas importantes do centro da cidade, como a 23 de Maio. Houve o incêndio de uma cabine da Polícia Militar
e pichações de paradas de ônibus na avenida Paulista. Do outro lado, a Tropa de Choque
da PM atirou bombas de efeito moral e balas de borracha para reprimir a passeata.
THOMAS TEBET
A insatisfação nas ruas
_06_jun_2013
Depois de atos em cidades como Goiânia, Porto Alegre
e Natal, São Paulo, maior capital do país, registrou o primeiro protesto do Movimento Passe Livre no dia
6 de junho. O grupo pedia a redução do valor da passagem, que poucos dias antes havia passado de R$ 3 para R$ 3,20.
3.000
pessoas participaram do protesto em São Paulo, segundo informações do MPL ao jornal O Globo
O preço do bilhete aumentava num momento em que a inflação no Brasil começava a crescer. Essa era a justificativa de boa parte das autoridades para a elevação das tarifas na metade do ano. Não era a primeira vez que o MPL, que fazia protestos recorrentes pela gratuidade no transporte, iria pressionar os governantes a revogar a medida.
JORNAL NACIONAL 3:13 ao 4:23 /YOUTUBE
O protesto teve conflito. Os manifestantes interditaram avenidas importantes do centro da cidade, como a 23 de Maio. Houve o incêndio de uma cabine da Polícia Militar
e pichações de paradas de ônibus na avenida Paulista.
Do outro lado, a Tropa de Choque da PM atirou bombas de efeito moral e balas de borracha para reprimir a passeata.
THOMAS TEBET
_11_jun_2013
A dinâmica das ruas
O MPL organizou novas manifestações em São Paulo. A terceira delas foi maior e registrou mais violência. Três policiais foram agredidos, lojas e agências bancárias foram depredadas, dois ônibus foram incendiados e mais de 20 pessoas foram detidas.
de 11 de junho, segundo cálculos da polícia repassados ao jornal O Globo
YOUTUBE
O protesto havia começado de forma pacífica, mas mudou depois que uma minoria dos manifestantes tentou invadir o terminal de ônibus Parque D. Pedro, um dos maiores do centro de São Paulo. O grupo lançou garrafas, pedras e pedaços de paus nos policiais que tentavam isolar a entrada. Depois, a Tropa de Choque chegou e lançou bombas de gás, o que atingiu milhares de pessoas.
A dinâmica das ruas
_11_jun_2013
O MPL organizou novas manifestações em São Paulo. A terceira delas foi maior e registrou mais violência. Três policiais foram agredidos, lojas e agências bancárias foram depredadas, dois ônibus foram incendiados e mais de 20 pessoas foram detidas.
segundo cálculos da polícia repassados ao jornal O Globo
YOUTUBE
O protesto havia começado de forma pacífica, mas mudou depois que uma minoria dos manifestantes tentou invadir o terminal de ônibus Parque D. Pedro, um dos maiores do centro de São Paulo. O grupo lançou garrafas, pedras e pedaços de paus nos policiais que tentavam isolar a entrada. Depois, a Tropa de Choque chegou e lançou bombas de gás, o que atingiu milhares de pessoas.
THOMAS TEBET
THOMAS TEBET
O ato chamou a atenção para os chamados black blocs, pessoas que usam táticas para garantir a autodefesa de manifestantes diante das forças policiais. O grupo também é conhecido por atacar prédios considerados símbolos do capitalismo, como os bancos. Trata-se de uma tática que surgiu nos anos 1980 na Alemanha, ganhou destaque nos protestos do fim dos anos 1990 em Seattle, nos EUA, e foi retomada nos 2010.
TV BRASIL /YOUTUBE
YOUTUBE
_12_jun_2013
A reação oficial
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), responsável pelo sistema de ônibus da capital, e o governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), responsável pelos trens e metrô, estavam em Paris quando os protestos começaram no Brasil. Ambos criticaram de forma dura o MPL e os black blocs pela manifestação da véspera.
“É intolerável a ação de baderneiros e vândalos.
[...] A polícia vai responsabilizar e exigir
o ressarcimento do patrimônio, seja público, seja privado, que foi destruído. Isso extrapola
“Nós temos compromisso com a liberdade de expressão. Aqueles que perderam [as eleições municipais] podem se manifestar. [...] Os métodos não são aprovados pela sociedade. Essa liberdade está sendo usada em prejuízo da população”
Os dois pareciam irredutíveis quanto ao aumento de R$ 0,20 que havia sido adotado nas passagens. Haddad disse na época que
o reajuste havia ficado abaixo da inflação,
o que correspondia a uma de suas promessas de campanha para o governo municipal.
O prefeito acrescentou que não dialogaria com o MPL em situação de violência.
Outro setor que aumentou o tom contra
o movimento foi a imprensa. Arnaldo Jabor, então colunista do programa Jornal Nacional, da TV Globo, disse que “os revoltosos de classe média” de São Paulo demonstraram “ódio à cidade” ao queimar ônibus municipais no protesto da véspera. Para ele, os manifestantes “não valiam nem 20 centavos”.
_13_jun_2013
A violência policial
em novo patamar
No dia em que o MPL realizaria seu quarto protesto em São Paulo, a imprensa pediu basta às manifestações. Dois dos maiores jornais do país, a Folha de S.Paulo e o Estado
de S. Paulo, publicaram editoriais (texto que indica a opinião do jornal) condenando os atos.
THOMAS TEBET
O ato chamou a atenção para os chamados black blocs, pessoas que usam táticas para garantir a autodefesa de manifestantes diante das forças policiais. O grupo também é conhecido por atacar prédios considerados símbolos do capitalismo, como os bancos. Trata-se de uma tática que surgiu nos anos 1980 na Alemanha, ganhou destaque nos protestos do fim dos anos 1990 em Seattle, nos EUA, e foi retomada nos 2010.
TV BRASIL /YOUTUBE
A reação oficial
_12_jun_2013
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), responsável pelo sistema de ônibus da capital, e o governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), responsável pelos trens e metrô, estavam em Paris quando os protestos começaram no Brasil. Ambos criticaram de forma dura o MPL e os black blocs pela manifestação da véspera.
“É intolerável a ação de baderneiros e vândalos. [...] A polícia vai responsabilizar e exigir o ressarcimento do patrimônio, seja público, seja privado, que foi destruído. Isso extrapola o direito de expressão. É absoluta violência, vandalismo, baderna, e é inaceitável”
“Nós temos compromisso com a liberdade de expressão. Aqueles que perderam [as eleições municipais] podem se manifestar. [...] Os métodos não são aprovados pela sociedade. Essa liberdade está sendo usada em prejuízo da população”
Outro setor que aumentou o tom contra o movimento foi
a imprensa. Arnaldo Jabor, então colunista do programa Jornal Nacional, da TV Globo, disse que “os revoltosos de classe média” de São Paulo demonstraram “ódio à cidade”
ao queimar ônibus municipais no protesto da véspera.
Para ele, os manifestantes “não valiam nem 20 centavos”.
YOUTUBE
A violência policial em novo patamar
_13_jun_2013
No dia em que o MPL realizaria seu quarto protesto em
São Paulo, a imprensa pediu basta às manifestações. Dois dos maiores jornais do país, a Folha de S.Paulo e o Estado
de S. Paulo, publicaram editoriais (texto que indica a opinião do jornal) condenando os atos.
“Oito policiais militares
e um número desconhecido
de manifestantes feridos,
87 ônibus danificados,
R$ 100 mil de prejuízos em estações de metrô e milhões
“No terceiro dia de protesto contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos,
os baderneiros que promovem os protestos ultrapassaram todos os limites e, daqui para a frente, ou as autoridades determinam que a polícia aja com maior rigor do que vem fazendo ou a capital paulista ficará entregue à desordem, o que é inaceitável”
“Oito policiais militares e um número desconhecido de manifestantes feridos, 87 ônibus danificados, R$ 100 mil de prejuízos em estações de metrô e milhões
de paulistanos reféns do trânsito. Eis o saldo do terceiro protesto
do Movimento Passe Livre, que se vangloria de parar São Paulo — e chega perto demais de consegui-lo”
O movimento não se inibiu com as críticas. Mais de 20 mil pessoas se reuniram no fim da tarde para o protesto daquele dia no centro de São Paulo. A Tropa de Choque da PM, porém, interrompeu a passeata, atirando bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha em quem passava pelo cruzamento entre as ruas da Consolação e Maria Antônia.
O movimento não se inibiu com as críticas. Mais de 20 mil pessoas se reuniram no fim da tarde para o protesto daquele dia no centro de São Paulo. A Tropa de Choque da PM, porém, interrompeu a passeata, atirando bombas de gás lacrimogêneo e tiros de bala de borracha em quem passava pelo cruzamento entre a rua Consolação e a Maria Antônia.
THOMAS TEBET
Aquele foi o ápice da violência policial nos atos contra a tarifa. Mais de 150 pessoas foram feridas, e mais de 200 foram detidas. Apareceram os primeiros relatos de agressões a jornalistas, incluindo sete repórteres da Folha e o fotógrafo Sérgio Silva, atingido por um tiro de bala de borracha no olho esquerdo. Essas cenas viralizaram nas redes sociais, e quem acompanhava a situação se solidarizou.
THOMAS TEBET
Aquele foi o ápice da violência policial nos atos contra
a tarifa. Mais de 150 pessoas foram feridas, e mais de
200 foram detidas. Apareceram os primeiros relatos de agressões a jornalistas, incluindo sete repórteres da Folha
e o fotógrafo Sérgio Silva, atingido por um tiro de bala de borracha no olho esquerdo. Essas cenas viralizaram nas redes sociais, e quem acompanhava a situação de solidarizou.
_14_jun_2013
Repercussão nos jornais
A cobertura da imprensa começa a mudar. Depois de ter publicado um editorial duro contra as manifestações, a Folha de S.Paulo deu enfoque à violência na capa do jornal do dia seguinte, que tinha como manchete: “Polícia reage com violência a protesto e SP vive noite de caos”.
“De repente, não mais
que de repente, o noticiário sobre as manifestações que paralisam grandes cidades brasileiras há uma semana sofre uma reviravolta: agora os jornais começam
a enxergar os excessos
da polícia e mostrar que
no meio da tropa há agentes provocadores e grupos predispostos à violência”
Essa reação não foi unânime. Enquanto a Folha mostrou imagens de pessoas agredidas por agentes de segurança no dia anterior,
o Estado de S. Paulo manteve o tom de antes, publicando na capa: “Paulistano fica refém
de bombas em novo conflito”. O foco estava nas adversidades das pessoas que não participavam do protesto e tentavam voltar para casa.
Não houve essa mesma divisão nas redes sociais, onde predominou a condenação
da violência policial. Vídeos amadores sobre as agressões em São Paulo, assim como cenas que mostravam que agentes de segurança poderiam ter forjado provas, viralizaram
no Facebook, Twitter e YouTube. Para quem compartilhava, a sensação era de que o país vivia um momento histórico, como explicou
o jornalista Bruno Torturra.
“Tem alguma coisa
sendo cozida aqui”
-
Bruno Torturra, em
entrevista à minissérie
“Uma crise chamada Brasil”,
do podcast Politiquês
Repercussão nos jornais
_14_jun_2013
A cobertura da imprensa começa a mudar. Depois de
ter publicado um editorial duro contra as manifestações,
capa do jornal do dia seguinte, que tinha como manchete:
“Polícia reage com violência a protesto e SP vive noite
de caos”.
“De repente, não mais que de repente, o noticiário sobre as manifestações que paralisam grandes cidades brasileiras há uma semana sofre uma reviravolta: agora os jornais começam a enxergar
os excessos da polícia e mostrar que no meio da tropa há agentes provocadores e grupos predispostos à violência”
-
Luciano Martins Costa, jornalista, em artigo para o antigo
portal Observatório da Imprensa do dia 14 de junho de 2013
ACERVO
Essa reação não foi unânime. Enquanto a Folha mostrou imagens de pessoas agredidas por agentes de segurança
no dia anterior, o Estado de S. Paulo manteve o tom de
antes, publicando na capa: “Paulistano fica refém de
bombas em novo conflito”. O foco estava nas adversidades das pessoas que não participavam do protesto e tentavam voltar para casa.
Não houve essa mesma divisão nas redes sociais, onde predominou a condenação da violência policial. Vídeos amadores sobre as agressões em São Paulo, assim como cenas que mostravam que agentes de segurança poderiam ter forjado provas, viralizaram no Facebook, Twitter
e YouTube. Para quem compartilhava, a sensação era
de que o país vivia um momento histórico, como explicou
o jornalista Bruno Torturra.
“Tem alguma coisa
sendo cozida aqui”
-
Bruno Torturra, em entrevista à minissérie
“Uma crise chamada Brasil”, do podcast Politiquês
THOMAS TEBET
_15_jun_2013
Vaias a Dilma no estádio
Os protestos chegaram à abertura da Copa
das Confederações, em Brasília. Hoje extinto, o evento era uma espécie de teste para países que iriam sediar a Copa do Mundo, como o Brasil faria em 2014. O torneio começou com um jogo entre a seleção brasileira e o Japão
no recém-reformado estádio Mané Garrincha.
O protesto daquele dia criticava a realização da Copa do Mundo e o uso de dinheiro público para promover o evento, que havia exigido a construção de estádios de futebol de bilhões de reais. Diferentemente dos atos de São Paulo, a manifestação não era liderada pelo MPL, embora os participantes se inspirassem na mobilização pela redução da tarifa.
MARCELLO CASAL JR. /AGBR
Do lado de dentro do estádio, o clima também era de indignação. Torcedores que assistiam
à abertura da Copa das Confederações no Mané Garrincha vaiaram a então presidente Dilma Rousseff, que estava presente, quando
o presidente da Fifa à época, Joseph Blatter,
a convidou para discursar. Para evitar mais desgastes, a petista foi sucinta.
_17_jun_2013
Não é só por R$ 0,20
Os protestos explodiram depois da violência policial. Com a imprensa já alinhada às redes sociais, houve solidariedade com o movimento, que aumentava desde a semana anterior. Manifestantes cresceram em número não só em São Paulo, mas também em outras capitais, como Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador.
100 mil
pessoas se reuniram no Rio de Janeiro,
e 65 mil, em São Paulo
THOMAS TEBET
Vaias a Dilma no estádio
_15_jun_2013
Os protestos chegaram à abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Hoje extinto, o evento era
uma espécie de teste para países que iriam sediar a
Copa do Mundo, como o Brasil faria em 2014. O torneio começou com um jogo entre a seleção brasileira e o Japão
do Mundo e o uso de dinheiro público para promover
o evento, que havia exigido a construção de estádios de futebol de bilhões de reais. Diferentemente dos atos de
São Paulo, a manifestação não era liderada pelo MPL, embora os participantes se inspirassem na mobilização
pela redução da tarifa.
MARCELLO CASAL JR. /AGBR
Do lado de dentro do estádio, o clima também era de indignação. Torcedores que assistiam à abertura da Copa das Confederações no Mané Garrincha vaiaram a então presidente Dilma Rousseff, que estava presente, quando o presidente da Fifa à época, Joseph Blatter, a convidou para discursar. Para evitar mais desgastes, a petista foi sucinta.
a imprensa já alinhada às redes sociais, houve solidariedade com o movimento, que aumentava desde a semana anterior. Manifestantes cresceram em número não só em São Paulo, mas também em outras capitais, como Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador.
100 mil
pessoas se reuniram no Rio de Janeiro, e 65 mil, em São Paulo
THOMAZ SILVA /AGBR
Apareceu um novo público para protestar,
que não pedia apenas a redução no preço das passagens. As faixas dos manifestantes pediam a construção de “hospitais padrão Fifa”, criticavam a violência policial e atacavam a corrupção, reivindicando, por exemplo, a queda da PEC 37, proposta de emenda constitucional que tramitava no Congresso para limitar os poderes de investigação do Ministério Público. Surgiu
Bruno Torturra, em entrevista à minissérie “Uma crise chamada Brasil”, do podcast Politiquês
-
“Agendas próprias
viraram slogans
de rua”
-
Angela Alonso, em entrevista à minissérie “Uma crise chamada Brasil”, do podcast Politiquês
Os protestos produziram cenas históricas.
Em São Paulo, oficiais da PM se sentaram na rua em apoio ao protesto, depois de o governo ter proibido o uso de balas de borracha em atos de rua. Em Brasília, manifestantes ocuparam a cobertura a cobertura do Congresso Nacional, em uma demonstração de pressão sobre a classe política.
THOMAZ SILVA /AGBR
Apareceu um novo público para protestar, que não pedia apenas a redução no preço das passagens. As faixas dos manifestantes pediam a construção de “hospitais padrão Fifa”, criticavam a violência policial e atacavam a corrupção, reivindicando, por exemplo, a queda da PEC 37, proposta de emenda constitucional que tramitava no Congresso para limitar os poderes de investigação do Ministério Público. Surgiu um novo slogan: “não é só por 20 centavos”.
Os protestos produziram cenas históricas. Em São Paulo, oficiais da PM se sentaram na rua em apoio ao protesto, depois de o governo ter proibido o uso de balas de borracha em atos de rua. Em Brasília, manifestantes ocuparam a cobertura do Congresso Nacional, em uma demonstração
de pressão sobre a classe política.
VALER COMPANATO /AGBR
_19_jun_2013
Os recuos dos governos
Com o aumento da adesão às manifestações em São Paulo, a mais recente naquele mesmo dia, o governador do estado, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, Fernando Haddad, anunciaram a redução na tarifa dos transportes. O preço dos ônibus, trens e metrô voltariam a custar R$ 3 dentro de cinco dias. Para Alckmin, a decisão representava um “sacrifício grande”.
VALER COMPANATO /AGBR
Os recuos dos governos
_19_jun_2013
Com o aumento da adesão às manifestações em São Paulo,
a mais recente naquele mesmo dia, o governador do estado, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, Fernando Haddad, anunciaram a redução na tarifa dos transportes. O preço dos ônibus, trens e metrô voltariam a custar R$ 3 dentro de cinco dias. Para Alckmin, a decisão representava um “sacrifício grande”.
MARCELO CAMARGO /AGBR
TV ESTADÃO
YOUTUBE
“[...] Vamos arcar com
os custos, fazendo um
ajuste na área de investimento, apertando
o cinto, mas entendo
que é importante para o transporte coletivo,
que é prioridade, de alta capacidade e qualidade,
e de outro lado, para a cidade, para a gente poder ter tranquilidade e debater temas legitimamente colocados [nas manifestações]”
a possibilidade de reduzir a tarifa um dia antes, quando iniciou a negociação com
o MPL. Seis outras cidades afetadas por protestos, como Recife, João Pessoa, Porto Alegre, Cuiabá, Blumenau (SC) e Montes Claros (MG), tomaram a medida no mesmo dia que o prefeito de São Paulo. O Rio também reduziria a tarifa depois.
O MPL comemorou. Imagens de um vídeo gravado pela TV Estadão no momento do anúncio de Alckmin e Haddad mostram integrantes do movimento cantando em um bar no centro de São Paulo. O grupo fez coro: “o povo tá na rua, a luta continua”. Estava marcada para o dia seguinte outra manifestação, na qual, segundo um dos membros, eles iriam celebrar a vitória.
_20_jun_2013
Todo mundo, menos os partidos
Os protestos se alastraram de vez. Mais de
1 milhão de pessoas se reuniram em uma
onda massiva de mobilização registrada em 130 cidades brasileiras, com presença cada vez maior das cores verde e amarela. Houve episódios de violência em capitais como Rio
e Brasília, onde um grupo invadiu e depredou a sede do Itamaraty.
A diversificação de reivindicações se manteve. Militantes de partidos de esquerda, como PSOL, PSTU, PCB e PT, foram agredidos por manifestantes de outras linhas ideológicas, que vinham crescendo nos protestos desde os episódios mais graves
de violência contra o MPL. Acusando as agressões de fascismo, o movimentoanunciou sua saída das ruas.
“Não é essa
nossa estratégia”
-
Mayara Vivian, em entrevista à minissérie “Uma crise chamada Brasil”, do podcast Politiquês
Ficaram mais duras as críticas aos políticos. Com cerca de 300 mil manifestantes nas ruas, o Rio viu começar o “Ocupa Cabral”, grupo
Haddad havia admitido pela primeira vez a possibilidade
de reduzir a tarifa um dia antes, quando iniciou a negociação com o MPL. Seis outras cidades afetadas por protestos, como Recife, João Pessoa, Porto Alegre, Cuiabá, Blumenau (SC) e Montes Claros (MG), tomaram a medida no mesmo dia que o prefeito de São Paulo. O Rio também reduziria
a tarifa depois.
O MPL comemorou. Imagens de um vídeo gravado pela TV Estadão no momento do anúncio de Alckmin e Haddad mostram integrantes do movimento cantando em um bar no centro de São Paulo. O grupo fez coro: “o povo tá na rua, a luta continua”. Estava marcada para o dia seguinte outra manifestação, na qual, segundo um dos membros, eles iriam celebrar a vitória.
Todo mundo, menos os partidos
_20_jun_2013
Os protestos se alastraram de vez. Mais de 1 milhão de pessoas se reuniram em uma onda massiva de mobilização registrada em 130 cidades brasileiras, com presença cada vez maior das cores verde e amarela. Houve episódios de violência em capitais como Rio e Brasília, onde um grupo invadiu e depredou a sede do Itamaraty.
A diversificação de reivindicações se manteve. Militantes
de partidos de esquerda, como PSOL, PSTU, PCB e PT,
foram agredidos por manifestantes de outras linhas ideológicas, que vinham crescendo nos protestos desde os episódios mais graves de violência contra o MPL. Acusando as agressões de fascismo, o movimento anunciou sua saída das ruas.
“Não é essa nossa estratégia”
-
Mayara Vivian, em entrevista à minissérie
“Uma crise chamada Brasil”, do podcast Politiquês
Ficaram mais duras as críticas aos políticos. Com cerca
de 300 mil manifestantes nas ruas, o Rio viu começar o “Ocupa Cabral”, grupo que montou um acampamento em frente à casa do então governador do estado. O governo
mais criticado, no entanto, foi o de Dilma, considerado responsável pela ampla insatisfação popular no país.
“Governo ficou ensanduichado”
-
Angela Alonso, em entrevista à minissérie
“Uma crise chamada Brasil”, do podcast Politiquês
JOSÉ CRUZ /AGBR
YOUTUBE
_21_jun_2013
O ‘pacto’ de Dilma Rousseff
Dilma cancelou uma viagem internacional que estava programada e fez um pronunciamento em cadeia nacional no rádio e TV no qual propôs um pacto pela melhoria dos serviços públicos. A presidente prometeu se reunir com governadores e prefeitos para discutir a medida.
“As manifestações desta semana trouxeram importantes lições.
As tarifas baixaram
e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional.
Temos que aproveitar
o vigor das manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem
O pacto teria três focos: a elaboração de um Plano Nacional de Mobilidade Urbana, com prioridade para o transporte público, a destinação de 100% dos royalties do petróleo
para a educação, que estava em discussão no Congresso, e a contratação de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde), que mais tarde se tornaria o programa Mais Médicos.
Dilma prometeu receber os líderes das manifestações, representantes de organizações de jovens, entidades sindicais
e outros movimentos populares. Três dias depois, ela se reuniria com 26 prefeitos
e 27 governadores para propor uma série
de mudanças. Entre elas, estava tornar
a corrupção crime hediondo e fazer um plebiscito para criar uma Constituinte exclusiva para a reforma política.
_25_jun_2013
A resposta do Congresso
A Câmara dos Deputados arquivou a PEC 37, mantendo o poder de investigação do Ministério Público. Todos os partidos defenderam a rejeição do projeto, que foi derrubado por 430 votos. A votação foi acompanhada de perto por promotores, procuradores e estudantes, que lotaram
as galerias da Casa.
“Não há dúvida nenhuma de que esta é uma das respostas às manifestações da população nas ruas.
Eu tenho certeza de que
se ela fosse votada há
15 dias a maioria da Casa lamentavelmente teria aprovado a PEC”
Dilma cancelou uma viagem internacional que estava programada e fez um pronunciamento em cadeia nacional no rádio e TV no qual propôs um pacto pela melhoria dos serviços públicos. A presidente prometeu se reunir com governadores e prefeitos para discutir a medida.
“As manifestações desta semana trouxeram importantes lições. As tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor das manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira”
-
Dilma Rousseff, então presidente da República, em pronunciamento
no rádio e na TV no dia 21 de junho de 2013
Aprovação de Dilma no Datafolha
JUN/2013
80%
Ótimo
60%
40%
regular
20%
ruim
0%
2011
2012
2013
2014
2015
2016
1º MANDATO
2º MANDATO
O pacto teria três focos: a elaboração de um Plano Nacional de Mobilidade Urbana, com prioridade para o transporte público, a destinação de 100% dos royalties do petróleo
para a educação, que estava em discussão no Congresso,
que mais tarde se tornaria o programa Mais Médicos.
Dilma prometeu receber os líderes das manifestações, representantes de organizações de jovens, entidades sindicais e outros movimentos populares. Três dias depois, ela se reuniria com 26 prefeitos e 27 governadores para propor uma série de mudanças. Entre elas, estava tornar
o poder de investigação do Ministério Público. Todos
os partidos defenderam a rejeição do projeto, que foi derrubado por 430 votos. A votação foi acompanhada
de perto por promotores, procuradores e estudantes,
que lotaram as galerias da Casa.
“Não há dúvida nenhuma de que esta é uma das respostas às manifestações da população nas ruas. Eu tenho certeza de que se ela fosse votada há 15 dias a maioria da Casa lamentavelmente teria aprovado a PEC”
-
Alexandre Molon, então deputado federal pelo PT do Rio de Janeiro,
em entrevista à Rede Globo
JOSÉ CRUZ /AGBR
Os deputados também aprovaram um projeto que destinava 75% dos royalties do petróleo para a educação — o restante iria para a saúde. A proposta votada foi um pouco diferente da apresentada pelo governo federal, que havia sugerido a destinação de 100% dos royalties para as instituições de ensino.
Em outra resposta às manifestações, o
Senado aprovaria no dia seguinte o projeto que tornaria a corrupção crime hediondo.
Já a proposta de criar uma Assembleia Constituinte para a reforma política não foi para frente. Dilma a descartou por falta de acordo com a oposição e com integrantes do governo, além da desaprovação de entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
UESLEI MARCELINO /REUTERS
_30_jun_2013
Copa do Mundo para quem?
Novos protestos ocuparam o entorno
do estádio do Maracanã no último dia da
Copa das Confederações, que terminou com uma partida entre Brasil e Espanha. Duas manifestações no Rio reuniram entre 4.000
e 5.000 pessoas cada uma para protestar,
de um lado, contra os gastos públicos para
a construção dos estádios da Copa e, de outro, contra as remoções de moradores afetados pelas obras.
JOSÉ CRUZ /AGBR
Os deputados também aprovaram um projeto que destinava 75% dos royalties do petróleo para a educação — o restante iria para a saúde. A proposta votada foi um pouco diferente da apresentada pelo governo federal, que havia sugerido a destinação de 100% dos royalties para as instituições de ensino.
Em outra resposta às manifestações, o Senado aprovaria
no dia seguinte o projeto que tornaria a corrupção crime hediondo. Já a proposta de criar uma Assembleia Constituinte para a reforma política não foi para frente. Dilma a descartou por falta de acordo com a oposição e com integrantes do governo, além da desaprovação de entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
UESLEI MARCELINO /REUTERS
Copa do Mundo para quem?
_30_jun_2013
Novos protestos ocuparam o entorno do estádio do Maracanã no último dia da Copa das Confederações,
que terminou com uma partida entre Brasil e Espanha.
Duas manifestações no Rio reuniram entre 4.000 e 5.000 pessoas cada uma para protestar, de um lado, contra
os gastos públicos para a construção dos estádios da
Copa e, de outro, contra as remoções de moradores
afetados pelas obras.
TOMAZ SILVA /AGBR
Os dois grupos tiveram relações diferentes com a PM do Rio. Pessoas que vestiam verde
e amarelo, criticando os gastos do governo, chegaram a posar com os policiais para fotos. Parte dos integrantes da segunda marcha,
por outro lado, entrou em confronto com
os agentes que bloqueavam o acesso ao Maracanã, e a PM os reprimiu de forma violenta.
_pós-junho de 2013
Os protestos encerraram a competição que
foi chamada por comentaristas de “Copa
das manifestações” e o mês que depois ficaria conhecido como o das “jornadas de junho”. Eles se estenderiam, de forma mais localizada, por meses adiante.
Não se imaginava, naquela altura, qual
seria o impacto a longo prazo daquelas manifestações. Nem que elas seriam superadas por outras, muito maiores,
nos anos seguintes.
RODRIGUEZ POZZEBOM /AGBR
TOMAZ SILVA /AGBR
Os dois grupos tiveram relações diferentes com a PM do Rio. Pessoas que vestiam verde e amarelo, criticando os gastos do governo, chegaram a posar com os policiais para fotos. Parte dos integrantes da segunda marcha, por outro lado, entrou em confronto com os agentes que bloqueavam o acesso ao Maracanã, e a PM os reprimiu de forma violenta.
_Pós-junho de 2013
Os protestos encerraram a competição que foi chamada
por comentaristas de “Copa das manifestações” e o mês
que depois ficaria conhecido como o das “jornadas de junho”. Eles se estenderiam, de forma mais localizada,
por meses adiante.
Não se imaginava, naquela altura, qual seria o impacto a longo prazo daquelas manifestações. Nem que elas seriam superadas por outras, muito maiores, nos anos seguintes.