Acadêmico

Ditadura militar e educação: a trajetória de Maria Laura Lopes

Lucas Barroso Rego

29 de janeiro de 2025(atualizado 29/01/2025 às 20h54)
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Ditadura, repressão e resistência: o caso de Maria Laura Mouzinho Leite Lopes (1919-2013)

Autoria

Lucas Barroso Rego

Lattes

Área e sub-área

História

Publicado em

07/08/2024

Maria Laura Mouzinho Leite Lopes foi uma matemática e professora universitária brasileira. Nascida em 1919, foi a primeira mulher a se doutorar em matemática no Brasil e a primeira a fazer parte da Academia Brasileira de Ciências. Sua trajetória acadêmica, no entanto, foi interrompida durante a ditadura militar, quando foi aposentada compulsoriamente de seu posto como professora na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e teve que se exilar do Brasil.

 

Esta pesquisa se debruça sobre a sua história e discute como ela se relaciona com a luta pela autonomia na educação e no pensamento crítico no Brasil.

1Qual a pergunta a pesquisa responde?

Como a trajetória da professora e matemática brasileira Maria Laura Lopes foi impactada pela repressão da ditadura civil-militar, e de que forma sua resistência contribuiu para a defesa da autonomia acadêmica e do pensamento crítico no Brasil?

2Por que isso é relevante?

A pesquisa aborda a repressão política sobre intelectuais e professores, uma dimensão central da ditadura que teve efeitos profundos na educação e no desenvolvimento científico no Brasil. 

 

FOTO: Reprodução

A matemática e professora universitária Maria Laura Mouzinho Leite Lopes

 

A análise do caso de Maria Laura revela as estratégias de resistência que surgiram em resposta a essa repressão, ressaltando a importância de figuras que mantiveram seu compromisso com o ensino e a ciência em contextos de cerceamento político. Além disso, contribui para a memória institucional das universidades e reforça o papel da educação na luta pela democracia.

3Resumo da pesquisa

A ditadura civil-militar no Brasil, iniciada em 1964, teve um impacto significativo nas instituições públicas, especialmente nas universidades. A repressão dentro desses espaços institucionais foi uma realidade desde o início do regime autoritário, incluindo perseguições, censuras, aposentadorias compulsórias, expulsões, prisões, torturas e o assassinato de professores universitários. 

 

Dentre os 46 docentes cassados pela UFRJ durante o período de 1964 a 1985, uma delas foi Maria Laura Mouzinho Leite Lopes (1919-2013), destacada matemática brasileira. Utilizando uma abordagem qualitativa e micro-histórica, este estudo analisa a sua trajetória, explorando a sua jornada desde a infância até as consequências da ditadura em sua vida acadêmica e profissional. 

 

Maria Laura foi aposentada compulsoriamente em 1969 pelo AI-5 e AI-10, sendo exilada nos EUA e posteriormente na França, onde iniciou pesquisas em didática da matemática na Universidade Louis Pasteur. Retornou ao Brasil em 1974, mas foi impedida de reassumir sua cátedra na UFRJ, dedicando-se à formação de professores e à educação matemática. Fundou o GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática) em 1976 e teve papel central na criação de cursos pioneiros na área. Anistiada em 1979, foi reintegrada à UFRJ em 1980, inovando na metodologia de ensino e liderando pesquisas na educação matemática.

4Quais foram as conclusões?

Maria Laura enfrentou desafios como a perseguição política e o exílio durante o regime autoritário e, apesar da adversidade, manteve o seu compromisso com a educação, contribuindo significativamente para o campo da didática da matemática no exterior e no país. Seu legado representa não apenas uma história de sobrevivência e resistência, mas também um testemunho do poder da educação e da ciência em resistir a tempos de cerceamento político-social, inspirando futuras gerações a defenderem os valores da autonomia acadêmica e do pensamento crítico.

5Quem deveria conhecer seus resultados?

Historiadores, educadores, matemáticos, estudiosos de direitos humanos e interessados em compreender o impacto da ditadura militar brasileira sobre a educação, a ciência e a luta pela liberdade acadêmica.

Lucas Barroso Rego é mestrando em História Social pelo Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Também é licenciado em história pela UCaM (Universidade Candido Mendes) e bacharel em história pela UFRJ.

Referências

  • ANDRADE, Maria Helena; OLIVEIRA, Rannyelly Rodrigues. Maria Laura Mouzinho Leite Lopes: uma matemática feminina brasileira na História da Matemática. In: Anais eletrônicos do 17º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, 2020.
  • FERNANDEZ, Cecília de Souza. A Vida de Maria Laura Mouzinho Leite Lopes. Universidade Federal Fluminense, 2018.
  • IVANISSEVICH, Alicia. Maria Laura Mouzinho Leite Lopes: uma realista esperançosa. Ciência Hoje, São Paulo, v. 44, p. 68-77, out. 2009.
  • PEREIRA, Pedro Carlos. A educadora Maria Laura: contribuições para a constituição da educação matemática no Brasil. 2010. 239 f. Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010.
  • _______. Um elo perfeito: Maria Laura Mouzinho Leite Lopes e a educação matemática Vida y obra. Revista Científica General José María Córdova, v. 13, n. 15, p. 326-334, 2015.

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