Acadêmico

A atuação digital de influenciadores na eleição de Bolsonaro

Felipe da Silva Cruz

03 de abril de 2025(atualizado 03/04/2025 às 15h27)
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Agentes do caos: guerra cultural, redes sociais e novas direitas no Brasil recente

Autoria

Felipe da Silva Cruz

Lattes

Área e sub-área

Ciências Humanas/História

Publicado em

02/06/2023

Na esteira das manifestações brasileiras de 2013 e de toda a movimentação política e social em torno do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, uma miríade de conteúdos antissistema e que defendiam pautas conservadoras começou a se espalhar por redes sociais como o Facebook e o Youtube. 

 

Esta pesquisa busca entender as práticas desses influenciadores digitais e seu impacto nas eleições de 2018, que elegeram Jair Bolsonaro e outros políticos de extrema direita.

1Qual a pergunta a pesquisa responde?

Como influenciadores digitais disseminaram discursos reacionários e operacionalizaram a ascensão de sujeitos das novas direitas no Brasil?

2Por que isso é relevante?

A ascensão da extrema direita no Brasil foi em grande parte guiada por uma ampla articulação dentro das redes sociais, com um conjunto de discursos reacionários e mentirosos sendo disseminados por sujeitos e influenciadores digitais. Entender essa dinâmica é essencial para compreender a formação de suas ideias e sua culminação no que veio a se tornar o bolsonarismo.

FOTO: Reprodução/Youtube/Canal Mamaefalei

O youtuber e ex-deputado estadual de São Paulo Arthur do Val

3Resumo da pesquisa

O trabalho buscou refletir, analisar e compreender a ascensão e o fortalecimento de sujeitos individuais e coletivos representativos das novas direitas no Brasil recente (entre 2014 e 2018). Para isso, focou-se a trajetória de dois influenciadores digitais que tiveram papéis centrais no movimento: Nando Moura e Arthur do Val “Mamaefalei”. 

 

Buscou-se ler esses sujeitos, suas produções e seus conteúdos como replicadores da “guerra cultural” olavista e bolsonarista, à luz da visão reacionária, anticomunista (antipetista) e ultraliberal das novas direitas. 

 

Ao analisar suas trajetórias, buscamos identificar suas principais formas de atuação e organização, os conteúdos que produziram e sua teia de relações, diretas e indiretas, com aparelhos de doutrinação ideológica, como o Instituto Millenium, o Instituto Liberal, o Instituto Mises Brasil, a Brasil Paralelo e alguns de seus intelectuais orgânicos, na difusão de projetos ultraliberais e ultraconservadores. 

 

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As fontes documentais em que a pesquisa se apoiou foram materiais publicados em sites, webjornais e redes sociais – como o Twitter e o Facebook –, com destaque para os vídeos postados por Moura e Do Val em seus canais do Youtube entre 2015 e 2018.

4Quais foram as conclusões?

O sucesso eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018 deu-se em muito por meio da operação e atuação conjunta de sujeitos operando nas redes e mídias sociais. Esses influenciadores digitais foram fundamentais e protagonistas no engajamento, produção e disseminação de conteúdos proliferadores de fake news, teorias conspiratórias e sensacionalismos,  que favoreceram a extrema direita e o bolsonarismo, com uma quantidade massiva de conteúdos pautados na desestabilização política e/ou criminalização das esquerdas, em especial do petismo. 

 

Esses sujeitos, que intitulamos “agentes do caos”, fizeram desses espaços de comunicação — das plataformas digitais às redes sociais — seus vetores privilegiados de canalização e expressão coletiva, promovendo discursos de ódio e assumindo uma postura anticorrupção e antissistema. Eles passaram, por meio da internet, a esvaziar o sentido (já desgastado) do debate público e a turvar a percepção de milhares de brasileiros acerca da realidade do país, influenciando diretamente as eleições e o cotidiano das pessoas.

5Quem deveria conhecer seus resultados?

Pesquisadores de temas como a ascensão da extrema direita no Brasil, a eleição de 2018 e a chegada de Bolsonaro à Presidência.

Felipe da Silva Cruz é doutorando em história pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Graduado e mestre em história pela Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Pós-graduado lato sensu em literatura e cultura pelo Centro Universitário UniFatecie e em história e cultura afro-brasileira e indígena pelo Centro Universitário Internacional Uninter. Integra o Grupo de Pesquisa Estado e Poder, da Unioeste.

Referências

  • ROCHA, Camila. “Menos Marx, Mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018). Tese (Doutorado em Ciência Política). São Paulo: Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2018.
  • ROCHA, João Cezar de. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil póspolítico. Goiânia: Caminhos, 2021.
  • CASIMIRO, Flávio H. C. A Nova Direita: aparelhos de ação política e ideológica no Brasil contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular, 2018.
  • CASIMIRO, Flávio H. C. A tragédia e a farsa: a ascensão das direitas no Brasil Contemporâneo. São Paulo: Expressão Popular, 2020.
  • PATSCHIKI, Lucas. Os litores da nossa burguesia: o Mídia sem Máscara em atuação partidária (2002-2011). Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de História, Letras e Ciências Humanas, Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon, 2012.

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