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De um lado, a ideia de que o mundo é injusto e apenas um governo forte pode corrigir essa injustiça e impedir que umas pessoas explorem as outras. Do outro, a noção de que mercados são perfeitamente eficientes e precisam funcionar com plena liberdade, já que qualquer intervenção neles é nociva e acaba tornando todo mundo mais pobre. Parece incrível, mas essas duas teorias centenárias seguem dominando o debate político no mundo todo, apesar de vivermos em tempos muito mais complexos do que os de Karl Marx e ou os de Adam Smith.
O socialismo e o liberalismo, pensamentos fundadores da esquerda e da direita na política atual, são paradigmas teóricos fundamentais na história contemporânea. Mas, a esta altura do século 21, é possível afirmar com plena convicção: tanto um quanto o outro estão errados em algumas de suas premissas centrais. Nenhum deles nos serve de guia exclusivo para o futuro que precisa ser construído.
O socialismo está errado porque é uma utopia. Por mais que gostemos da ideia de um mundo sem classes, onde todos são iguais, décadas de tentativas frustradas liquidaram qualquer dúvida: essa visão contraria a natureza humana. Desigualdades são parte inevitável de nossas sociedades e todo sonho que começou com uma tentativa de aboli-las terminou num pesadelo autoritário, com Estados inchados forçando as pessoas a fazerem o que elas não queriam e, ironicamente, tornando-se eles próprios uma classe de privilegiados.
Mas o liberalismo é uma utopia também. Embora seja verdade que a livre competição alimenta a inovação e reduz o preço das coisas, nem todas as previsões de Adam Smith saíram como o esperado. Todo o pensamento econômico liberal baseia-se na ideia de que pessoas são seres racionais que decidem o que é melhor para si, fazendo, assim, com que tudo fique melhor para todo mundo. Hoje sabemos que há dois erros imensos nesse raciocínio: 1) humanos não decidem racionalmente, como provaram as pesquisas de comportamento humano nas últimas décadas, como as do Nobel de Economia Daniel Kahneman; e 2) num mundo complexo, onde todas as ações são interligadas, muitas vezes, quando cada um decide pensando só no que é melhor para si próprio, acaba ficando pior para todos. Basta olhar ao redor para ver isso acontecendo.
Nem o paraíso igualitário dos socialistas nem o paraíso livre dos liberais jamais existiu – e nem poderia existir, segundo os cientistas que pesquisam o comportamento humano. Ambas as teorias, por mais influentes e geniais que tenham sido, subestimaram a complexidade do mundo.
Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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