Coluna

Humberto Laudares

No máximo dois mandatos, Sr(a). presidente

24 de janeiro de 2018

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As instituições políticas brasileiras parecem atender a interesses exclusivos de meia dúzia de dirigentes que se perpetuam no poder. Isso prejudica a representatividade e impede a renovação dos quadros políticos

Bom dia para você que acordou querendo ler todos os detalhes do julgamento do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal que ocorreu ontem em Porto Alegre. Não tenho dúvida de que nos grupos de WhatsApp, nas rodas de conversa ou nos posts de Facebook só se fala na possibilidade do ex-presidente ser preso, ou não, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Em vez de cair no tema do dia, gostaria de defender que cada presidente possa exercer apenas dois mandatos consecutivos, inviabilizando a possibilidade de participar novamente de eleições presidenciais.

Antes de pensar que esteja defendendo tal argumento porque o ex-presidente Lula lidera as principais pesquisas de opinião para as próximas eleições, convido-o para refletir comigo sobre o assunto. Não para as próximas eleições, mas para além de 2018.

O Brasil é um país onde os partidos políticos são fechados e comandados por poucas pessoas. Essa ausência de governança inclusiva e participativa garante àqueles que ocupam ou ocuparam o cargo de presidente da República uma influência dentro do partido praticamente inconteste. O motivo é simples: além do peso do cargo e da experiência de ocupar tal posição, os governos são máquinas de empregar aliados. Basta pegar os casos de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso ou Lula. As únicas exceções à regra são Fernando Collor de Mello, que nunca esteve em um partido relevante, e Dilma Rousseff, quem foi fruto da hegemonia partidária do próprio ex-presidente Lula.

O caso mais interessante de se observar, no entanto, é o envolvendo a ex-presidente Dilma. Depois do seu segundo mandato, Lula, aos 65 anos de idade e com 80% de aprovação do mandato, indica como pré-candidata do Partido dos Trabalhadores à presidência sua chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ignorando alguns líderes do próprio partido que estavam incólumes de escândalos prévios. Alguns acreditam que Lula a havia escolhido pois tinha certeza que ele elegeria até um “poste” e, quem sabe, poderia contar com sua ascendência sobre Dilma para retornar como candidato após o seu primeiro mandato. Embora Lula tivesse poder e instrumentos para fazer isso acontecer, Dilma deixou muito claro que seria candidata à reeleição. Há quem diga que isso abalou a relação entre os dois.

Humberto Laudaresé especialista em políticas públicas e desenvolvimento. É Ph.D em Economia pelo Graduate Institute, em Genebra (Suíça), e mestre pela Universidade Columbia (Estados Unidos). Fez Ciências Sociais na USP e Administração na FGV de São Paulo. Trabalhou com políticas públicas em governos, no parlamento e em organismos internacionais. Para acompanhar sua página no Facebook: www.facebook.com/laudares

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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