Coluna
Claudio Ferraz
Por que temos tão poucas mulheres na política e por que isso importa?
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O assassinato da vereadora Marielle Franco na semana passada sacudiu o Brasil e trouxe à tona discussões acaloradas, não só sobre violência e crime organizado, mas também sobre a (falta de) representatividade feminina na política brasileira.
Nas últimas eleições municipais, em 2016, os brasileiros escolheram 50 mil vereadores homens e somente 7.811 vereadoras mulheres. A situação não é muito diferente se olharmos para as assembleias legislativas estaduais ou o Congresso Nacional. Nas eleições de 2014, dos 1.035 legisladores estaduais eleitos, somente 114 eram mulheres, ou apenas 11% do total. No Congresso Nacional, foram eleitas somente 61 mulheres para 513 cadeiras, ou 12% do total.
Mas por que isso importa? Se uma vez eleitos políticos representassem seus eleitores de maneira equilibrada, o gênero deles não deveria ser motivo de preocupação. No entanto, a realidade é outra. Estudos feitos por economistas e cientistas políticos mostram que a identidade de quem governa tem um efeito enorme sobre o tipo de políticas públicas que são implementadas.
Em 1993, a Índia fez uma reforma constitucional que descentralizou gastos públicos para os governos locais e, simultaneamente, reservou um terço das posições de chefia do Executivo para mulheres. Esses lugares seriam reservados temporariamente por uma eleição, e a cada eleição haveria um sorteio para determinar qual local seria reservado. Num estudo precursor , Raghabendra Chattopadhyay e Esther Duflo coletaram informações de 265 vilas para testar se a presença de uma mulher no poder fazia alguma diferença. Ao comparar locais reservados para líderes femininas com aqueles não reservados, elas concluíram que a reserva para mulheres gerou mudanças significativas nos investimentos em bens públicos, beneficiando mais as mulheres. Mais do que isso. Em eleições seguintes, quando a vaga reservada para mulheres não existia mais, mulheres tiveram um aumento significativo na chance de serem eleitas, resultado consistente com uma diminuição na discriminação por parte dos eleitores.
A eleição de políticas mulheres não muda só o tipo de gasto público, mas também gera efeitos significativos sobre resultados de saúde e educação. As economistas Sonia Bhalotra e Irma Clots-Figueras estudaram os efeitos de eleições para assembleias estaduais na Índia. Elas olharam para o caso das eleições distritais onde homens e mulheres tiveram votações muito apertadas – lugares em que homens ou mulheres ganharam por pouco. Elas descobriram que, em assembleias estaduais que elegeram mais mulheres, há uma redução significativa na taxa de mortalidade infantil neonatal. Além disso, localidades que elegem mais mulheres têm uma maior proporção de crianças que terminam o ensino fundamental.
Claudio Ferrazé professor da Vancouver School of Economics, na University of British Columbia, Canadá, e do Departamento de Economia da PUC-Rio. Ele é diretor científico do JPAL (Poverty Action Lab) para a América Latina. É formado em economia pela Universidade da Costa Rica, tem mestrado pela Universidade de Boston, doutorado pela Universidade da Califórnia em Berkeley e foi professor visitante na Universidade de Stanford e no MIT.
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