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Um deserto a perder de vista. A sensação é de ter chegado depois do apocalipse, e agora restam apenas os escombros para um outro começo. Tudo tem a cor avermelhada da lama, a não ser o céu imponente que insiste em anunciar que ainda há vida. É preciso confiar na vida. Naquela imensa área destinada à disposição de resíduos sólidos da maior refinaria de alumina (óxido de alumínio) do planeta, a Hydro Alunorte, até a poeira exala a urgência de se enfrentar o colapso civilizacional materializado pela política mineral no Brasil e no mundo. A mineração não pode significar o fim dos tempos.
Presenciei esse cenário arrasado ao cumprir missão oficial no estado do Pará, nos dias 29 e 30 de março, junto à Comissão Externa Desastre de Brumadinho, instituída na Câmara dos Deputados após o crime da Vale ocorrido em 25 de janeiro de 2019. Conhecemos instalações da MRN (Mineração Rio do Norte), em Oriximiná, onde está em funcionamento a maior mina de bauxita do Brasil e a terceira maior do mundo, e depois fomos a Barcarena, onde opera a Hydro Alunorte. A bauxita é o minério do qual se produz a alumina, principal matéria-prima do alumínio.
Nas duas cidades, ouvimos relatos de lideranças de comunidades atingidas há décadas por esses empreendimentos. A contaminação das águas, do solo e do ar é um dos graves problemas sofridos por essas populações, que tiveram seus modos de vida devastados e estão sujeitas a doenças de pele, respiratórias e outras decorrentes da exposição a metais pesados. A luta incansável dessas pessoas é um apelo por voz, para que suas realidades sejam visibilizadas, para que o modelo predatório da mineração seja transformado.
Áurea Carolina
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