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Tenho estudado muito aquilo que alguns teóricos chamam de “desordem informacional” . Esse fenômeno tomou o mundo na era das redes sociais e fez com que a verdade tenha simplesmente deixado de importar para o debate público – que se transformou numa guerra de narrativas, às vezes todas elas em algum grau fictícias. Tenho lido livros e pesquisas sobre o tema, entrevistado especialistas e vítimas da mentira, passo muito tempo pensando nisso.
Mas uma coisa é estudar. Outra é aprender – na pele, na carne, na medula dos ossos. Foi o que aconteceu comigo quando, no começo deste ano, repórter que sou, aceitei um desafio da revista Época e me matriculei no curso online do escritor Olavo de Carvalho. Aceitei porque quero entender. Claro que eu já conhecia Olavo – quem não o conhece, desde que ele virou a figura de maior influência sobre o presidente da República? Mas meu conhecimento se baseava em posts pontuais que chegavam a mim, quase todos absurdos e ultrajantes. Eu não entendia o apelo do Olavo: para isso, teria que mergulhar no mundo dele, de mente aberta.
Foi o que fiz. Passei quatro meses naquele universo – assistindo a aulas, convivendo com alunos, acompanhando seus vitupérios 24 horas por dia nas redes sociais (Olavo vara noites postando). Fiz isso de maneira transparente. Matriculei-me com meu nome verdadeiro, com meu cartão de crédito, não escondi minhas intenções. Não era um trabalho de espionagem: era um trabalho de jornalismo, que é o que eu faço da vida.
É simples: consiste em tentar entender algo o melhor possível e depois tentar explicar da maneira mais verdadeira e clara que eu consiga, cuidando para não deixar meus vieses interferirem. Claro que “a verdade” é uma coisa virtualmente impossível de se alcançar. Num mundo complexo, não existe uma só verdade, e muita coisa é subjetiva. Mas minha missão, como jornalista, é tentar chegar o mais perto possível dela, por mais que eu nunca a alcance.
Como sempre faço antes de escrever sobre alguém, tentei entrevistar Olavo. Tentei muito: mandei mensagens pelo chat do curso, pelas redes sociais, liguei, mandei WhatsApp. Nunca obtive nenhuma resposta. Quer dizer, obtive, mas as respostas não eram dirigidas a mim. Olavo pegava trechos de minhas mensagens e publicava para seus muitos seguidores, acrescentando ofensas e teorias conspiratórias sobre minhas intenções. Ele evidentemente não sentia a menor necessidade de dar entrevista a mim.
Denis R. Burgiermané jornalista e escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica. É roteirista do “Greg News”, foi diretor de redação de revistas como “Superinteressante” e “Vida Simples”, e comandou a curadoria do TEDxAmazônia, em 2010.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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