Temas
Compartilhe
No dia 2 de julho deste ano, publiquei um texto na minha rede social no qual eu refletia que negros e indígenas são os verdadeiros representantes do patriotismo brasileiro. Para quem não sabe, no 2 de julho comemoramos o dia da Independência da Bahia, que aconteceu em 1823, portanto quase um ano depois da Independência do Brasil.
Em 1822, os portugueses resistiram a sair da Bahia, mas foram derrotados pelo povo, homens e mulheres negras e africanos na sua maioria, escravizados e libertos, que lutaram nos batalhões da Independencia . A história é belíssima, sobretudo porque esse protagonismo popular significava as lutas pela liberdade na Bahia escravista, que seguiria a ordem nacional, abolindo o cativeiro somente em 1888.
Essa história não é reconhecida nacionalmente, é nossa, das mulheres e homens baianos, que todos os anos seguem o caboclo e a cabocla , os indígenas que são símbolos da luta popular pelo fim do domínio português. Este ano, acompanhei o desfile da Independência na cidade de Cachoeira, que acontece no 25 de junho, e em Salvador, no 2 de julho. Sempre chama a minha atenção a participação das escolas públicas, as fanfarras, a performance das balizas (na maior parte das vezes compostas por meninos gays e trans). Enfim, são jovens negras e negros de todas as idades, que desfilam com suas tranças e cabelos de todos os tipos, no único dia do ano em que, assim como o caboclo e a cabocla, eles são símbolos da liberdade, da Independência, do amor ao Brasil e à Bahia.
Luciana Britoé historiadora, doutora em história pela USP e especialista nos estudos sobre escravidão, abolição e relações raciais no Brasil e EUA. É professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e autora dos livros “O avesso da raça: escravidão, racismo e abolicionismo entre os Estados Unidos e o Brasil” (Barzar do Tempo, 2023) e “Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista” (Edufba, 2016), ganhador do prêmio Thomas Skidmore em 2018. É também autora de vários artigos. Luciana mora em Salvador, tem os pés no Recôncavo baiano, mas sua cabeça está no mundo. Escreve mensalmente às terças-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
Navegue por temas