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O mundo, que caminhava para o unilateralismo fratricida do “Me First” (“Eu primeiro”), viu certezas e arrogâncias desmoronarem diante da pandemia da covid-19. Acordou para o fato de que estamos todos no mesmo barco: o que acontece com o meu vizinho, seja ele um país ou um morador próximo, me afeta, e vice-versa, escancarando a premência de cooperação entre pessoas e países.
Dentre os efeitos da eclosão do novo coronavírus está o estouro de uma bolha financeira, presente com maior evidência nos mercados de ações, mas também em alguns mercados de crédito, afetando empresas mundialmente. Como se não bastasse, a Arábia Saudita e a Rússia deflagraram uma queda de braço sobre o preço do petróleo, provocando volatilidade e queda de 50% no preço de uma matéria-prima crucial, arrastando para a crise empresas do setor ao redor do mundo.
Os efeitos da sobreposição de crises podem ser vistos no comportamento de qualquer indicador de desempenho do mercado financeiro doméstico e internacional, no valor das moedas, na magnitude da reação fiscal e monetária dos governos, ou nas estimativas da profundidade da recessão que se aproxima. Este parece ser o episódio mais desafiador que o mundo enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial, colocando em risco enorme número de vidas humanas e o funcionamento das economias.
Já vivemos vários estouros de bolhas que provocaram crises financeiras, e embora cada uma tenha particularidades, os bancos centrais e Tesouros aprenderam como minimizar seus efeitos sobre a economia. É o que estão fazendo no caso atual, em doses extraordinárias. Entretanto, o enfrentamento da pandemia coloca aos governos escolhas nunca cogitadas em tempos de paz, que geram efeitos imediatos e inusitados sobre as vidas das pessoas e das empresas, como o fechamento de fronteiras, escolas, lojas, hotéis, entre outros, além de submeter populações inteiras a regimes estritos de quarentena para reduzir o contágio. Será que tudo isso é mesmo necessário?
Para começar, é preciso admitir que somos todos aprendizes, assustados com o tamanho da tragédia e da vulnerabilidade humana, tentando contribuir na montagem de um quebra-cabeça cujas peças estão espalhadas pelo mundo todo. Contamos com lições de episódios passados, com o conhecimento acumulado pelos infectologistas e epidemiologistas, e com as informações cotidianas sobre o que está acontecendo nos países onde a doença começou antes. Sobre o presente, o maior desafio é buscar padrões médios de comportamento do vírus, das pessoas, das ações dos governos, com o objetivo de não repetir erros. Tarefa sempre arriscada dada a velocidade dos acontecimentos, mas alguns números ajudam a tomada de decisões.
Cristina Pinottié graduada em administração pública pela EAESP-FGV e cursou o doutorado em economia na FEA-USP. É sócia da A.C. Pastore & Associados desde 1993. Antes trabalhou nos departamentos econômicos do BIB-Unibanco, Divesp e MB Associados. Concentra seus trabalhos na análise da macroeconomia brasileira, com ênfase em temas da política monetária, relações do país com a economia internacional, e planos de estabilização. Nos últimos anos tem se dedicado ao estudo da teoria da corrupção e da história da operação Mãos Limpas, na Itália. É autora de diversos artigos e livros. Escreve mensalmente às sextas-feiras.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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