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Paulo Paim

13 de maio: um país em débito com sua própria história

08 de maio de 2020

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Passados 132 anos da abolição da escravatura, a desigualdade, a injustiça e a violência continuam a impactar de forma desproporcional a população negra do Brasil

O jornalista Juremir Machado da Silva nos brindou, em 2017, com uma obra que eu considero um clássico da nossa história: “Raízes do conservadorismo brasileiro — A abolição na imprensa e no imaginário popular”, da Editora Civilização Brasileira. Baseado em análises de discursos políticos e jornalísticos, ele identifica o contexto da assinatura da Lei Áurea, ocorrida em 13 de maio de 1888.

Passados 132 anos, ele lança a seguinte afirmativa: há um espectro que ainda ronda a nossa sociedade. “A dívida com os descendentes de escravos ainda não foi paga. O preconceito (mal) dissimulado tenta evitar esse acerto de contas. Um universalismo abstrato é usado como chicote contra os que falam de situações concretas. Mas é questão de tempo. A história não para de exumar cadáveres. Não há mais trégua para a infâmia”.

O povo negro de hoje continua largado à própria sorte e banido dos capítulos da cidadania e da inclusão social. Continua vivendo em cativeiro. São homens e mulheres sem emprego e renda, sem moradia digna, sem escolas, sem atendimento adequado de saúde. São vítimas da fome, da miséria, da pobreza, sem o mínimo de dignidade humana. As poucas políticas públicas que ainda existem estão sendo aniquiladas ou jogadas para debaixo do tapete, como o sistema de cotas e o Estatuto da Igualdade Racial.

O Brasil é um oceano de desequilíbrio social e econômico. Segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas), faz cinco anos que a desigualdade e a concentração de renda aumentam. A metade mais pobre viu sua renda diminuir 17,1%; a classe média, que ocupa 40% do restante da população, teve perdas de 4,16%; e os 10% mais ricos viram sua renda crescer 2,55%. Levando em conta o 1% dos mais ricos, o aumento é ainda maior e o número chega a 10,11%.

E se a desigualdade, as injustiças e a violência aumentam em nosso país, elas também têm cor, nome e sobrenome: é preta. A população brasileira é composta, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 53% de pretos e pardos. Entre os 10% da população mais pobres do país, 76% são negros. Entre o 1% mais rico, apenas 17,4% são negros. São mais de 70 milhões que vivem na pobreza e na extrema pobreza.

Paulo Paim

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