Temas
Compartilhe
Poucos pesadelos se comparam, acho, ao caso das cinco pessoas a bordo desse submarino turístico, o Titan, perdido a caminho de sua expedição aos destroços do Titanic.
Ficar dentro de uma cápsula na escuridão do mar, sem ter como comunicar-se com o mundo, e ver o oxigênio se exaurindo a cada minuto; ter essa situação prolongada durante dias, durante os quais a própria esperança é uma crueldade – isso é sem dúvida pior do que ser enterrado vivo. Estar na companhia de outros, numa hora dessas, só serve para aumentar o desespero.
Acredito que qualquer pessoa, ao saber dessa história, tenha respirado um pouco mais fundo, na gratidão do oxigênio que recebe.
Não quero diminuir, portanto, a solidariedade humana que esse episódio naturalmente desperta. Mas reflito um pouco sobre o significado dessa expedição – e me revolta o fato de que seja tão gratuita.
Ver o Titanic afundado? Tenho curiosidade, é claro, pelas fotos e vídeos que se possam tirar do naufrágio. Há beleza nelas: peixes circulam indiferentes pelo cenário da tragédia. O navio, em si, nunca teve vida própria; era uma máquina, um aparelho – mas é só agora, coberto de algas e ferrugem, que parece morto.
Marcelo Coelhoé jornalista, com mestrado em sociologia pela USP (Universidade de São Paulo). Escreveu três livros de ficção (“Noturno”, “Jantando com Melvin” e “Patópolis”), dois de literatura infantil (“A professora de desenho e outras histórias” e “Minhas férias”) e um juvenil (“Cine Bijou”). É também autor de “Crítica cultural: teoria e prática” e “Folha explica Montaigne”, além de três coletâneas com artigos originalmente publicados no jornal Folha de S.Paulo (“Gosto se discute”, “Trivial variado” e “Tempo medido”).
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
Navegue por temas