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Já bem crescidinho, eu não conseguia ver um filme de terror até o fim. Só comecei a gostar quando percebi que alguns eram tão mal-feitos que não me assustavam mais.
Virou uma espécie de teste. A TV Bandeirantes, naqueles anos de preto e branco, tinha seu “Cine Mistério” toda sexta-feira, batendo na meia-noite. Lá estava eu, na casa em silêncio, tentando me mostrar superior ao que via, isto é, tornar-me sujeito em vez de objeto, o que é sinônimo, quem sabe, de crescer.
Com filmes policiais, acontece algo parecido. Acho que não sou o único que, numa história de Agatha Christie, julga-se capaz de descobrir quem foi o assassino. Não é só entretenimento: é jogo também, e não nego que possa haver uma frustraçãozinha quando me vejo enganado até o fim.
De forma geral, não me estatelo completamente. Claro que 200 detalhes são impossíveis de prever, mas o meu suspeito, na maioria dos casos, não escapa livremente.
Só que isso não é mérito meu: o problema está nas adaptações cinematográficas – e acho que, ao contrário dos mistérios de Poirot, isso não tem solução.
Marcelo Coelhoé jornalista, com mestrado em sociologia pela USP (Universidade de São Paulo). Escreveu três livros de ficção (“Noturno”, “Jantando com Melvin” e “Patópolis”), dois de literatura infantil (“A professora de desenho e outras histórias” e “Minhas férias”) e um juvenil (“Cine Bijou”). É também autor de “Crítica cultural: teoria e prática” e “Folha explica Montaigne”, além de três coletâneas com artigos originalmente publicados no jornal Folha de S.Paulo (“Gosto se discute”, “Trivial variado” e “Tempo medido”).
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.
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