Em 1972, uma boa surpresa chegava ao mundo da música erudita. Tinha sido descoberta – e acabava de ser gravada, pelo pianista Éric Heidsieck – uma sonata inédita de Félix Mendelssohn-Bartholdy (1809-1847).

Certo, as obras para piano solo de Mendelssohn raramente atingem o nível de genialidade de sua abertura para “Sonho de uma noite de verão” (que ele compôs aos 17 anos), de seu octeto, op. 20 (escrito um ano antes), de seu concerto para violino ou de sua quarta sinfonia.

Mas o repertório clássico do piano, que já contava com as “Canções sem palavras”, as “Variações sérias” e o “Rondò capriccioso”, podia encontrar na recém-descoberta “Sonata de Páscoa”, em quatro movimentos, um belo acréscimo ao conjunto da obra mendelssohniana.

Só que a sonata… não era dele. O disco foi publicado, algumas pessoas duvidaram. A sonata poderia bem ser de Fanny Mendelssohn (1805-1847), a irmã mais velha de Félix, também pianista e autora de algumas composições. O pessoal da gravadora e o pianista insistiram: não, não, uma mulher seria incapaz de escrever passagens tão vigorosas e encadear este ou aquele acorde com tanta ousadia e, ah, tanta masculinidade…

Um excelente documentário, feito por Sheyla Hayman (descendente dos Mendelssohn) e lançado em 2023 no Reino Unido, conta o verdadeiro trabalho de detetive que, durando quase 15 anos, terminou provando que a sonata era mesmo de Fanny Mendelssohn.