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Filipe Campante

Os problemas do governo vão muito além da comunicação

22 de janeiro de 2025

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É tentador para qualquer governo atribuir impopularidade a problemas de comunicação, mas investir no marketing não será solução. Pior: no ambiente de informação atual, mesmo governar melhor pode não ser suficiente

O começo de ano na política brasileira foi marcado por dois acontecimentos relacionados entre si. No dia 14 de janeiro, houve a posse do novo secretário de Comunicação Social do governo Lula, o publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha vitoriosa do presidente em 2022. Isso representaria uma tentativa de recomeço – um “reset”, como se diria na Faria Lima – de uma das áreas mais castigadas pelo próprio governo e aliados: todos parecem concordar que um dos grandes problemas da atual administração seria a incapacidade de comunicar suas ações e conquistas.

Concomitante a isso, desenrolava-se o segundo acontecimento, a crise do “caso Pix”. Surpreendido e atropelado por uma reação negativa a partir das redes sociais ao que parecia ser uma mudança comezinha nos protocolos de fiscalização de movimentações financeiras, o governo voltou atrás em aparente pânico.

Ironicamente, o episódio do Pix ilustra que o problema da comunicação, por assim dizer, vai muito além da comunicação. Nada indica que ele será resolvido por uma mudança de estratégia de marketing.

Não se trata aqui de dizer o óbvio: é bastante típico que governos que se veem em situações políticas desconfortáveis coloquem a culpa nessa seara. “Estamos fazendo um trabalho fantástico, o problema é que não estamos conseguindo comunicar!” é algo que deve ter sido dito pelos assessores de Hamurábi na antiga Babilônia – e provavelmente já era um clichê à época. É claro que, como todo governo (Hamurábi incluído), o de Lula enfrenta problemas e desafios concretos, e nunca é bom sinal quando o foco pousa no marketing.

Como tem acontecido com enorme frequência nos últimos anos, vejo nos percalços de comunicação no Brasil um paralelo evidente com a situação política nos Estados Unidos. Já tracei neste espaço uma comparação entre Lula e o PT, de um lado, e o agora ex-presidente Joe Biden e o Partido Democrata norte-americano, de outro. Esta é outra faceta dessa simetria.

Filipe Campanteé Bloomberg Distinguished Associate Professor na Johns Hopkins University. Sua pesquisa enfoca temas de economia política, desenvolvimento e questões urbanas e já foi publicada em periódicos acadêmicos como “American Economic Review” e “Quarterly Journal of Economics”. Nascido no Rio, ele é PhD por Harvard, mestre pela PUC-Rio, e bacharel pela UFRJ, todos em economia. Foi professor em Harvard (2007-18) e professor visitante na PUC-Rio (2011-12). Escreve mensalmente às quintas-feiras.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do Nexo.

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