Tribuna

Mara Gabrilli

Não há democracia sem respeito à imprensa

20 de março de 2020

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Quando um político usa sua voz para ir contra jornalistas, ele incentiva a intolerância e ameaça a liberdade de expressão

Friedrich Nietzsche dizia que o modo mais seguro de se corromper um jovem é instruí-lo a manter uma estima mais alta por aqueles que pensam como ele do que por aqueles que pensam diferente.

Em meados de 1800, o filósofo alemão já antevia um comportamento nocivo, que nunca foi tão latente quanto nos dias de hoje em nossa sociedade: pessoas estão reduzindo sua forma de ver o mundo a uma única perspectiva — e, muitas vezes, a defesa de um ponto de vista unilateral parte de alguém que ocupa um cargo público.

Certos políticos estão perdendo — alguns talvez nunca tenham tido — sua capacidade de dialogar com todos os segmentos da sociedade, sobretudo com a imprensa, que deve garantir controle da agenda pública e informação com independência e imparcialidade.

É a imprensa uma das maiores responsáveis por construir a ponte entre o Poder Público e o público de fato. Quando um político abre mão desse instrumento e não respeita o papel do jornalismo, um dos quais é justamente contrapor ideias, ele está desestimulando seu povo a pensar, ter senso crítico e capacidade de analisar questões que afetam sua própria vida. Mais ainda: quando um político usa sua voz e alcance para desconstruir o papel de profissionais da imprensa, ele incentiva a intolerância entre as pessoas.

De acordo com levantamento de 2018 do Instituto Ipsos, a polarização política no Brasil atingiu um nível elevado de intolerância. O estudo apontou que os brasileiros estão menos propensos a aceitar as diferenças e que o radicalismo é alto nas discussões político-partidárias. Segundo o instituto, 32% dos brasileiros acreditam que não vale a pena tentar conversar com pessoas que tenham visões políticas diferentes das suas. Estamos bem próximos do topo do ranking, liderado pela Sérvia, país com histórico de guerras e conflitos, cuja realidade é totalmente discrepante à do brasileiro.

Mara Gabrilli

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