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Céli Regina Jardim Pinto
Este ensaio é o sexto de uma série sobre o primeiro ano de Jair Bolsonaro na Presidência – e é parte de uma parceria entre o ‘Nexo’ e a Associação Brasileira de Ciência Política. O texto busca analisar as forças que compõem o atual governo
Interpretar o governo Bolsonaro como um fracasso é um equívoco perigoso. Ao mesmo tempo, anunciá-lo como a vitória definitiva de um projeto autoritário-fascista é igualmente equivocado.
O projeto do governo é inserir o Brasil no neoliberalismo profundo, riscando do mapa a presença do Estado na economia e nas políticas públicas sociais.
Bolsonaro tem importância relativa nesse projeto. É uma figura caricata, violenta, inculta, mas que interpela com êxito largas parcelas da população. A Presidência caiu no seu colo como um prêmio de loteria. É transparente que ele não tem ideia do que é ser presidente da república, mas isso tem pouca importância para o projeto. Certamente é foco de chacota em encontros internacionais, mas há cinismo nisso. Ao mesmo tempo que deve ser desconfortável para o sofisticado Macron, a cientista Merkel ou o milionário Trump conviver com Bolsonaro, eles sabem que o ex-tenente é um peão importante no xadrez do imperialismo capitalista do século 21.
O governo se organiza com muita esperteza para cumprir esse papel. Enganam-se os que imaginam que estamos frente a dois governos paralelos, um competentemente neoliberal e técnico, outro culturalmente obscuro e ideológico. Essa divisão é falsa e serve a muitos interesses.
A equipe econômica aparece como respeitável para todos os setores conservadores do país: os empresários de diferentes plumagens e a grande mídia, mesmo as que Bolsonaro “detesta”, como a Globo e a Folha. Na última, colunas de opinião dão chances a críticas, já na Globo, mesmo em sua versão mais sofisticada, a Globonews, as reformas propostas pelo governo são anunciadas por todos os seus jornalistas como necessárias e bem-vindas. Nisso a mídia é uma aliada importante do Poder Legislativo, liderado pelo hábil Rodrigo Maia na Câmara dos Deputados, que articula a aprovação de reformas ultraconservadoras. O governo teve uma importante vitória com a aprovação da reforma da Previdência e certamente outras virão.
Os artigos publicados no nexo ensaio são de autoria de colaboradores eventuais do jornal e não representam as ideias ou opiniões do Nexo. O Nexo Ensaio é um espaço que tem como objetivo garantir a pluralidade do debate sobre temas relevantes para a agenda pública nacional e internacional. Para participar, entre em contato por meio de ensaio@nexojornal.com.br informando seu nome, telefone e email.