A prematuridade e os desafios que vão além do nascimento

Ensaio

A prematuridade e os desafios que vão além do nascimento
Foto: kqedquest/Flickr

Denise Suguitani


05 de abril de 2025

Ponto importante para o desenvolvimento do prematuro é a garantia de práticas humanizadas, centradas na família, feitas de forma individualizada para cada bebê, por especialistas, integrando atenção primária em saúde com a atenção hospitalar

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A prematuridade é uma realidade que atinge diretamente ao menos um em cada dez nascimentos no Brasil, representando 11% dos partos e impactando cerca de 300 mil famílias todos os anos. Esses números representam vidas, histórias e desafios que precisam de atenção e ação imediata, pois trata-se de questão que vai além de estatísticas; é um apelo pela defesa da mulher, pela proteção da maternidade e pelo amparo às crianças em situação de maior fragilidade.

Um dos desafios que envolvem essa problemática é a prevenção à gestação na adolescência. No país, um em cada cinco bebês nasce de mães adolescentes, e as complicações da gravidez e do parto são a principal causa de mortalidade entre meninas com menos de 15 anos.

Também se faz urgente um olhar mais atento às políticas de planejamento reprodutivo, ao acesso ao pré-natal de qualidade, além da redução de cesarianas desnecessárias. É necessário, ainda, garantir apoio às mães e às famílias, considerando as vulnerabilidades biopsicossociais que frequentemente cercam esses contextos.

Cuidar dos prematuros é cuidar do futuro, afinal, esses bebês representam uma parcela significativa das próximas gerações

As adversidades dos prematuros ultrapassam o momento do nascimento. Desde o primeiro momento, esses bebês enfrentam condições que podem comprometer seu desenvolvimento físico, social, emocional e cognitivo ao longo da vida. A presença constante dos pais, aliada ao cuidado compartilhado durante a internação do prematuro na UTI Neonatal, além de um direito, são fundamentais para o desenvolvimento da criança, com evidências científicas de neuroproteção, favorecimento do vínculo, mais chances de sucesso na amamentação e alta precoce.

Outro ponto importante para o desenvolvimento do prematuro é a garantia de práticas humanizadas, centradas na família, feitas de forma individualizada para cada bebê, por especialistas, integrando atenção primária em saúde com a atenção hospitalar, conforme diretrizes da nossa PNAISC (Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança).

Cuidar de quem cuida também é fundamental. Profissionais de saúde e assistência social precisam de sensibilização e capacitação diferenciada para lidar com a complexidade dos aspectos envolvidos no cuidado de um prematuro e de sua família. Além disso, o apoio à saúde mental das famílias é vital, pois a experiência da prematuridade deixa marcas emocionais de longo prazo.

Com tantos desafios, é urgente a construção de um Plano Nacional Intersetorial de Atenção à Prematuridade. Essa proposta busca avaliar as políticas públicas existentes, identificar lacunas e implementar avanços que reduzam os partos prematuros evitáveis e garantam os direitos e os melhores cuidados aos bebês e suas famílias. Entre as prioridades desse Plano estão apoiar a ampliação do acesso e a qualificação do pré-natal, a promoção de partos seguros e respeitosos, a garantia de acesso aos melhores e mais modernos equipamentos, medicamentos e terapias para todos os prematuros, além de equidade no acesso às vacinas específicas para prematuros.

É um instrumento que visa agregar diversos atores para construir planos de ação coordenados e colaborativos, com participação ativa das famílias de prematuros, buscando mitigar iniquidades étnico-raciais, de gênero e geográficas.

Cuidar dos prematuros é cuidar do futuro, afinal, esses bebês representam uma parcela significativa das próximas gerações, e garantir seus direitos é investir em um país mais justo e igualitário. O momento de agir é agora, unindo ciência, compromisso e afeto genuíno.

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Denise Suguitani é diretora executiva da Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com, única organização sem fins lucrativos dedicada, em âmbito nacional, à prevenção do parto prematuro e à garantia dos direitos dos prematuros e de suas famílias.

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