Debate
Marden Campos e Rômulo Damasceno
A Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 coletou, juntamente com as informações de saúde, dados sociodemográficos de indivíduos e domicílios. Essas informações nos permitem estimar o número de pessoas que são mais vulneráveis ao novo coronavírus
Muito se fala do chamado grupo de “risco biológico” da covid-19, que englobaria os idosos e aqueles que têm doenças crônicas como diabetes e hipertensão arterial, entre outras. Tais características favorecem o desenvolvimento de formas graves da doença e, consequentemente, maior propensão ao óbito. Pouco se discute, no entanto, sobre o tamanho do grupo de risco e a magnitude do esforço que precisaria ser feito para sua proteção.
Diversos tipos de levantamentos foram feitos nos últimos anos para dimensionar a incidência de doenças crônicas no Brasil. A Pesquisa Nacional de Saúde , de 2013, tem a vantagem de ter coletado dados sociodemográficos juntamente com as informações de saúde, além de características do trabalho e rendimento dos indivíduos.
Segundo seus resultados, em 2013, 4,4% da população brasileira sofria simultaneamente de diabetes e hipertensão, enquanto 19,9% eram só hipertensos e 2,6% eram só diabéticos. Somadas, as duas enfermidades atingiam 27% dos brasileiros, num total de 34,7 milhões de indivíduos. Como a pesquisa foi realizada há sete anos, período no qual estima-se que a população brasileira aumentou em 5,8%, o grupo de risco hoje teria acréscimo de mais 2 milhões de indivíduos aos identificados na coleta da pesquisa, totalizando 36,7 milhões.
A incidência dessas doenças é altamente sensível à idade da pessoa. Somadas, diabetes e hipertensão atingiam apenas 4,3% dos que tinham entre 18 e 29 anos de idade, 25,3% daqueles com 30 a 59 anos de idade e 58,3% daqueles com 60 anos ou mais de idade. Como se pode notar, a inclusão dos idosos no grupo de risco da covid-19 deve-se, em grande parte, à probabilidade de possuírem tais comorbidades e não apenas à idade propriamente dita.
O ambiente doméstico é bastante favorável à contaminação pelo coronavírus, fato que indica a necessidade de proteção de todo o grupo familiar daqueles que pertencem ao grupo de risco da doença. Para garantir a segurança “apenas” dos idosos e dos hipertensos e diabéticos, estaríamos falando de mais de 46 milhões de indivíduos. Estendendo a proteção a seus familiares, acrescentaríamos mais 46,5 milhões de indivíduos no grupo vulnerável, alcançando um total de 92 milhões de pessoas ou 46% da população em 2013. Atualmente, esse número seria ainda maior.
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