O Nexo apresenta a história e o legado de cinco mulheres negras que tiveram papel decisivo na política, na cultura e na ciência do Brasil. A segunda da série é Carolina Maria de Jesus
nasceu em 1914 em Sacramento, Minas Gerais
Filha de lavradores, com 9 anos já trabalhava no campo com seus pais. Estudou apenas por dois anos, na primeira escola espírita do Brasil, o colégio Allan Kardec
Mapa do Brasil
de 1940. IBGE
Carolina e sua mãe viveram em algumas cidades, como Lajeado, Franca e Conquista. Trabalharam na roça e fazendo serviço doméstico. Com a morte da mãe, em 1937, Carolina foi para São Paulo
Mapa da antiga favela do Canindé em 1952.
Arquivo da Prefeitura de São Paulo
Na década de 1940, passou a morar na favela do Canindé. Ganhava o sustento de seus três filhos catando papel. Foi com uma caderneta encontrada no lixo que ela passou a registrar seu cotidiano em diários
Em 1958, o jovem fotógrafo e repórter Audálio Dantas foi à favela do Canindé, onde conheceu Carolina
Ele escreveu uma reportagem sobre a autora e trechos do diário de Carolina foram publicados em um jornal de grande circulação da época, a Folha da Noite
Dois anos depois, Carolina publicou seu primeiro livro: “Quarto de despejo”. A obra alcançou grande sucesso, com mais de 100 mil exemplares vendidos em 1960
Capa da primeria edição de “Quarto de despejo – Diário de uma favelada”. Publicado pela editora Francisco Alves em 1960
O reconhecimento literário
Carolina foi homenageada pela Academia Paulista de Letras. E na Argentina foi agraciada com a "Orden Caballero Del Tornillo". Ao todo, sua obra foi traduzida para 29 idiomas e vendida em mais de
40 países
Países em que se publicou
a obra de Carolina Maria
Seus livros continuam sendo publicados décadas depois da sua morte, com milhares de leitores pelo mundo
Quarto de despejo - Diário de uma favelada
Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada
Depois do sucesso de “Quarto de despejo”, Carolina mudou-se da favela do Canindé para a região de Santana, na zona norte de São Paulo. Mas os livros seguintes não alcançaram a mesma fama do primeiro. Carolina continuou escrevendo, porém teve menos espaço no mercado editorial brasileiro
A literatura de Carolina retratou as lutas das pessoas que vivem nas favelas, dando voz a personagens marginalizadas e abrindo caminhos para autores negros no Brasil e em todo o mundo
A autora está nas leituras obrigatórias para o vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) desde 2017
Ela também atuou como cantora: lançou um disco homônimo do seu livro, “Quarto de despejo”, em 1961. É possível ouvi-lo aqui
Carolina morreu em 1977, vítima de uma crise de asma, no seu sítio na zona sul de São Paulo, onde morava com os filhos